Se a missão de Tobias Forge era criar o disco mais introspectivo de sempre da sua carreira com os GHOST, então «Skeletá» não só cumpre como ultrapassa esse desígnio.

Quinze anos após o primeiro assalto à sacristia do metal, os GHOST chegam a um ponto de viragem algo inesperado. O seu sexto álbum, «Skeletá», é, ao mesmo tempo, uma continuação lógica do que fizeram à data e um ponto de fuga. A teatralidade permanece, o humor negro persiste, e a habilidade para fabricar hinos satânicos de estádio continua intacta — mas algo mudou. Por detrás da nova persona do Sr. Tobias Forge, agora conhecido como Papa Perpetua, esconde-se um criador a olhar para dentro, a vasculhar as sombras da alma com uma sinceridade que nunca antes se deixara ver com tamanha nitidez.

Pois bem, se «Impera» foi um império dourado à beira da queda, «Skeletá» é o eco que ressoa no vazio que se lhe seguiu — melancólico, íntimo, mas estranhamente reconfortante. O álbum abre logo com a já conhecida «Peacefield», que ergue um cenário inquietante ao som de um coro infantil, antes de explodir num refrão de arrepiar, digno da glória radiofónica de uns Journey ou Survivor. É o tipo de canção que só os GHOST conseguem escrever: entre o sagrado e o profano, entre o apocalipse e a esperança.

Desde logo, percebe-se que a introspecção de Forge não significa contenção — significa antes um novo tipo de expansão, mais emocional que épica. Em «Lachryma», o luto e o peso emocional ganham corpo através de riffs sabbathianos, lentos e densos como a tristeza que evocam.

Já em «Satanized», primeiro single do disco, o amor e a possessão demoníaca cruzam-se numa valsa profana, onde os limites entre desejo e perdição se diluem. Se em discos anteriores Forge vestia máscaras para olhar o mundo, agora parece despir-se delas para explorar o que resta quando os palcos se apagam.

E ainda assim, «Skeletá» não renuncia à diversão, à teatralidade, ao pastiche tão caro aos suecos. Pelo contrário: ela ressurge mais afinada do que nunca. Agora já em território desconhecido (uma vez que os primeiros três temas do alinhamento foram dados a conhecer antecipadamente) «Cenotaph» é pop infecciosa com um brilho de Abba envolto em neblina fúnebre, enquanto «Umbra» mergulha no glam dos Def Leppard, lasciva e sedutora, coroada com versos como “In the shadow of the Nazarene / I put my love in you…”.

Há ainda momentos de verdadeiro engenho emocional: «Guiding Lights», balada radiofónica embebida em nostalgia AOR, e «De Profundis Borealis», que soa como se um espírito solitário cantasse do meio de uma floresta gelada, são dois pontos altos de um disco que vive da subtileza tanto quanto do estrondo. Em «Missilia Amori», Forge revisita o território sexual com metáforas de ‘mísseis do amor’, uma marcha triunfal e suada que poderia ser o hino perdido de uma encarnação lasciva dos KISS.

Já na recta final, «Marks Of The Evil One» poderia facilmente ser o lado B de um qualquer disco obscuro dos Mercyful Fate, não fosse o seu brilho demasiado bem polido e, a fechar, «Excelsis» assume o papel de elegia — mais um término triunfal na linhagem de «Life Eternal» ou «Respite On The Spitalfields». É um lembrete de que tudo acaba, mas que há beleza no fim. Não se pense que «Skeletá» é uma ruptura com o passado. Não é — é uma destilação do que GHOST sempre foram, agora sem filtros.

É um álbum onde o bombástico encontra o íntimo, onde os riffs convivem com os suspiros, e onde o Diabo talvez esteja a olhar-se ao espelho, a tentar perceber o que ainda lhe falta possuir.

Recorde-se que a etapa europeia da rota de promoção ao novo álbum dos GHOST,que inclui passagem pela MEO Arena, em Lisboa, a 29 de Abril de 2025, começou no passado dia 15 em Manchester, no UK, e termina a 24 de Maio, em Oslo, na Noruega. A parte norte-americana da tour arranca depois a 9 de Julho em Baltimore, Maryland, e termina a 16 de Agosto em Houston, no Texas. Os bilhetes para o espectáculo de regresso dos GHOST a Lisboa custam entre 45 e 80€, disponíveis aqui.