SOFY MAJOR
[noise rock/sludge/stoner]
Lançamento mais recente: «Total Dump» [Corpse Flower Records]
FFO: Melvins, Unsane, Torche, Big Business
Há momentos em que, depois de termos levado tantas sovas da vida, a melhor solução é mesmo desistir — ou, como os franceses SOFY MAJOR nos explicam, “atingir o ponto de ruptura” para depois podermos renascer com toda a força. Sobrevivendo a inúmeros percalços, é exactamente isso que têm feito, uma e outra vez, estes músicos, protagonizando um teste aparentemente interminável de que a força de vontade e a perseverança acabam sempre por dar frutos. De «Permission to Engage» de 2010 a «Total Dump», que acaba de ser editado, o que têm feito é gozar na cara do colapso; sorrindo, escovando os ombros e cuspindo petardos de noise rock injectado de stoner.
O andamento pesado de «Permission To Engage» viu os SOFY MAJOR a explorarem as suas influências colectivas do sludge pré e pós-milenar (pensem nos MELVINS, nos -16- e nos HIGH ON FIRE) fortalecidas por um amor pronunciado pelo noise rock mais agressivo (UNSANE) que ostentava as arestas ainda não suavizadas das referências pós-hardcore e grunge. Apesar das comparações mais ou menos óbvias, a banda mostrou que estava pronta a seguir caminho e com o «Idolize», de 2013, afirmaram a sua personalidade, mesmo depois do processo de gravação ter sofrido um revés no momento em que o furacão Sandy deixou o estúdio Translator Audio, onde estavam a trabalhar com Dave Curran, dos UNSANE, em muito mau estado.
A verdade é que o álbum aconteceu mesmo e revelou-se um triunfo para o grupo, que tratou de refinar a abordagem do primeiro disco e de construir laços fortes com Curran, que acabaria por produzir os seus dois discos seguintes. O lançamento seguinte, «Waste», viria a marcar a última colaboração do trio com o guitarrista Sébastien Fournet e mostrou ao mundo uns SOFY MAJOR mais melódicos, mais preocupados com os ganchos que propriamente com as descargas de peso antagónico que dominaram o início de carreira do projecto. Já com a sua personalidade própria bem definida, os músicos podiam perfeitamente ter feito uma segunda parte desse álbum, mas com a entrada no grupo do guitarrista/vocalista Thomas Dantil começaram a explorar a química gerada por esta nova colaboração.
O resultado dos últimos quatro anos de trabalho na sala de ensaios surge agora na forma de «Total Dump», o álbum mais diverso e coeso que já assinaram. Gravado e misturado novamente por Dave Curran, o quarto longa-duração do trio dura 40 minutos e começa logo com o tema-título, que cai algures entre a estranheza característica de King Buzzo e companhia e a abordagem sludge pop de uns TORCHE. De seguida, «Giant Crush Crash» eleva o display da agressividade a níveis que deixariam os UNSANE orgulhosos, antes que a mais melosa, ainda que um pouco inquietante, «Cream It» traga flashbacks do grunge. Depois, para aqueles que gostam do humor mordaz frequentemente associado ao noise rock, há aqui verdadeiras pedras preciosas, do sludge melódico à BIG BUSINESS de «The Jerk» até à sombria «Frankly Butthole», passando pelo desagradável diagnóstico de «Tumor-o-rama».