“Os Veigas falaram contigo dessa iniciativa?”, alerta o sacrossanto JCS, num apelo para um texto ou numa vingança por ter deste lado aquela velha tape da banda que ele idolatra. Não, não falaram, mas também os irmãos nunca pedem o céu e o Inferno. Pelo menos, ao mesmo tempo. A premissa é escolher duas bandas estrangeiras e outras tantas nacionais que procure ver neste SWR FEAST, cartaz reduzido em tempo de crise. Por sinal, um cartaz que irá obrigar permanecer do princípio ao fim, quando o costume é escapar a meio da noite, poupar os ouvidos ao horrível karaoke do bar e não ficar com má memória de nomes vistos em pequenos clubes. Este ano o alinhamento apresenta-se escorreito e com bons nomes. Por acaso, o plano da viagem não passa tanto pelo que se se vai passar em palco, mas antes em rever velhos conhecidos, chatear o pessoal da redacção, naquela que é a única altura do ano que há algo parecido com uma reunião. Neste ano, há que acrescentar a possibilidade de conhecer pessoalmente muitas personagens que foram sendo descobertas ao longo de quase dois anos puramente virtuais.
Começando nas escolhas portuguesas, é fácil. Logo à partida, os BOULDER. Podiam receber o título de banda mais azarada do SWR. Assistir ao seu apuramento numa Metal Battle e, nos dois anos seguintes, vê-los marcar passo por causa de uma pandemia, causa estupefacção. Neste tempo, apenas um EP foi lançado, mas os seus membros passaram a integrar várias formações, em algumas até já estavam antes. Contas feitas, nos BOULDER estão três dos músicos mais activos da nova geração do norte e, por isso, é curioso perceber como evoluíram e o que fazem agora, debaixo desta designação. Em seguida, a escolha cai sobre os MIDNIGHT PRIEST. Devem ser das bandas nacionais que mais curiosidade me levantam neste momento. Recordo que fui o único a votar contra numa final que os levou ao Wacken. Talvez porque a expectativa pessoal sobre o grupo é sempre enorme, mas nunca passa do primeiro tema. Há agora um novo vocalista e os músicos foram percursores de uma vaga nacional, que hoje é popular e na qual encontro bandas interessantes. Será desta que me renderei a eles?
No campo dos internacionais, SIJJIN. Nada conheço do grupo, piquei apenas um tema e reservo as expectativas intactas. As menções foram honrosas e sei ter queimado a escolha de um colega de redacção que frequenta o SWR desde o mesmo ano que eu, numa já saudosa segunda edição. Porquê a escolha? Simplesmente, porque, para mim, uma das magias do SWR não reside nos grandes nomes de cartaz, mas na capacidade de, algures, os irmãos Veiga serem capazes de tirar dois ou três coelhos da cartola que ficam gravados na memória dessa edição e desse ano. Quase sempre uma dessas bandas deixa na memória uma impressão tão boa que, no final do ano, acaba entre as melhores actuações. Recordo-me de uns IMPERIAL TRIUMPHANT na última edição, e dispenso comentários à primeira passagem dos AKERCOCKE pela vila minhota. A última escolha recai sobre os polacos MGLA. Escolha óbvia, dirão muitos. A resposta é sim, mas não pela razão que muitos poderão achar. A passagem anterior da banda por terras nortenhas, revelou-se, em termos pessoais, uma noite de sensações, uma abertura para um ciclo que incluiu uma pandemia, encontros, desencontros, e todo um conjunto de experiências musicais e não só, que se poderiam definir como o ciclo MGLA. Da mesma forma que os polacos representam um som associado ao seu país, mas que já os transcende. Da mesma maneira que foram percursores num estilo de (não) estar em palco, que hoje é repetido ad nauseum. Na falta de um novo álbum, resta esperar que venha de novo «Age Of Excuse», o nevoeiro se levante e o ciclo pestífero se encerre. Que 2023 traga o festival que todos nos habituamos a conhecer e a estimar. Em 2022, o Natal ainda será contido.