Toda e qualquer forma de arte é discutível e, ao contrário do velho chavão, os gostos discutem-se. Se assim não fosse, castraríamos o direito e a liberdade de opinião a qual, concorde-se ou não, é apenas isso mesmo, uma opinião, não vinculativa, que vale o que vale. Sem o direito à opinião, textos como este limitar-se-iam a uma descrição de factos, despida daquele sentimento tão visceral quanto natural que nos faz dizer que gosto mais de uma coisa do que de outra. Nesse contexto, e na opinião deste que vos escreve, a qual, lá está, vale o que vale, não deixa de ser duvidoso o sentido artístico dos holandeses GGGOLDDD a vários níveis, sendo que o exemplo mais crasso é precisamente na própria designação escolhida para a banda em 2021, abandonando o muito banalizado GOLD como até então assinavam os seus discos. A ideia não foi a mais feliz, de facto, assim como não o tem sido a escolha de artwork que, mais não seja, marcam pela diferença, sendo que este «This Shame Should Not Be Mine» eleva as coisas a um patamar meio absurdo a esse nível.
Felizmente, a evolução musical da banda tem sido inversamente proporcional à forma discutível com que fazem escolhas noutras matérias, embora neste que é o seu quinto disco de originais também estiquem os limites do bom gosto a níveis perigosos, embora, felizmente, com um efeito bastante satisfatório, pese embora a insistência que exige do ouvinte. Com uma inflexão mais ou menos abrupta em direção a paragens mais experimentais e eletrónicas, os GGGO…coiso encontram nestas nove faixas um interessante equilíbrio entre os genes rock e metal que os definem e o pisar de terrenos que devem muito ao trip hop mais cinzento e melancólico e a experimentalismos que nos habituámos a ouvir, e mencionando um nome que levou esse mesmo experimentalismo para o mainstream, nuns Radiohead da era pós «Ok Computer». A pouca ortodoxia que domina a maioria das composições aqui apresentadas, com estruturas de canções pouco convencionais, com arranjos inusitados, mas mantendo um sentido melódico muito apurado, aliada a um registo meio monocórdico da vocalista Milena Eva, embora pleno de uma estranha personalidade e de efeito hipnótico, começa por baralhar quem vai à espera de encontrar algo mais contido, dentro do pouco convencional que sempre foi esta banda, mas acaba por gerar aquele ímpeto inexplicável de insistirmos num disco que vai crescendo e revelando novos pormenores a cada audição. E se uma canção como o tema-título ou «On You» colocam praticamente de parte qualquer sinal de distorção de guitarras sem, no entanto, perderem em intensidade, já «Invisible», «Spring» ou «Beat By Beat» são laboratórios vivos para experimentalismos arrebatadores, nos quais a beleza de melodias cativantes emerge de uma complexidade e esquizofrenia na construção de canções muito pouco convencional.
Capazes do melhor e do pior, do discutível e do unânime, do desconcertante e do envolvente, os GGGOLDDD destacam-se, sobretudo, pela audácia de fazer diferente e pela maturidade e sobriedade com que se atiram para terrenos pouco consolidados, vencendo. [8.5]