As noites mágicas acontecem. E não são exclusivas a grandes arenas, grandes estádios, grandes promotoras. Até porque a grandeza dos eventos está sobretudo na qualidade e na paixão depositadas em fazer acontecer. A doutrina diz-nos que esta qualidade só está acessível a algo que venha de fora das nossas fronteiras, mas aqui na LOUD! temos comprovado uma e outra vez precisamente o contrário, reportagem após reportagem. Não só pelo talento nacional que mostramos, mas também por essa paixão que é o combustível que permite que noites como estas se realizem quando aquilo que nos é incutido é esperarmos exactamente o contrário. Nesta ocasião, os GLASYA decidiram apresentar ao vivo — e por inteiro — o seu segundo álbum de originais, «Attarghan», no Cinema Teatro Joaquim D’Almeida, um espaço que oferece todas as condições para uma noite inesquecível. A actividade em palco começou com os ALBALUNA, um dos maiores tesouros nacionais em geral e, em particular, no que à world music diz respeito.
A banda vai buscar inspiração a todas as culturas que se cruzaram na rota da seda e assume-se como uma fusão de folk e rock progressivo. O resultado final revela-se apaixonante e que faz o ouvinte viajar, não sendo apenas uma representação de tradições ancestrais mas também a forma de as (re)apresentar ao público de uma forma moderna. Senhores de uma carreira já considerável, e com ilustres passagens por diversos palcos que vão de Macau à Índia, sem esquecer a actividade ao vivo têm no nosso próprio país, deram aqui conta da sua excelência. Não só pela música, de créditos comprovados, mas também graças ao som a que tiveram direito — e que salientou ainda mais a sua qualidade musical. Rúben Monteiro, frontman também encarregue da sanfona, esteve muito comunicativo e não deixou de agradecer pelo convite, acusando também a felicidade proporcionada pela honra que representa para os ALBALUNA poderem estar presentes na celebração de «Attarghan». Tendo em conta a temática do álbum dos GLASYA, foram o aperitivo perfeito para o que viria de seguida.
Poderia pensar-se que, devido a não haver surpresa nenhuma em relação ao alinhamento, o entusiasmo e mesmo a antecipação seriam menores, mas foi precisamente o contrário que encontrámos. Conforme a intro (tema-título) se fazia ouvir, era possível sentir a expectativa a crescer e o climax deu-se com a descarga potente de «From Enemy To Hero», que confirmou desde logo as boas indicações sonoras deixadas na abertura. Agora com a distorção de Hugo Esteves e Bruno Prates e as linhas orquestrais de Davon Van Dave a preencherem o som, segurados pelas batidas de Bruno Ramos e pelas pulsações rítmicas de Ivan Santos, não houve ali defeitos a apontar. No entanto, o impacto maior deu-se no momento em que Eduarda Soeiro entrou em palco acompanhada por Flávio Lino, dos Airforce — um dos convidados especiais e cuja voz encaixou de forma perfeita com a de Eduarda. Atrás da banda estava um ecrã gigante que narrava a história entre músicas, ora através de legendas com diálogos ora através de ilustrações, e com os convidados a sucederem-se. Catarina Póvoa foi, de resto, uma das convidadas especiais mais presentes, acrescentando riqueza com as suas linhas de violino a temas como «Ways To Victory» (que contou também com a participação de Leonel Silva dos Hourswill e Fantasy Opus) e «First Taste Of Freedom« (com Kaddy Xavier dos Sunya). Saliente-se também a sempre fantástica participação das bailarinas Raquel Correia e Inês Sousa, que ajudaram a aprofundar a mística que a história contada pelos GLASYA exige. Terminada a saga «Attarghan», ainda havia tempo e espaço para dois brindes, sendo que o tema homónimo (novamente com Flávio Lino) e «Heaven’s Demise», tema-título do álbum de estreia, selaram com chave de ouro esta actuação.
FOTOS: Sónia Ferreira