GOJIRA e Robb Flynn, dos MACHINE HEAD, fazem justiça ao peso de um dos temas mais icónico dos brasileiros SEPULTURA.
No passado Sábado, 19 de Julho, o Release Athens Festival foi palco de um momento especial para os fãs de metal de todo o mundo. Os franceses GOJIRA surpreenderam a audiência ao receberem em palco Robb Flynn, dos MACHINE HEAD, para uma interpretação conjunta de «Territory», clássico intemporal dos brasileiros SEPULTURA. O momento coincidiu com o 58.º aniversário do guitarrista e vocalista norte-americano, que partilhou as vocalizações com Joe Duplantier e assumiu também a guitarra rítmica.
Mais que uma simples versão ao vivo, esta colaboração entre dois dos maiores nomes do metal moderno representou um gesto de reconhecimento profundo da importância histórica que os SEPULTURA têm — especialmente no desenvolvimento artístico dos GOJIRA. Num espectáculo já marcado pela dose habitual de intensidade da banda francesa, a inclusão da clássica «Territory» na setlist trouxe um peso acrescido e arrancou aplausos da audiência grega, que respondeu com entusiasmo à surpresa.
A escolha da canção não foi, de resto, aleatória. Ao longo dos anos, Joe Duplantier tem falado inúmeras vezes sobre a influência marcante que os SEPULTURA exerceram sobre o som e a formação da identidade dos GOJIRA. Numa entrevista ao canal brasileiro Multishow, em Setembro de 2022, o vocalista recordou o impacto do primeiro contacto com a banda de Belo Horizonte: “Lembro-me perfeitamente da primeira vez que ouvi os SEPULTURA, e fiquei literalmente de boca aberta. Estávamos numa fase de desenvolvimento, na adolescência, numa altura em que aquele som despertou algo em nós e inspirou-nos a começar aquilo que fazemos hoje.”
O percurso pessoal de Joe Duplantier com os SEPULTURA começou com o álbum «Arise», descrito pelo próprio como “muito death metal”. Mas foi com os discos «Chaos A.D.» e «Roots» que a banda brasileira, “redefiniu o metal”. “Acho que são uma banda muito, muito importante na história do metal”, sublinhou o músico francês. Essa influência tornou-se ainda mais evidente quando, em 2021, o tema «Amazonia», do álbum «Fortitude» dos GOJIRA, foi várias vezes comparado ao espírito percussivo e tribal do «Roots».
Confrontado com essas semelhanças, Joe não hesitou em reconhecer a dívida artística: “De um a 10? Um sólido sete. Ou talvez 10, porque gosto mesmo muito deles. Os SEPULTURA são uma influência gigante na história dos GOJIRA.” Durante essa mesma entrevista ao Cuartel Del Metal, o vocalista partilhou como a descoberta dos SEPULTURA, após a de bandas como DEATH e MORBID ANGEL, marcou um ponto de viragem.
“Quando comecei a tocar com o meu irmão em casa, depois da escola, decidimos formar a nossa própria banda. Abandonámos os outros projectos e, de repente, apareceu o «Chaos A.D.»… Ficámos completamente deslumbrados. Era fácil de tocar — riffs simples, tudo reduzido ao essencial… Eles disseram tudo com aquele álbum.” Também por isso, a actuação do passado Sábado funcionou como uma homenagem comovente e simultaneamente brutal a esse legado.
Ao lado de Robb Flynn, cuja própria carreira com os MACHINE HEAD também tem raízes no groove e na agressividade dos SEPULTURA dos anos 90, os GOJIRA canalizaram a força e o espírito de uma faixa que se mantém actual quase três décadas após o seu lançamento. O gesto de partilhar o microfone e o palco foi mais do que simbólico: foi uma passagem de tocha entre gerações, unidas pelo respeito a um mesmo ponto de origem.
















