RETROVISOR: Diamanda Galás & John Paul Jones, «Skótoseme» @ Jon Stewart Show, 1994 [vídeo]

Nos últimos anos, a formação tradicional do rock tem sido revista e, nos tempos que correm, é recorrente ver por aí grupos sem baixista ou sem baterista. Duos de cordas e bateria são populares, outros incluem o saxofone na formação, e nem se deve perder muito tempo a referir os inúmeros casos de propostas instrumentais.

Também é recente o incremento da presença feminina como protagonista num grupo, quando não a solo. E este protagonismo não passa pelo cargo de “vocalista de”, mas pela personificação do próprio projecto, como no caso de Emma Ruth Rundle, Anna Von Hausswolff, Myrkur ou Chelsea Wolf.

No presente ano, celebram-se vinte e cinco anos sobre um disco que é exemplo de ambos os casos e que o passar do tempo tem revelado cada vez mais ousado e premonitor: «The Sporting Life». Neste projecto singular, uma vocalista, a greco-americana Diamanda Galás, junta-se a um duo de baixo e bateria para interpretar os seus temas.

Como nota de rodapé, o baixista, apenas é John Paul Jones, um ex-LED ZEPPELIN que nas últimas décadas tem apostado em incursões em projectos fora da caixa, seja como produtor, seja mesmo participando. Haverá poucos nomes que consigam no mesmo currículo possuir colaborações com Brian Eno, Fura Del Baus, R.E.M., Foo Fighters, Lenny Kravitz, Cinderella, The Mission ou The Butthole Surfers.

À época muitos afirmariam não ser metal, nem hard rock; o rótulo era avant-garde. O facto é que numa comunidade sempre aberta a novas experiências, a vocalista ganhou dimensão e hoje, nas tribos góticas ou do black metal, o seu nome é referido com reverência. Curiosamente este foi o último disco de estúdio de Diamanda Galás, até há um par de anos, o que não será de estranhar, pois a artista é mais uma performer, sendo quase tantos os títulos gravados ao vivo, oito, como os de estúdio, nove.

«The Sporting Life» reúne um duo improvável, mas se calhar funciona porque a misantropia e aspereza de Galás, necessitava de encontrar abrigo no conforto sonoro providenciado pela experiência de Jones, o mesmo que já tinha segurado os comandos dos Zeppelin, enquanto Page mergulhava no abismo.

Mais que uma artista fracturante, Diamanda Galás é a prova de que o marginal, mesmo entre sons já de si marginais, transformana-se na normalidade passado anos. Algo acerca do qual os espíritos conservadores deviam reflectir mais, antes de erguerem muros sonoros e se isolarem no meio do nada. Se hoje esta apresentação ainda se poderia colocar nos “limites” sonoros para um programa de TV como o Jon Stewart Show, então como a classificar há duas décadas e meia?