Ao chegar ao RCA Club havia algo no ar que fazia crer que esta seria uma verdadeira noite de celebração de punk rock, daquelas para mais tarde recordar. Obviamente que os ecos recebidos do Porto e do Algarve, onde os GBH tinham nas duas noites anteriores, já davam indicações nesse sentido, mas sim — estamos a falar de uma banda emblemática, que é reverenciada como um dos nomes mais importantes do punk, com mais de 40 anos de carreira, por isso a celebração dessa longevidade, num trajecto que inclui álbuns emblemáticos como «City Baby Attacked By Rats» e «City Babys Revenge», obviamente que iria servir de mote a uma boa festa na certa. Com os espanhóis BLADDERS e os “nossos” CRAB MONSTERS como bandas de abertura, estavam reunidas todas a condições para a celebração.
Por esta altura começa a ser difícil dizer algo dos CRAB MONSTERS que não tenha sido já dito anteriormente. A banda portuguesa tem uma abordagem crust ao seu punk hardcore e comporta-se como um demónio da Tasmânia — levam tudo à frente e nem param para perguntar se alguém foi atropelado. Foi bom ver que, já a meio da sua actuação, a sala estava bem composta e a fazer a festarola ao som de temas como «Rock And Roll» e «Piss Wizard», só duas pequenas amostras deste rolo compressor que é um destaque da cena nacional. Os BLADDERS subiram ao palco logo de seguida e conseguiram expandir ainda mais os níveis de energia estabelecidos pelos portugueses. A sua sonoridade praticada é mais voltada para o lado melódico do punk, mas ainda assim, graças à abordagem com dois guitarristas, o músculo que temas como «Offroad» e «Cocaine» ofereceram é notável. A animação na plateia foi imediata e nem se estranhou (porque também já começa a ser normal) a banda dirigir-se ao público em inglês. Detalhes insignificantes já que, nesta noite, a linguagem era o punk, e essa é universal. As músicas sucederam-se sem grande espaço para respirarmos (uma máxima da noite) e o público não se envergonhou a entoar cânticos – que soaram fantásticos numa potente versão de «Maxwell Murder», dos Rancid, e na «Ode To Funk Polk».
O entusiasmo, e a aura que pairava no ar a que nos referimos atrás, começava agora a transformar-se numa nuvem já mais densa e pronta a explodir. E foi isso que aconteceu com o primeiro tema dos GBH, «Time Bomb», retirado do já citado «City Baby Attacked By Rats», que foi tocado quase na íntegra. Apesar de ser o álbum mais acarinhado pelos fãs, toda a carreira da banda britânica está repleta de clássicos, sendo uma boa prova disso a forma entusiasta como «Momentum» e «Generals» foram recebidos. A comunicação limitou-se praticamente ao anúncio das músicas antes de serem tocadas e um ocasional “estão todos bem?” por parte de Colin Abrahall, que revelou uma invejável forma física — aliás como toda a banda — e não parou um momento. Quem também não parou por um momento que fosse foi o público em frente ao palco, com aquelas batalhas campais que são sempre impressionantes de ver e que colocam um sorriso no rosto de quem as a aprecia mais de longe. Para o final, ficaram reservados os dois temas-título dos já mencionados clássicos do street punk antes de uma espécie de encore (a banda não chegou a sair do palco mas houve uma pausa maior que o costume) para tocarem «Liquid Paradise (The Epic)» e uma versão da «Bomber», das lendas Motörhead, que colocaram um ponto final numa noite memorável, que causou impacto positivo não só nos fãs mais ferverosos mas também na própria banda que anteriormente já tinha agradecido à Hell Xis e às bandas que tocaram antes deles. A avaliar pelos sorrisos nos rostos, a gratidão maior era mesmo de todos os fãs.
Fotos: Sónia Ferreira