Entre separações dolorosas, conflitos internos e regressos falhados, os mestres EXHORDER chegam a Lisboa na próxima sexta-feira, 11 de Abril, com o foco na música e no futuro.
Há bandas que vivem o sucesso em linha recta. Outras, como é o caso dos EXHORDER, trilham caminhos acidentados, feitos de curvas fechadas, acidentes e milagrosas recuperações. Quando o grupo oriundo de New Orleans subir ao palco do RCA Club, em Lisboa, na próxima sexta-feira, 11 de Abril, muitos verão em palco um daqueles casos raros de sobrevivência no metal extremo — não apenas devido ao tempo, mas sobretudo devido às pessoas envolvidas.
Os EXHORDER formaram-se ainda nos anos 80, em plena efervescência da cena thrash norte-americana, e tornaram-se imediatamente uma proposta muito singular. Enquanto muitos dos seus contemporâneos seguiam os moldes da Bay Area, o quarteto do Louisiana cruzava riffs violentos com groove, atitude punk e até algum funk. Lançaram dois álbuns que tornar-se-iam de culto — o «Slaughter In The Vatican», de 1990, e o «The Law», de 1992 — antes de desaparecerem, e ainda antes do verdadeiro reconhecimento lhes bater à porta.
Mas o motivo da separação não foi musical — foi pessoal. “A maioria das pessoas não sabe isto, mas [a separação de 1992] não foi a primeira vez que nos separámos — foi a segunda”, revelou Kyle Thomas, vocalista e o único membro fundador ainda resistente nos EXHORDER, em entrevista à LOUD!. “Todos tínhamos personalidades muito fortes e ideias fixas. O dinheiro não aparecia, não conseguíamos fazer as digressões que queríamos… e a vida acabou por se meter no caminho.” Além disso, na altura, os membros do grupo mal tinham saído da adolescência. “Éramos miúdos”, admite Kyle. “Alguns ainda estavam a estudar, outros a formar famílias. E tínhamos a maturidade emocional de miúdos de 12 ou 13 anos.”
Com o tempo, os EXHORDER tentaram regressar várias vezes — em 2001, e depois entre 2008 e 2009 — mas os mesmos problemas acabavam sempre por surgir. “Dessa vez até tínhamos planos para gravar um álbum”, lembra Kyle, referindo-se ao segundo regresso, “mas chateámo-nos uns com os outros, as coisas ficaram muito feias e separámo-nos outra vez.”
Kyle Thomas seguiu carreira noutras bandas, incluindo os Trouble, Floodgate e Alabama Thunderpussy, ganhando estatuto de vocalista versátil e respeitado. Ainda assim, em todas as cidades por onde passava, havia sempre alguém que lhe perguntava: “E os EXHORDER?”. “Percebo esse interesse”, diz ele. “Porque há, de facto, algo mágico no que fizemos juntos.”
O reencontro com o guitarrista Vinnie LaBella aconteceu discretamente, anos depois. “Voltei a cruzar-me com o Vinnie e, pouco a pouco, muito lentamente, fomos reatando a nossa amizade.” O resultado desse há muito esperado reencontro foi finalmente a edição do colossal «Mourn The Southern Skies», em 2019, e o regresso com uma formação renovada, sólida e funcional — coisa rara na história do grupo. E sim, após o lançamento do disco, o primeiro de estúdio dos EXHORDER em 27 anos, a banda parecia, de facto, ter reencontrado rumo e estabilidade.
No entanto, os anos que se seguiram foram tudo menos tranquilos. A pandemia de COVID-19 travou os planos de promoção do disco vivo, e em 2022, a saída do guitarrista Vinnie LaBella voltou a abalar uma vez mais formação. Apesar disso, o vocalista Thomas tudo fez para manter o projecto vivo, rodeando-se de novos músicos e reforçando a sua posição como líder incontestável do grupo. O resultado dessa nova vida foi «Defectum Omnium», editado em 2024, álbum que afirmou a identidade renovada da banda, ao mesmo tempo que preserva a agressividade, o groove e a honestidade crua que sempre a definiu.
“Sinto que, desta vez, as coisas vão durar. Conseguimos uma agência, tirámos de cima a pressão do lado burocrático e podemos focar-nos no que interessa: a música.” Hoje, Kyle Thomas fala com serenidade sobre o passado — e orgulho por ter conseguido atravessar o caos. “A verdade é que sempre fomos uma banda com uma reputação bem complicada, e a culpa era nossa. Éramos um bando de miúdos arrogantes e desagradáveis”, ri-se. “Mas crescemos. Agora somos homens de família, de negócios. E aprendemos todas as lições que havia para aprender.”
Em Lisboa, essa maturidade vai estar em palco. Mas o peso da história também. Trinta anos depois, os EXHORDER continuam a lutar — mas, finalmente, parece que estão todos do mesmo lado. Os bilhetes para o concerto em Lisboa custam €23 e estão disponíveis através da Unkind.pt.
