ERIK WUNDER, uma das figuras mais singulares da música pesada norte-americana das últimas duas décadas, tinha apenas 42 anos.
Foi com um simples e comovente tributo que a Profound Lore Records anunciou ao mundo a morte de Erik Wunder, aos 42 anos. “‘The world breaks everyone, and afterward, some are strong at the broken places’ – Ernest Hemingway. REST IN POWER Erik Wunder of Cobalt/Man’s Gin… you goddamn outlaw. Wow, what a ride…”, escreveu a editora que acompanhou de perto o percurso das suas duas principais criações: COBALT e MAN’S GIN.
Poucos músicos conseguiram canalizar um espectro tão amplo de emoções e de linguagens sonoras como Erik Wunder, cuja carreira se estendeu ao longo de duas décadas, sempre marcada por uma abordagem crua, visceral e profundamente pessoal. Com os COBALT, fundados em 2003 no Colorado, desenhou uma visão de black metal que se afastava da tradição nórdica e abraçava um espírito tipicamente americano, não raro comparado à selvajaria literária de Hunter S. Thompson ou à intensidade física de Ernest Hemingway — ambos nomes frequentemente associados à estética da banda.
Mais do que baterista, Erik Wunder foi o verdadeiro motor criativo dos COBALT. Tocava bateria, guitarra, baixo e, por vezes, também assumia as vozes. Trabalhou lado a lado com o vocalista original Phil McSorley em álbuns como «Eater Of Birds», de 2007, e «Gin», de 2009 — este último considerado um dos marcos do black metal contemporâneo, com a crítica a destacar a fusão entre peso, psicodelismo e letras profundamente introspectivas. A separação conturbada entre os dois músicos acabou por levar à entrada de Charlie Fell (ex-Lord Mantis) como vocalista, abrindo caminho para o monumental «Slow Forever», de 2016, talvez a obra mais celebrada de Wunder.
Com «Slow Forever», os COBALT reinventaram-se num híbrido ainda mais brutal e libertador, cruzando black metal, sludge e uma certa tensão pós-hardcore que lembrava bandas como os NEUROSIS ou os UNSANE. O álbum foi universalmente aclamado pela crítica, com publicações como a LOUD!, a Pitchfork e a Decibel a destacarem a sua densidade emocional e a forma como parecia transmitir tanto fúria como redenção. É, sem sombra de dúvida, um dos discos mais impactantes da música extrema na década de 2010.
Mas a inquietação criativa de Erik Wunder não se esgotava nos COBALT. Em 2010, fundou os MAN’S GIN, um projecto paralelo onde explorava territórios completamente diferentes — uma espécie de americana obscura, com toques de folk e pós-rock, onde se fazia ouvir mais como um cantor confessional do que como um senhor da guerra do metal.
Com os álbuns «Smiling Dogs», «Rebellion Hymns» e «The Reprobate», do ano passado, deu voz a uma América decadente e melancólica, com narrativas de bares vazios, desertos existenciais e redenções falhadas. Se os COBALT eram uma luta com os demónios, os MAN’S GIN eram a ressaca — triste, honesta, belíssima.
A notícia da morte de Wunder surpreendeu tanto a comunidade musical como os fãs. Não foram reveladas causas ou circunstâncias, e até ao momento não há declarações públicas de familiares ou membros das suas bandas. O silêncio que se segue parece, de certa forma, condizente com a própria personalidade de Erik Wunder — um artista que nunca procurou os holofotes e que sempre pareceu mais interessado em criar mundos à margem.
Nas redes sociais, fãs e músicos partilharam trechos de letras, memórias de concertos e, sobretudo, uma admiração unânime pela intensidade do legado deixado. Muitos recomendam agora, a quem nunca o fez, uma audição atenta de «Slow Forever» — “esse disco é genuinamente doido”, escreveu um fã. No entanto, também há quem aponte os momentos mais intimistas de «Smiling Dogs» como entrada ideal para compreender a sensibilidade artística de Wunder.
A morte de Erik Wunder deixa um vazio real na música pesada — não tanto pelo desaparecimento de uma figura mediática, mas pela perda de uma mente criativa que parecia sempre disposta a rasgar convenções, a expor fragilidades e a fundir brutalidade com lirismo. Em tempos de fórmulas repetidas e carreiras previsíveis, ele era uma excepção preciosa. O mundo talvez o tenha partido, como dizia Hemingway, mas foi precisamente dessas fracturas que Erik Wunder construiu a sua arte. E é nela que, agora, continua a viver.















