O baterista revela frustração e resignação quanto ao estado actual dos FAITH NO MORE, parados desde 2016.
Mais de três anos depois do cancelamento abrupto da digressão de regresso dos FAITH NO MORE, a incerteza em torno da banda californiana continua a adensar-se — agora com declarações inéditas de Mike Bordin, que rompeu o habitual silêncio do grupo para falar sobre os motivos por detrás da longa ausência dos palcos. Numa entrevista ao podcast Let There Be Talk, apresentado pelo comediante Dean Delray, o baterista revelou detalhes sobre o falhanço da tour de 2021 e o papel de Mike Patton em tudo isso, num tom simultaneamente magoado e compreensivo.
Segundo Mike Bordin, os FAITH NO MORE estavam “preparadíssimos” para os concertos agendados para Setembro e Outubro de 2021. A banda tinha passado seis meses a ensaiar e, na sua opinião, estavam no auge da forma: “O baixista chegou a dizer: ‘Nunca nos ouvi soar assim. É assim que estas músicas soam na minha cabeça.’” Mas tudo mudou quando, a 36 horas do primeiro espectáculo, em Chicago, Patton não apareceu no último ensaio. Ao confrontar o vocalista, perceberam que estava fisicamente incapaz de subir a um palco. Foi então tomada a decisão de cancelar a digressão.
“Foi um pesadelo logístico cancelar 75 concertos. Mas nenhum de nós queria ser a pessoa a empurrá-lo para algo que não estava em condições de fazer. Apoiamo-lo à nossa maneira, quer isso seja reconhecido ou não”, desabafou ele. A questão, no entanto, ganhou outra dimensão quando Mike Patton retomou a sua actividade ao vivo com os MR. BUNGLE, pouco mais de um ano depois. Desde Dezembro de 2022, essa banda tem estado relativamente activa, enquanto os FAITH NO MORE permanecem estagnados. Para Bordin, a linha que separa “incapacidade” de “desinteresse” foi ultrapassada: “Ele passou de estar incapaz de fazer os concertos para claramente não querer fazê-los connosco. E isso custa. É pesado. É uma grande diferença.”
O baterista garantiu que os FAITH NO MORE continuam sem linha de comunicação clara com Patton e confessou que a situação acaba mesmo por afectá-lo pessoalmente: “Não me sabe bem. Fere um bocado os meus sentimentos, mas isso é pessoal. No fim do dia, é só um assunto de negócios.” Ainda assim, fez questão de sublinhar a sua gratidão pelo tempo partilhado com o vocalista: “Fomos abençoados por um talento enorme. A minha vida seria muito diferente sem isso.”
O sentimento de frustração é partilhado também por Bill Gould, baixista do grupo. Em Janeiro deste ano, numa entrevista à chilena Radio Futuro, Gould afirmou sobre o futuro dos FAITH NO MORE: “Não sei. Honestamente, não sei. E não precisam de acreditar em mim, mas não há nada… Estamos num sítio muito estranho neste momento.” Questionado sobre se teria poder de decisão dentro da banda, respondeu entre risos: “Se tivesse, provavelmente estaríamos a tocar no Chile na próxima semana.” Já em Outubro passado, Roddy Bottum, teclista do grupo, descrevia o estado da banda como uma “pausa semi-permanente”.
Recorde-se que o afastamento dos palcos por parte de Mike Patton teve origem num problema de saúde mental agravado pela pandemia. Numa entrevista de 2022 ao The Guardian, o vocalista revelou ter desenvolvido agorafobia e depressão durante os confinamentos, recorrendo ao álcool como forma de lidar com o isolamento: “Estar tanto tempo isolado fez com que sair à rua se tornasse algo difícil. É horrível. A ideia de fazer mais concertos com os FAITH NO MORE… era stressante. Afectou-me mentalmente. Não sei porquê, mas o álcool entrou.”
Apesar do retorno com os MR. BUNGLE, Patton não actua com os FAITH NO MORE desde 2016. A banda, que se reuniu em 2009 após um hiato de 12 anos, lançou o álbum «Sol Invictus» em 2015, o único desde «Album Of The Year», que foi editado em 1997), e vinha a preparar para uma segunda vida que nunca chegou a concretizar-se. À medida que os anos passam e os silêncios se prolongam, a hipótese de um novo capítulo para os FAITH NO MORE parece cada vez mais remota. Mike Bordin, no entanto, não fecha totalmente a porta: “O futuro? Não sei. Se ele vai querer fazer coisas ou não, não me cabe a mim dizer.”