Continuam a ser uma das entidades mais sonicamente violentas do black metal nórdico. «Viktoria» é já o 14.º disco dos Marduk, onde o grupo liderado por Morgan “Evil” Håkansson não abandona a rápida ferocidade que o notabilizou nos anos 90, mas exponencia também nuances de lentidão e melodia. Foi com o guitarrista fundador que falámos, ele que não se furtou a debater connosco mais uma dose de recentes acusações de ideologia discutível.
Os anos passam e essa brutalidade malévola não decresce. «Viktoria» saiu como pretendiam?
Sim, é directo, de coração frio, como deve ser Marduk em 2018; um murro na cara. Penso que funciona muito bem com o conceito. Letras e música estão perfeitamente integradas, é mais um passo na direcção certa da carreira dos Marduk.
Voltaram a gravar no estúdio Endarker com o vosso baixista Devo aos comandos. Em equipa que se ganha, não se mexe… para chegar à vitória?
É como gostamos de trabalhar. É óptimo poderes gravar num estúdio, na tua cidade e voltares lá quando te apetece. Penso que isso acaba por se reflectir no próprio disco. Quando temos um baixista que é o nosso técnico e tem o seu próprio estúdio, não necessitamos que haja outras pessoas a interferir. Para nós, é perfeito.
Pelo que sei, tentaram que este álbum soasse o mais dinâmico possível, por via de uma produção analógica. E isso nota-se.
Quando vamos para estúdio tentamos captar a natureza real das músicas. A primeira coisa que fizemos foi procurar uma base de bateria realmente boa e genuína. Com bateria real. Hoje em dia, as baterias de muitas bandas soam a não sei bem o quê… Depois, é meter duas guitarras, o baixo e a voz. É muito básico e frio. Simples, eficaz e dinâmico. Quando começámos a trabalhar neste álbum, tínhamos três aspectos diferentes em mente: que seria um disco mais espiritual, que seria mais um conceito histórico e que, em certa medida, seria uma continuação de «Frontschwein». Quando começámos a juntar as peças, fazia todo o sentido que fosse um seguimento do nosso álbum anterior, com o tema central focado na II Guerra Mundial. Partimos daí, centrámo-nos mais nesse aspecto bélico, enquanto que, a parte mais espiritual, fica a marinar para o futuro.
«June 44», por exemplo, é um tema que remete imediatamente para um dos capítulos mais marcantes da II Guerra Mundial. Podes elaborar um pouco mais acerca do conceito histórico de «Viktoria» e do fascínio que tens pela maquinaria alemã da altura?
Bom, toda a gente sabe que «June 44» é sobre o Dia D, enquanto, nos outros títulos mais enigmáticos, talvez seja preciso um pouco mais de pesquisa para se chegar lá… Mas não é bem um conceito ou um tema isolado, são antes reflexões sobre diferentes aspectos da WWII. Eu tenho muito fascínio por diferentes aspectos da história, mas no que toca a criar música, vejo-a como se estivesse a compor bandas-sonoras para isso. Sinto-me igualmente interessado pelo Império Romano, mas muitas outras bandas já escreveram ou fizeram música sobre o Império Romano; ninguém compôs assim tanto sobre isso, portanto, porque não? Para mim é natural, tratando-se de um interesse. Não é nada mais estranho do que qualquer outra coisa pela qual nutras um interesse histórico.
Pegando nesse interesse e no título do novo álbum… a verdade é que os alemães não venceram, exactamente, a guerra?…
Não tem a ver com isso. Este foi um dos nossos primeiros álbuns para o qual não tínhamos título quando ficou pronto. Toda a gente – de cada um dos lados, em todo o lugar – luta sempre pela vitória, é mais nesse sentido. E, no fim, diria que só um sai vitorioso, e que é o invencível Sr. Morte.
Voltando, de certa forma, à temática do álbum e de grande parte dos vossos trabalhos, que acabam por versar sobre a maldade do homem, achas que esse evil está na nossa natureza e que, se aqui chegámos como civilização, isso também se deve a uma, diria… evolução pelo mal?
Sim, isso a que chamamos mal, penso que é um estado natural. Toda a gente achava, nas alturas das grandes guerras, que aquela seria a última guerra, que a I Guerra Mundial era a “guerra para acabar com todas as guerras”, mas tudo o que aconteceu no passado acabou por nos trazer uma melhor economia. Foi sempre um interesse do homem e vai andar sempre de mãos dadas com a raça humana. É uma característica natural; é como somos. Dá a sensação que, se a espécie fosse mais pacífica, provavelmente, não funcionaria. Sempre foi assim, os poderes extravasam fronteiras, as pessoas têm interesse no que os outros têm.
Sei que é sempre difícil falarmos de nós mesmos, mas tens a noção de que os Marduk serão hoje uma das principais – senão a mais importante – banda sueca de black metal?
Não sei… Não gosto de comparar. Acredito no que somos e sinto o poder no que fazemos e fizemos ao longo dos anos, nos objectivos que conquistámos com tantas digressões pelo mundo. Pelos muitos álbuns que já gravámos, que são os pilares que nos sustentam como banda e, se há uns que são maiores que outros, não me compete a mim decidir. Não me importa nada disso. Acredito no que fazemos e o que fazemos é importante para mim. O que os outros fazem não é assim tão importante para mim.
Seja como for, o black metal ganhou mais exposição a partir do que surgiu na Noruega, mas os Marduk serão uma óptima “representação” da Suécia no género.
Certo. E se não fosse por causa do black metal sueco, não teria havido nenhum black metal norueguês porque, diria, provém tudo mais ou menos dos Bathory. E também o que fez da Noruega o país do black metal foram os Mayhem e o que fez os Mayhem realmente dark foi o Dead, o vocalista, que era sueco. Portanto, acho que também há muitos suecos responsáveis por isso.
Recentemente, os Marduk voltaram a estar no centro de uma pequena polémica suscitada pelo website ETC que ligou o vosso vocalista e baterista a um movimento neo-nazi por, supostamente, terem adquirido material de propaganda nazi, online. Acusações que não são novas, daí o comunicado que colocaram no Facebook?
Isso é ridículo, porque eu nem sequer tinha ouvido falar antes desse site e fiquei… o quê?! Claro, as pessoas sabiam que íamos fazer um álbum ligado à II Guerra Mundial e aproveitaram a oportunidade para criar a confusão. Durante a nossa carreira, houve já inúmeras vezes em que nos tentaram mandar abaixo com golpes desses, mas essa foi das coisas mais ridículas que já ouvi em toda a minha vida. A princípio, nem sequer comentámos por pensarmos tratar-se de uma brincadeira. Depois, fizemos o tal comunicado para esclarecer as pessoas, caso ainda alguém tivesse dúvidas.
Ou seja, negas todas essas acusações?
Oh… é estúpido, é tudo estúpido. Nem penso que seja necessário eu me permitir a negar coisas tão estúpidas como isso porque, quando o li, ri-me logo! Aquilo que apareceu por aí foi completamente construído.
Uma vez que pesquisas bastante sobre a WWII e, certamente, sabes mais de história do que eu, o que te pergunto é se condenas as atrocidades dos nazis ocorridas durante o Holocausto?
Eu não condeno nada na história porque não sou um político. Se condenar uma coisa, vou ter de condenar tudo. Nunca disse que aprovo ou apoio, portanto, não vou andar por aí a dizer que condeno. É estúpido porque, assim, teria de andar a dizer que condeno tudo o que foi feito de errado no mundo. Não tem a ver comigo. Costumo reflectir sobre acontecimentos históricos e não os comento porque não é essa a minha função. Porque haverei eu de dizer que sou contra coisas que nunca disse que apoio? Não posso andar por aí a dizer que sou contra isto e sou contra aquilo… Sou contra, mais ou menos, tudo, portanto…
Há quem diga que nós, como humanos, temos ou deveríamos ter, uma componente humanitária…
[interrompendo] O que é humanitário?… Isso depende de como olhas para as coisas. O que é humanitário para um pode ser completamente diferente para outro. Tudo tem perspectivas distintas para toda a gente. É o mesmo que tentar dizer quem está certo em determinados conflitos. É bastante complicado. Não é o meu papel dizer quem está certo ou errado, cabe a toda a gente ter as suas próprias convicções. Isso não me interessa nada. Sou apenas um observador.