Após a assinatura de um contrato com a Century Media, e a revelação de «Submerged» e «Hellbound», o regresso dos GAEREA a casa (já no próximo fim de semana!) afirma-se como o prenúncio de um ciclo de renovação.
Ao longo da última década, poucas bandas portuguesas conseguiram transformar-se num fenómeno tão marcante, consistente e internacionalmente reconhecido como os GAEREA. O colectivo, sempre envolto em anonimato e simbolismo, ergueu-se numa ambiência própria dentro do black metal contemporâneo, criando uma estética sonora e visual que os distinguiu rapidamente no panorama europeu.
Agora, após um percurso internacional intenso e de uma actuação fulgurante no EVILLIVƎ FESTIVAL deste ano, os músicos regressam finalmente a casa para dois concertos muito aguardados: a 4 de Dezembro, no Hard Club, no Porto, e a 5 de Dezembro no LAV – Lisboa ao Vivo. Acompanhados pelos APOTHEUS, estes serão mais do que simples regressos ao palco; prometem funcionar como uma celebração profunda das raízes, da evolução artística e do impacto crescente daquela que é já uma das mais influentes forças extremas nacionais.
Este regresso ganha ainda mais relevância porque surge numa fase de transição e expansão notável na carreira dos GAEREA. Recentemente, o colectivo deu um passo decisivo ao revelar a assinatura com a Century Media Records, uma das editoras mais influentes do mundo do metal, casa de alguns dos nomes mais importantes da música extrema contemporânea.
O anúncio foi acompanhado pelo lançamento dos novos singles «Hellbound» e «Submerged», com este último a aprofundar o lado mais introspectivo do colectivo embalado por um vídeo-clip onde uma figura solitária se afunda num oceano de pensamentos — uma metáfora visual profundamente alinhada com o universo emocional que a banda construiu ao longo dos anos. Uma coisa é certa, esta nova fase confirma algo que os seguidores do grupo e a imprensa já sabiam: os GAEREA estão a preparar-se para uma etapa de afirmação ainda maior, com o próximo álbum, «Loss», agendado para edição a 20 de Março de 2026.
Descritos pela nova editora como “uma bela incógnita enraizada na extremidade musical e numa paixão absoluta”, os GAEREA têm desenvolvido, em menos de uma década, uma sonoridade singular que cruza as sombras do pós-black metal, nuances de pós-rock e uma abordagem estética profundamente visual e emocional. As máscaras, já icónicas, não funcionam apenas como elemento cénico: são parte integrante da identidade conceptual do grupo, reforçando a ideia de que o palco não é um local de individualidade, mas sim de catarse colectiva.
Ao vivo, esta linguagem visual transforma-se num ritual de tensão, de silêncio e de explosão, conduzindo o público a uma experiência que excede largamente a dimensão musical. Dúvidas restassem, A presença dos GAEREA na mais recente edição do EVILLIVƎ FESTIVAL exemplificou bem essa força transformadora. O concerto foi amplamente destacado pela crítica pela forma como conjugou brutalidade, peso emocional e uma construção cénica precisa, criando uma atmosfera simultaneamente sufocante e hipnótica.
Para muitos presentes, foi uma das actuações mais intensas do festival, reforçando a percepção de que os GAEREA atingiram uma maturidade plena e um estatuto internacional em franca ascensão. Portanto, este regresso ao Porto e a Lisboa, agora num contexto de transição para a nova editora e com um novo ciclo criativo prestes a iniciar-se, reveste-se de um simbolismo especial.
Para compreender a dimensão que estes concertos assumem, importa revisitar a evolução constante que tem definido o percurso dos GAEREA desde 2016. O EP de estreia homónimo, lançado pela Everlasting Spew, apresentou ao mundo um colectivo que parecia já plenamente consciente da sua estética sonora: uma fusão de densidade atmosférica, violência emocional e um sentido de espaço pouco comum no black metal tradicional.
O uso do anonimato — com os característicos capuzes negros e sigilos reminiscentes de iconografias ocultistas — era um manifesto artístico e conceptual, não apenas uma forma de ocultação. O primeiro álbum, «Unsettling Whispers», editado em 2018 pela Transcending Obscurity, solidificou essa visão. As composições eram intensas, claustrofóbicas, quase físicas, revelando uma abordagem profundamente emocional ao sofrimento, à ansiedade e à tensão existencial. A receptividade internacional abriu portas para as primeiras digressões e permitiu ao grupo expandir a sua presença muito para além dos limites habituais do underground português.
No entanto, a verdadeira viragem dar-se-ia com «Limbo», lançado em 2020 já sob a chancela da Season of Mist. O álbum, surgido em plena pandemia, capturou como poucos o espírito de isolamento, do medo e da suspensão que marcou esse período histórico. Com temas como «Null» e «To Ain», o disco tornava-se quase um espelho emocional daquele “intervalo” forçado da vida, e não tardou a ser considerado um dos grandes lançamentos de metal extremo daquele ano. O reconhecimento veio, claro, acompanhado de novas oportunidades, colocando os GAEREA em destaque nos circuitos internacionais.
Depois, com «Mirage», em 2022, a banda explorou a ilusão, a perceção e a desintegração emocional,um trabalho mais cru, mais directo e ainda mais centrado na vertente existencialista que passou a marcar a sua identidade. A recepção foi novamente extraordinária, com a banda a percorrer festivais e palcos de referência um pouco por toda a Europa. Em 2024, com «Coma», a evolução atingiu novo patamar. Mais equilibrado, maduro e emotivo, o álbum afirmou definitivamente o grupo como um fenómeno global, capaz de unir públicos distintos dentro do universo do metal extremo.
É neste contexto de evolução contínua e afirmação internacional que a assinatura com a Century Media e o anúncio do álbum «Loss» adquirem significado especial. O single «Submerged» parece apontar para uma fase ainda mais contemplativa e profunda, sem sacrificar aquela violência emocional que sempre caracterizou o colectivo. As imagens do vídeo reforçam esta direcção, apresentando um simbolismo mais íntimo e menos ritualista, sem abandonar a estética que tornou o grupo reconhecível em todo o mundo.
Portanto, a data-dupla deste fim de semana não funcionam só como um regresso às origens geográficas; são também um ponto-charneira entre ciclos criativos. Com bilhetes a 27€ , estas datas prometem marcar o final do ano para a comunidade do metal nacional. Depois de anos de crescimento, maturidade artística e reconhecimento internacional, os GAEREA regressam para dois rituais que não só revisitam o passado, como também anunciam o futuro — que, com «Loss» no horizonte e um novo capítulo editorial já em marcha, se adivinha ainda mais desafiante, mais sombrio e mais profundamente humano.
Os bilhetes para os concertos dos GAEREA no Porto e em Lisboa estão à venda por 27€ em primeartists.eu e nos locais habituais.












