Ontem à noite, o Casino Estoril voltou a viver uma noite de puro rock com a presença do lendário GLENN HUGHES. Sabendo-se de antemão que o foco do concerto seria a comemoração dos 50 anos do clássico «Burn», dos Deep Purple, o disco que marcou o início da Mark III da banda, Hughes ainda passou por «Stormbringer» e «Come Taste The Band», este último o primeiro e único da Mark IV. Foi precisamente ao som de «Stormbringer» que a actuação começou, e percebeu-se de imediato que a voz de Glenn é como um bom vinho. Aliás, ao longo da noite percebemos que o músico continua a cantar de forma imaculada e os seus agudos continuam perfeitos. Seguiram-se então quatro temas de «Burn»; primeiro, «Might Just Take Your Life», depois «Sail Away» – um dos melhores momentos desse disco, com direito a um excelente solo de bateria pelo meio e um momento de improvisação blues –, seguidos de perto por «You Fool No One» e uma interpretação absolutamente sublime de «Mistreated». Em todos os temas ao longo da noite, houve direito a pequenos ou maiores momentos de improviso, que nos levaram numa viagem aos anos 70, altura em que essa prática era uma norma, principalmente no que toca aos Deep Purple. Esse tipo de energia e de momentos que nos levam numa montanha russa de emoções ao longo dos temas é uma arte perdida e Hughes, apoiado pelo baterista Ash Sheehan, pelo guitarrista Soren Andersen e pelo teclista Bob Fridzema, conseguiram fazer-nos recuar no tempo com uma facilidade monstruosa. De resto, euem olhar para o alinhamento ali em baixo vai ver apenas dez canções, mas a verdade é que o quarteto esteve em palco durante duas horas – e foram duas horas que souberam a muito pouco. De «Come Taste The Band» ouviram-se «Gettin’ Tighter»,onde o improviso marcou mais uma vez presença, e «This Time Around», que foi tum dos momentos mais emotivos da noite, com Hughes sozinho na voz, acompanhado por Fridzema nos teclados. Antes de tocar o tema, Glenn referiu que aquela canção tinha sido escrita com Jon Lord às três da manhã e que ficou pronta numa hora. Foi um daqueles momentos de inspiração, que se sentiu bem na pele no Casino Estoril. O baixista/vocalista fez questão de dedicar a actuação aos falecidos Lord e Tommy Bolin, que referiu ser o seu melhor amigo na altura. A terminar, tivemos ainda direito a «You Keep On Moving», em mais um excelente momento onde a voz brilhou e, antes de falarmos do encore, importa destacar Soren Andersen, um guitarrista com muita alma, que provou aqui que não é por acaso que está com Glenn Hughes há quinze anos. Para fechar a noite, e finalmente com o público de pé e a chegar-se à frente de palco numa sala em que todos os lugares eram sentados, ouviu-se «Highway Star», o único tema que não faz parte da lista de canções gravadas por Hughes, e a terminar, para êxtase total, «Burn». Foi uma noite perfeita, com um som muito bem definido, uma banda em topo de forma e um Glenn Hughes a cantar “nas horas”.
ALINHAMENTO: «Stormbringer», «Might Just Take Your Life», «Sail Away», «You Fool No One», «Mistreated», «Gettin’ Tighter», «This Time Around», «You Keep On Moving», «Highway Star», «Burn».