FLESHGOD APOCALYPSE + W.E.B. + NEST OF PLAGUES + STRUCTURAL + SERENITY IN MURDER @ RCA Club, Lisboa | 25.01.23 [reportagem]

Ainda mal refeitos da saga do Xxxapada Na Tromba na sexta e no Sábado passados, voltámos ao RCA Club para mais uma maratona de concertos de música extrema, desta feita para testemunhar a passagem por Portugal da digressão Motocultor Festival Across Europe, que juntou no mesmo cartaz os FLESHGOD APOCALYPSE, W.E.B., NEST OF PLAGUES, STRUCTURAL e SERENITY IN MURDER. Temos de admitir que as duas derradeiras bandas a tocar seriam provavelmente as maiores atracções para o público, o que faz com que quem venha antes tenha sempre uma maior exposição e alcance  que provavelmente de outra forma não teria. A noite até começou surpreendentemente pela mais conhecida das três propostas iniciais, os japoneses SERENITY IN MURDER. A sala ainda estava a meio gás, mas não faltou entusiasmo em cima e à frente do palco. A promover «Reborn», lançado em 2021, o primeiro trabalho com a nova vocalista Ayumu, os músicos denotaram algum nervosismo, mas acima de tudo muita felicidade e humildade por estarem presentes no palco do RCA. Instrumentalmente estiveram sólidos, com destaque para a guitarra solo, mas a voz de Ayumu revelou-se algo frágil no registo gutural, não causando tanto impacto como o esperado. Ainda assim, neste caso a atitude serviu para conquistar o público presente.

A sala já estava bem mais composta quando os  israelitas STRUCTURAL subiram ao palco, eles que trouxeram consigo um bom death metal melódico, cheio de ganchos melódicos que se sobrepunham aos lugares comuns com alguma destreza. O alinhamento foi sobretudo apoiado no álbum de estreia (e ainda único da sua carreira), «Metacognition», que data de 2018, mas tivemos oportunidade de ouvir também um novo tema, que deu boas indicações em relação ao segundo álbum que vão lançar eventualmente num futuro próximo. Seguiram-se os NEST OF PLAGUES, o grupo mais “fora” do alinhamento estilístico da noite. Com uma sonoridade bem moderna a rondar o metalcore e o nu-metal, foi a simpatia de Dániel Ivanics, vocalista e baixista dos húngaros, que conquistou o público. Com simpatia e um vontade constante comunicação, confidenciou os seus problemas de saúde mental, bem como o facto de ter estado há meses atrás nesta mesma sala a ver os Abaixo Cu Sistema e ter comentado com a guitarrista Evelin Kövecses que haveriam de estar naquele palco um dia. É bom ver as pessoas a cumprirem os seus sonhos e objectivos de vida, sendo que esta banda tem trabalhado para isso, tal como trabalhou para conquistar o público e, na verdade, foram eles a provocar os primeiros circle pits da noite.

Interesse maior logo de seguida para ver a estreia dos W.E.B. em Lisboa (depois de, na noite anterior, terem tocado no Porto). São a banda que mais se aproxima estilisticamente do que os cabeças de cartaz fazem, ainda que o seu som caia mais no black metal sinfónico. Apesar desta ser a primeira passagem por Portugal, os fãs receberam-nos de forma entusiasta — de tal forma que até o vocalista e guitarrista Sakis Prekas se mostrou surpreendido. Sabemos que aqui entra aquela táctica normal de elogiar o público (assim como dizer que foram mais ruidosos que o público da noite anterior), mas de uma forma imparcial podemos dizer que não seria de estranhar que o músico sentisse realmente o que disse ali. Na plateia, temas como «The Dark Web» e até a mais melancólica «Murder Of Crows» foram recebidos com energia e entusiasmo admirável. Circle pits e até uma wall of death provaram isso mesmo, num concerto que foi encerrado de forma épica com uma excelente «Dragona» a colocar o ponto final e a garantir que, caso voltem, serão muito bem recebidos pelo público português.

Depois, tivemos de suportar algum tempo de espera enquanto era preparado o palco para os senhores da noite — os FLESHGOD APOCALYPSE, que são muito acarinhados por estas paragens. Durante este compasso de espera fomos ouvindo música clássica, de Mozart a Vivaldi, numa banda-sonora bem apropriada para que viria a seguir. O ambiente criado foi fantástico, com o palco a dar-nos a sensação que tínhamos sido transportados para alguma cave secreta da época vitoriana para assistir a música profana e proibida. Com aquela brutalidade que lhes é característica, o seu death metal sinfónico estava mais poderoso que nunca mas, logo desde o início, com a colossal «Fury», percebeu-se que estávamos a ouvir solos de guitarra e não se via o guitarrista em lado nenhum. Ainda se colocou a hipótese de que o mesmo poderia estar num pontoem que não o conseguíamos ver (tal como todos os bateristas das bandas de abertura, cujos kits foram montados no lado direito do palco, já que a posição central estava ocupada com a bateria e com o piano dos FLESHGOD APOCALYPSE para poupar tempo na preparação do palco para a banda italiana. No entanto, Francesco Paoli (vocalista/guitarrista) confirmou mais tarde de que o guitarrista Fabio Bartoletti não pôde tocar em Portugal devido a problemas pessoais e que a opção de cancelarem o concerto após dois anos de pandemia simplesmente não era opção. E ainda bem que assim foi, com um RCA Club a rebentar pelas costuras a concordar em absoluto com esta opção. Francesco e Veronica Bordacchini foram alternando as comunicações com o público e mostraram sempre níveis elevados de agradecimento em relação à recepção que estavam a ter, dizendo mais que uma vez que teriam de voltar muito em breve. Repetindo o que foi dito em relação aos W.E.B., por muito que seja simpatia que se repita todas as noites em todas as cidades, a forma como o público reagia aos temas era impressionante  — «The Violation» e «The Egoism» atingiram níveis tremendos, com os circle pits e os crowdsurfs a sucederem-se de forma implacável. Esta última até teve direito a um mini wall of death. O final foi apoteótico com «The Forsaking»  e uma explosão de confettis a marcar o climax de uma noite de comunhão movida à base de metal extremo.

Fotos: Sónia Ferreira