GLUECIFER

GLUECIFER de regresso; novo single, intitulado «I’m Ready», já disponível [vídeo-clip]

Depois de duas décadas afastados dos estúdios, os noruegueses GLUECIFER continuam a recusar a lógica do revivalismo fácil e apresentam mais um avanço de «Same Drug New High», com edição marcada para Janeiro de 2026.

Os GLUECIFER acabam de divulgar um vídeo-clip para «I’m Ready», novo tema extraído de «Same Drug New High», o primeiro álbum de estúdio da banda em 21 anos, com edição prevista para 16 de Janeiro de 2026 através da Steamhammer. Longe de funcionar como um “single de regresso” no sentido clássico do termo, a canção afirma-se como mais um passo natural numa trajectória retomada sem dramatismos, explicações retrospectivas ou discursos autocelebratórios.

Para o público em geral, compreender os GLUECIFER implica imaginar um cenário algo improvável: uma banda como os RAMONES ou os MC5 desaparecer durante vinte anos e regressar como se nada tivesse acontecido, sem livros de memórias ou tentativas de romantizar o intervalo. Desde o início, o grupo de Oslo nunca se comportou como se a permanência fosse uma virtude em si mesma. A sua história faz mais sentido quando encarada como uma explosão controlada, intensa e deliberadamente efémera, alheia à forma como poderia vir a ser arquivada.

Já na sequência de «The Idiot» e «Armadas», «I’m Ready» insere-se exactamente nessa lógica. Segundo o vocalista Biff Malibu, trata-se de uma das últimas canções compostas para o álbum: “É uma das últimas músicas que escrevemos para este disco. O Captain Poon já tinha trabalhado uma estrutura de acordes que encaixou muito rapidamente e que nos pareceu ter um tom bem feliz e positivo. Eu acrescentei a letra nessa mesma linha e a canção acabou por se escrever quase sozinha.” A simplicidade do processo reflecte-se no resultado final: um tema directo, confiante e despretensioso, mais interessado em afirmar continuidade do que em sublinhar a ideia de regresso.

Formados em 1994, os GLUECIFER surgiram num momento em que a Noruega se tornava já um sinónimo global de black metal, extremismo estético e episódios quase caricatos envolvendo músicos perdidos em florestas cobertas de neve. A banda escolheu o caminho oposto. Apostou na velocidade, na atitude e numa visão de rock’n’roll que encara o prazer como uma posição filosófica legítima, e não como um vício culpado.

As influências sempre estiveram à vista: a força bruta do punk rock, a postura clássica do rock setentista, a confiança teatral do glam e uma noção muito norte-americana de excesso, tudo filtrado por uma ética de trabalho escandinava que garantia eficácia e impacto. O LP de estreia, «Ridin’ The Tiger», de 1997, deu-nos uns GLUECIFER sem interesse em contenção, crua, veloz e orgulhosamente derivativa sem pedidos de desculpas. «Soaring With Eagles At Night, To Rise With The Pigs In The Morning», de 1998, consolidou o estatuto dos GLUECIFER como principal exportação norueguesa do chamado “action rock”.

https://open.spotify.com/intl-pt/album/5DoNGWwQWzqk8q6VOnf7TJ?si=UbKETCjdTjyLZqkPVdotNA

Com «Basement Apes», o ataque tornou-se mais afiado: canções mais concisas, refrões mais claros e uma identidade sonora cada vez mais física e deliberada. «Tender Is The Savage» alargou ligeiramente esse vocabulário, introduzindo maior atenção à melodia e ao polimento, sem nunca perder a sensação de instabilidade permanente, como se tudo pudesse ruir a qualquer momento. O ciclo fechou-se com «Automatic Thrill», de 2006, um disco que soou simultaneamente a culminação e despedida. Pouco depois, a banda terminou actividades sem dramas públicos ou narrativas de implosão interna. Simplesmente parou.

Esse raciocínio foi reavaliado em 2018, numa recalibração que acabaria por conduzir ao lançamento de «The Idiot», em Setembro passado. O tema marcou o primeiro sinal claro de vida criativa e soou como um murro seco, evocando o peso e a atitude de uns MÖTLEY CRÜE, mas com a excessiva indulgência substituída por conversas à Johnny Cash e uma relação mais responsável com o Jack Daniel’s. Não foi apresentado como um regresso nostálgico, mas como uma correção de rota.

Com «Same Drug New High», que já está disponível para pré-encomenda, os GLUECIFER preparam-se para editar o seu primeiro álbum em mais de duas décadas, sem recorrerem a discursos grandiosos ou revisões mitificadas do passado. «I’m Ready» surge como mais uma prova de que, quando o impulso criativo é reencontrado, o movimento tende a sustentar-se por si próprio — sem necessidade de justificações.