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O regresso dos suecos GRAVEYARD a Lisboa ficou marcado pela intensidade do rock clássico e também pela solidez da cena nacional, com os MISS LAVA a abrirem caminho de forma explosiva.

Numa semana repleta de concertos pela capital, o último Sábado, 26 de Abril, ficou reservado para uma celebração do rock em duas frentes distintas, mas complementares: o stoner musculado dos portugueses MISS LAVA e o rock psicadélico revivalista dos suecos GRAVEYARD. A Sala 2 do LAV – Lisboa Ao Vivo, foi o epicentro de uma noite em que o passado e o presente se cruzaram através de duas actuações intensas e memoráveis.

Coube aos MISS LAVA a tarefa de abrir as hostilidades — e fizeram-no com convicção, peso q.b. e uma presença em palco que deixou marca. A banda lisboeta aproveitou o concerto para apresentar ao público cinco temas do novo álbum, «Under A Black Sun», começando logo com o tema-título, seguido de uma sequência implacável: «Woe Warrior», «Evil Eye Of A Witch», «Neon Gods» e «Dark Tomb Nebula». Foi um arranque avassalador que revelou a força criativa desta nova fase do grupo.

Com uma formação ligeiramente renovada, os MISS LAVA subiram ao palco com Pedro Gonçalves na bateria — músico que também participou nas gravações do novo disco — e Hugo Jacinto na guitarra. A dupla juntou-se ao núcleo habitual composto por Johnny Lee na voz, K. Raffah na guitarra e Ricardo Ferreira no baixo, e juntos criaram uma parede sonora densa, vibrante e fisicamente arrebatadora. O som, equilibrado, mas poderoso, envolveu toda a sala e fez vibrar o corpo dos presentes com uma intensidade quase física.

A fechar o espectáculo, as, por esta altura, já incontornáveis «Arms Of The Freaks» e «Doom Machine» fizeram o público entrar em ebulição e, graças a esta performance, os MISS LAVA não só apresentaram o seu novo álbum como deixaram um legado difícil de superar para quem se seguisse em palco.

Sem se deixarem intimidar pela energia dos anfitriões nacionais, os GRAVEYARD entraram em palco com a serenidade de quem sabe exactamente ao que vem. A banda sueca regressou a Lisboa para continuar a apresentar o seu mais recente álbum, «6», editado em Setembro de 2023. Contudo, o alinhamento não se limitou a esse registo: foram os álbuns «Hisingen Blues» e «Peace» que dominaram a noite, com quatro temas de cada disco, para gáudio dos fãs de longa data.

Assim, o concerto começou com «Twice», retirada do último LP, mas rapidamente se transformou numa viagem equilibrada pela discografia do grupo — com exceção feita ao disco de estreia, que ficou de fora. Num palco despido de grandes adornos, apenas com um backdrop simples, os GRAVEYARD mostraram o porquê de continuam a ser uma referência do hard rock moderno de inspiração setentista. A sua actuação provou que, quando a música é honesta e bem executada, não são necessários quaisquer artifícios visuais ou malabarismos cénicos.

O vocalista e guitarrista Joakim Nilsson manteve-se fiel ao seu estilo introspectivo, quase torturado, com poucas palavras e um semblante carregado que parece carregar o peso emocional de cada canção. Já Truls Mörck, no baixo, assumiu uma postura mais descontraída e comunicativa, criando um contraste que funciona muito bem em palco. A secção rítmica manteve tudo bem coeso, servindo de base sólida para os solos e dinâmicas melódicas que definem o som dos GRAVEYARD.

O encore, composto por «Walk On», «Ain’t Fit To Live Here» e «The Siren», foi o culminar de uma noite intensa. O público, esse, saiu visivelmente rendido a uma banda que continua a crescer sem nunca perder o rumo.