Com a estreia «Climax», os Beastmilk assinaram um dos lançamentos mais badalados do ano passado, reunindo consenso entre metaleiros, punks, góticos e miúdos indie. No entanto, 2015 marcou o fim de uma era – e o início de uma nova – com o vocalista Mat “Kvohst” McNerney e o baixista Valtteri Arino a separarem-se do guitarrista Johan “Goatspeed” e a juntaram-se a Linnéa Olsson (ex-The Oath) e Juho Vanhanen (dos Oranssi Pazuzu). nas guitarras e Uno Bruniusson (ex-In Solitude) na bateria para criarem os GRAVE PLEASURES. Numa destas tardes quentes de Verão, Mat, o mentor do projecto, dispensou-nos um pouco do seu tempo para analisar estas transformações e antecipar a estreia em Portugal, já na próxima sexta-feira, dia 28 de Agosto, no Reverence Valada.
“Estou constantemente ocupado e, às vezes, nem sei bem para onde me virar”, diz o músico entre risos via Skype. “Fui pai há pouco tempo, e qualquer pessoa que já tenha tido um filho sabe que as crianças são uma ‘ocupação’ a tempo inteiro. Além disso, tenho estado a trabalhar afincadamente no novo disco dos Hexvessel, que são o meu outro projecto. Basicamente, acabámos de gravar o álbum com os Grave Pleasures e fui enfiar-me novamente no estúdio – mais ou menos na mesma altura fui pai e comecei a renovar a minha casa nova. Se calhar não foi a atitude mais acertada, mas pronto… Prefiro viver assim, em ritmo non stop, do que estar sentado no sofá sem fazer nada”.
Chega a ser incrível como arranjas tempo para tudo.
É, não é? [risos] No que toca às bandas nem sequer tenho muito tempo para racionalizar as coisas, por isso é muito bom ter tudo planeado de antemão. Já andava a trabalhar no disco novo dos Hexvessel há algum tempo, mas entretanto lançámos o álbum com os Beastmilk, as pessoas reagiram muito bem e começámos a ser cada vez mais requisitados, por isso tive de repensar os meus planos. Acabámos por passar grande parte do último ano ocupados com concertos e, agora que havia um período mais calmo antes de partirmos em digressão com os Grave Pleasures, não quis perder a oportunidade de terminar o álbum dos Hexvessel. Felizmente, de há uns tempos para cá comecei a poder dar-me ao luxo de viver profissionalmente da música e ainda bem, porque se tivesse de manter um emprego das nove às cinco, provavelmente já tinha tido de abrir mão de algum dos meus projectos.
Muito se tem especulado acerca do final dos Beastmilk. Afinal, o que se passou?
Basicamente… [pausa] Bem, não há nada de básico em relação ao que se passou, mas… Os Beastmilk nunca foram uma banda a sério, digamos assim. Juntámo-nos e decidimos criar o projecto quase como se fosse uma anti-banda, mas o tiro saiu-nos obviamente pela culatra. [risos] Infelizmente, à medida que começámos a ser mais requisitados, começámos a perceber que havia algumas fissuras profundas no grupo. No início não tínhamos quaisquer expectativas em relação a nada, mas as coisas começaram a acontecer e, às tantas, percebemos que havia efectivamente público para os Beastmilk. Tivemos de repensar tudo e decidimos seguir em frente, mas tornou-se rapidamente óbvio que não estávamos todos em sintonia.
O Johan não partilhava as tuas ambições, era isso?
Sim. Eu quero sempre mais e vi ali uma oportunidade que, depois de tantos anos a tocar em bandas, tinha de agarrar, mas o Johan não tinha ambição absolutamente nenhuma em relação ao que podíamos fazer com os Beastmilk. Às tantas, já não conseguíamos concordar em relação a nada… A direcção dos novos temas não lhe agradava, as digressões também não e, para ele, a hipótese de assinarmos com uma editora como a Sony Music era uma afronta. Tentámos tudo para que as coisas funcionassem, mas eventualmente tornou-se óbvio que, para seguirmos em frente, tínhamos de seguir caminhos distintos.
Podemos, então, olhar para os Grave Pleasures como uma continuação dos Beastmilk?
Mais ou menos. O «Dreamcrash» dá continuidade à narrativa dos Beastmilk, que tinham uma vibração muito apocalíptica. Desta vez decidi concentrar-me no que se passa depois do Apocalipse, explorando a imagética do que seria uma sociedade em ruínas, bastante diferente daquela em que vivemos hoje em dia. No entanto, os Grave Pleasures são uma banda totalmente diferente em todos os aspectos. A partir do momento em que o Uno se juntou à banda sentimos que tinha trazido consigo uma abordagem e uma atitude muitíssimo refrescantes e, como esteve muito envolvido a nível dos arranjos, as influências dele acabam por notar-se bastante no resultado final.
A criação dos Grave Pleasures representa, de certa forma, um novo começo para ti?
É e não é. Por um lado, eu e o Valtteri fazíamos parte dos Beastmilk e, se calhar, as pessoas não sabem disto, mas a Linnéa já fazia parte da banda antes de nos separarmos, por isso três membros dos Grave Pleasures já estavam a trabalhar juntos antes de criarmos o grupo. Os únicos elementos novos desta equação são o Uno e o Juho, dois músicos incrivelmente talentosos que sopraram a lufada de ar fresco de que estávamos mesmo a precisar e que contribuírem imenso para o que fizemos no «Dreamcrash». Feitas as contas, é como ter um melhor de dois mundos… Por um lado já havia uma química boa entre mim, o Valtteri e a Linnéa e, por outro, o Uno e o Juho elevaram as coisas a outra dimensão.
Então o que podemos esperar da vossa actuação no Reverence Valada?
Bem, os Grave Pleasures são uma banda muito mais coesa e competente do que os Beastmilk alguma vez foram, por isso as pessoas vão ter oportunidade de ouvir os temas do «Climax» tocados da forma mais competente possível… Em termos de alinhamento será, certamente, excitante. Vamos tocar uma série de temas que o público já conhece, mas vamos aproveitar também para interpretar material do «Dreamcrash» e isso vai dar origem a um alinhamento dinâmico e muito interessante. Uma coisa posso, desde já, garantir – actualmente a nossa química em palco é melhor do que alguma vez foi, conseguimos criar uma atmosfera verdadeiramente eléctrica entre os cinco e, como resultado disso, transformámo-nos num grupo muito enérgico em palco. Eu, pelo que me toca, já sei que vou passar o nosso espectáculo a dançar como um louco idiota, por isso espero que as pessoas façam o mesmo na plateia. [risos] Vai ser um prazer enorme tocar em Portugal; tanto a comida como as pessoas são espectaculares e, além disso, o país é lindíssimo.
Os GRAVE PLEASURES actuam no Palco Rio do Reverence Valada às 17:30 da próxima sexta-feira, dia 28 de Agosto. Do cartaz fazem também parte os Sleep, The Horros, Ufomammut, The Jon Spencer Blues Explosion, Process Of Guilt e Bizarra Locomotiva, entre muitos outros.