“Não conseguimos prever totalmente o futuro, mas dificilmente voltarei a tocar estas músicas, rápidas, difíceis e, ao seu tempo, radicais, ao vivo”, alerta Gustavo Costa.
Sem que nada o fizesse prever (aliás, tudo apontava para o contrário), os GENOCIDE anunciaram o seu regresso aos palcos para o que, até ao momento, parece ser uma ocasião única para rever ao vivo e a cores uma das mais lendárias e aplaudidas bandas saídas do movimento underground luso na década de 90. “Os mais atentos sabem que 2024 assinala duas efemérides muito importantes na vida dos Genocide: os 25 anos do segundo álbum «Breaking Point» e os 30 anos do álbum de estreia «Genocide». Para comemorar convenientemente, vamos voltar à carga para um concerto único“, revelou a banda num breve comunicado quando o concerto foi anunciado.
Hoje, dia 5 de Outubro de 2024, o quinteto portuense vai actuar no Hard Club, no Porto, num evento cujo cartaz conta também com a presença dos BIOLENCE, SKINNING e, como avançado anteriormente, das lendas austriacas do metal extremo experimental DISHARMONIC ORCHESTRA. Podes consultar toda a informação já disponível na página oficial do evento no Facebook. Os bilhetes para produção Nightfear Productions estão à venda nos locais habituais por 20€, no dia do evento, o preço sobe para 25 €.
Nos idos de 2013, no contexto do Quadro de Honra, a LOUD! sentou-se com o vocalista Luís Gonçalves e com o guitarrista Alfredo Barbosa num pequeno café da Invicta, a escassos metros do extinto V5 – o bar onde fizeram uma das suas últimas aparições públicas, em 2010. Na altura, o regresso dos GENOCIDE ao palco parecia-lhes extremamente improvável.
“Muito dificilmente acontecerá alguma coisa“, confessou-nos Alfredo. “Chegámos a uma altura em que achámos que não valia a pena estarmos a dar concertos a cada dois anos… Foi uma coisa que aconteceu, tudo bem, fui uma curte do caraças e ficaram grandes memórias, mas não vale a pena“. Luís, por seu lado, acrescentou: “Eu sei que muitas bandas já disseram isto e depois… Estou a lembrar-me dos Carcass, por exemplo. Mas, no nosso caso, acredito que será mesmo muito difícil.”
Agora, numa longa publicação na sua conta pessoal do Facebook, o baterista Gustavo Costa revela que sempre foi “bastante crítico em relação a reuniões e revisitações do passado, principalmente no universo rock, que na maioria dos casos está assente numa energia e ingenuidade só existente na juventude e num período de tempo específico. Muitas dessas revisitações acabam frequentemente em representações descontextualizadas e reféns de uma nostalgia e romantismo fantasiado ao qual surgem frequentemente associados os comentários saudosistas do tipo ‘no meu tempo é que era bom’.”
“Foi por isso bastante difícil para mim aceitar o desafio, há cerca de um ano atrás, de fazer um último concerto, em jeito de celebração dos 25 e 30 anos das edições dos dois discos dos Genocide, banda em que toquei entre 1993 e 2001”, confessa o eximio baterista dos GENOCIDE um pouco mais à frente. “Uma grande parte do que faço hoje devo-o às pessoas e aos tempos passados a tocar com esta banda, e para os quais tenho um agradecimento eterno, por tudo aquilo que aprendemos, fizemos e acreditamos em conjunto.
Passados alguns meses de ensaio, mantém-se o meu desconforto na revisitação musical deste passado distante, mas fico cada vez mais feliz no facto de me aperceber que a ligação que une estas pessoas ultrapassa a amizade: é uma relação familiar, unida pelo som. Não conseguimos prever totalmente o futuro, mas dificilmente voltarei a tocar estas músicas, rápidas, difíceis e, ao seu tempo, radicais, ao vivo. Por isso apareçam, se estiverem por perto, no próximo dia 5 de Outubro, no Hard Club, para ouvir os meus Genocide, os Skinning, Biolence e uma banda que foi altamente influente na minha adolescência, os Disharmonic Orchestra.” Podes ver a publicação completa do músico aqui.
Quando surgiram, em plena génese do boom do underground nacional que se viveu na passagem dos anos 80 para os 90, os portuenses GENOCIDE marcaram uma posição com uma força avassaladora. Com bandas a surgiram em sucessão, a torto e a direito, de norte a sul do país, o quinteto abalou as estruturas do movimento com uma abordagem – para a época, que os tempos eram definitivamente outros – mais moderna, desenvolvida em termos técnicos e, a todos os níveis, extrema.
Quando editaram a estreia homónima, em 1994, os GENOCIDE estavam já muito à frente da competição e, com o seu poderoso híbrido de death/grind, estabeleceram-se mesmo como uma das referências da época. Cinco anos depois, surgiram com um segundo longa-duração, o igualmente explosivo «Breaking Point» e, eventualmente, acabaram por votar-se a um longo hiato, interrompido apenas em 2010 para alguns concertos seleccionados por ocasião do vigésimo aniversário da sua estreia em palco.