Se há coisa de que não se pode mesmo acusar o “velhote” é de alguma vez se ter sentado à sombra da bananeira. Desde que formou os SEPULTURA, nos idos de 80, Max Cavalera não parou de fazer metal, dos mais variados géneros. Do black/death do «Bestial Devastation» à singularidade tribal do «Roots», passando pelos mutantes SOULFLY, que já fizeram um pouco de tudo, aos diversos projectos que foi criando entretanto, o Max nem por um momento se cansou de expurgar a sua paixão pela música extrema. Pois bem, em tempos de pandemia, o que esperar? Um novo projecto, pois claro. Com Max a dividir a guitarra e as vozes com o filho Igor Amadeus, ambos mostram estar actualizados em relação ao que se passa hoje em dia na música extrema e, como não quer a coisa, apresentam-se com o soberbo Zach Coleman (dos BLACK CURSE e dos KHEMMIS) na bateria. Verdade seja dita, não fosse o som grave e actual, a estreia homónima do trio parece uma relíquia perdida dos dias de glória do thrash, do proto-death e do punk/crust podre. Sempre com o barómetro da brutalidade no máximo.
E sim, há por aqui algum thrash à Sepultura do antigamente, mas há ainda mais culto a Tom G. Warrior ao death metal rudimentar e aos pioneiros do punk d-beat. Temas favoritos? A murraça nas fuças que é a «Truckload Full Of Bodies» logo na abertura, o início à «Scum» da «Prophets Prey», a piscadela de olho meio inesperada aos TERRORIZER na «Roadkill». E sim, a grandeza da «G.A.A.D», que carrega o nome do trio e, em quatro minutos apenas, cruza BOLT THROWER com HELLHAMMER com uma categoria que nos leva a perguntar como é que ninguém se tinha lembrado de fazer isto. Assim. Antes. É aqui que entra o génio de Max, com o seu pendor para a simplicidade que não é simplória, e que o brasileiro tende a injectar sempre nas suas composições. O resultado são temas que, com um pé no passado e uma atitude que é contemporânea, explodem como bombas, directos ao assunto, sem gorduras e com riffs que, mesmo que estejamos em terreno familiar, nos mantêm atentos. [8.5]