THEDARKNESS

«Aspiral» não é apenas mais um disco na carreira dos EPICA. É um manifesto de vitalidade, de criatividade e compromisso com uma arte que desafia modas e convenções. Portanto, se o metal sinfónico ainda tem alguma coisa para dizer em 2025, é porque esta gente continua a cantar — e a rugir — com alma.

Poucas bandas sobrevivem incólumes ao passar das décadas — e ainda menos são as que conseguem fazê-lo sem comprometerem a sua identidade. Os neerlandeses EPICA, porém, parecem contrariar todas as probabilidades. Com mais de vinte anos de carreira e um catálogo que facilmente serve de manual a quem quiser compreender o que é o metal sinfónico bem feito, o sexteto volta agora às edições com «Aspiral», o seu nono álbum de estúdio.

Convenhamos, a fasquia estava altíssima. No entanto, a tensão de uma longa espera — ali algures entre aquela confiança quase cega de quem acredita que esta banda nunca desilude e o medo de que, um dia, isso possa acontecer — transforma-se numa descarga de alívio logo à primeira audição. Sim, os EPICA ainda estão, como sempre estiveram, à altura das expectativas.

«Aspiral» é, acima de tudo, um triunfo de execução. Cada membro da banda oferece prestações exímias, demonstrando não só uma coesão impressionante, mas também um apetite renovado por uma saudável dose de experimentação — sem nunca perder de vista a matriz essencial que define os EPICA. A fórmula continua lá: camadas sinfónicas exuberantes, riffs que oscilam entre o power metal e o melodeath mais modernaço, linhas vocais tão dramáticas quanto acessíveis, e uma estrutura que combina grandiosidade cinematográfica com agressividade bem doseada.

No entanto, há também novos detalhes, novas ideias, novas abordagens formais que provam que esta não é uma banda a descansar à sombra dos seus próprios louros. Simone Simons continua a ser a diva absoluta do metal sinfónico. A sua voz, em constante evolução, mostra aqui nuances e uma profundidade que a tornam ainda mais magnética — especialmente em temas como «Obsidian Heart», «Apparition» ou a colossal «The Grand Saga Of Existence – A New Age Dawns Part IX». Ainda assim, aquilo que mais surpreende neste disco é a intensidade com que Mark Jansen assume o controlo das faixas mais pesadas.

A sua voz mais gutural, feroz e inconfundível, rasga tudo em momentos como «Metanoia – A New Age Dawns Part XIII» ou «Eye Of The Storm», devolvendo ao som dos EPICA um peso que tantas vezes falta ao género (e que, a espaços, lhes faltou também a eles em tempos recentes). Ariën van Weesenbeek, por seu lado, revela-se a outra peça-chave deste sucesso. A sua versatilidade atrás do kit impressiona: seja a injectar um groove irresistível em «Obsidian Heart», a acentuar as transições entre explosões e passagens atmosféricas em «T.I.M.E.» ou a dar vida aos breakdowns, aparentemente deslocados, em «Arcana».

Nas guitarras, Mark Jansen e Isaac Delahaye entregam riffs musculados e leads vibrantes, que mantêm o dinamismo do álbum sempre em alta, enquanto Rob van der Loo, no baixo, consegue destacar-se com linhas mais audíveis, embora continue a merecer mais espaço. Por fim, Coen Janssen, o mestre supremo das orquestrações, volta a elevar tudo com arranjos majestosos, sendo que o trabalho coral em «T.I.M.E.» se revela particularmente memorável.

No entanto, o que seria de tudo isto sem boas canções? Bem, a esse nível, «Aspiral» não decepciona; e é um disco repleto de refrões memoráveis, estruturas intrigantes e texturas emocionais ricas. Temas como «Cross The Divide», «Arcana», «Apparition» ou a belíssima «The Grand Saga of Existence» competem de forma feroz por um lugar no pódio, ao ponto de parecer errado escolher apenas uma.

E, apesar da diversidade, o novo álbum dos EPICA mantém-se coeso e fluído, com os momentos instrumentais, que podiam ameaçar a concentração do ouvinte, a fluírem com mestria graças a detalhes inteligentes e a execuções inventivas. É esta dinâmica interna — entre o expansivo e o íntimo, o brutal e o etéreo — que torna cada audição num novo mergulho, sempre recompensador.

Nem tudo é perfeito, no entanto. O encerramento com o épico tema-título talvez se alongue além do necessário, gerando uma ligeira sensação de inércia no final. E há também um desejo não totalmente satisfeito: a intensidade inesperada que marcou a colaboração com os God Dethroned em «Human Devastation», do EP «The Alchemy Project», parece apenas um sussurro em «Aspiral», deixando a vontade de ouvir os EPICA num retorno mais ousado a águas extremas.

Felizmente, essas reservas tornam-se quase irrelevantes quando se percebe o efeito que o álbum exerce, afirmando progressivamente o seu papel como uma força centrípeta, que nos absorve toda a atenção e que anula qualquer vontade de regressar a discos anteriores enquanto este ainda soar tão fresco. E isso, mais do que qualquer superlativo, é a prova final de que os EPICA continuam a ser uma das bandas mais importantes, consistentes e inspiradas do seu tempo no espectro em que se movem.

Recorde-se que, no dia 1 de Fevereiro de 2026, os neerlandeses EPICA e os suecos AMARANTHE aterram no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, para protagonizarem uma noite que promete ser memorável para os apreciadores de metal sinfónico. Os bilhetes para o concerto de regresso custam 37€ e estão disponíveis em primeartists.eu e nos locais habituais.