O 12.º álbum de estúdio dos ENTHRONED, com edição prevista para 5 de Dezembro via Season of Mist, promete ser tanto uma invocação ritual como uma afirmação da sua longevidade no black metal
Os ENTHRONED, um dos projectos mais respeitados da cena black metal europeia, deram recentemente a conhecer os singles «Raviasamin» e «Ashspawn», que serviram para antecipar o aguardado próximo LP da banda belga, apropriadamente intitulafo «Ashspawn», com lançamento agendado para o próximo dia 5 de Dezembro de 2025 através da Season of Mist. Agora, na sequência dessas descargas, a banda revelou mais um tema de avanço, com «» a marcar o terceiro capítulo de um regresso envolto no misticismo e no caos.
Concebida como peça climática do disco, a nova composição ergue-se como um rito de encerramento: um tribunal psíquico em que o eu é simultaneamente acusador, réu e juiz, num processo de depuração que percorre toda a obra. Como podes conferir no player em baixo, «Ashen Advocacy» emerge num crescendo meticuloso. A percussão, de contornos cerimoniais, estabelece um pulso grave que se entranha antes de ceder à dissonância a meio-tempo que molda o ambiente de clausura.
Cada riff parece carregar o peso de uma invocação, acumulando tensão até o tema se desintegrar num braseiro sónico. Há instantes em que pequenas melodias sobem à superfície, quase como lampejos de lucidez num cenário dominado pela combustão; mas depressa são tragadas pela avalanche de distorção. A voz de Nornagest, firme e imponente, alterna entre o tom de quem convoca e o de quem sentencia, incorporando tanto a condenação como a libertação. O resultado é um momento em que o físico e o metafísico convergem, e no qual a purificação assume a forma de um incêndio controlado.
O tema sintetiza a filosofia central de «Ashspawn»: a ideia do renascimento pela negação. As próprias palavras que ecoam ao longo da faixa reforçam essa lógica de dissolução do eu, como quando se escuta “Accuser and accused, we are one in the same” — “Acusador e acusado, somos um e o mesmo” — ou “Through fire, we are forged anew” — “Através do fogo, somos forjados de novo”. Estes refrões funcionam como mantras de transfiguração, apagando a fronteira entre culpa e absolvição.
Recorde-se que, com mais de trinta anos de carreira dedicados à exploração das fronteiras mais abrasivas do black metal europeu, os ENTHRONED voltaram recentemente com um tema que se apresentou como uma violenta declaração de transformação através do fogo — metáfora que, segundo o grupo, acaba por definir na plenitude todo o conceito do novo LP. Com pouco mais de quatro minutos e meio de duração, o tema-título de «Ashspawn» condensa o espírito do disco numa espiral de fúria e destruição espiritual.
Guiado pela percussão fulminante do “nosso” Menthor e pelos riffs serpenteantes de Kaos, esta é uma canção que alterna entre velocidade furiosa e precisão rítmica cirúrgica. A produção, densa e opressiva, amplifica a sensação de confronto, onde cada acorde dissonante e cada blastbeat colidem como actos deliberados de aniquilação e renascimento. A voz de Nornagest, misto de invocação e condenação, serve de canal para a mensagem central da canção.
A letra — carregada de iconoclastia e simbolismo religioso invertido — inclui versos como “I am God’s scourge of defeat, the semen in His eye”, reafirmando o confronto espiritual e a dimensão blasfema que sempre definiram a identidade dos ENTHRONED. O tema culmina com a frase em latim Et Verbum Caro Factum Est (“E o Verbo fez-se carne”), selando a passagem do espírito à matéria, da destruição à criação.
Descrito como uma peça que se move entre cântico e maldição, «Raviasamin», o primeiro single retirado do LP, percorre terrenos sonoros semelhantes, onde se encontram riffs gélidos, invocações serpenteantes e ritmos violentos. Ao longo de quatro minutos e meio, a faixa encapsula na perfeição o dogma do que são os ENTHRONED em 2025: velocidade ofuscante contrabalançada por meios-tempos, guitarras que oscilam entre a dissonância cortante e ressonâncias quase corais, e bateria que alterna entre a visceral intensidade dos blastbeats e a solenidade processional.
A nível lírico, a canção invoca imagens de serpentes, de um silêncio despedaçado e da “árvore invertida”, símbolos que se alinham com o núcleo conceptual explorado em «Ashspawn». Através destas metáforas, o tema não se limita a entreter; ergue-se como uma proverbial arma linguística e sonora, concebida para desestabilizar e transformar.
O impacto da canção prolonga-se no vídeo-clip oficial, que pode ser visto em cima e transporta o ouvinte da dimensão esotérica para o campo visual. Numa altura em que a maioria das ferramentas gerativas se tornaram comuns, os ENTHRONED optaram por um processo artesanal: cada elemento — desde vestes e esculturas a estátuas e inscrições — foi desenhado ou esculpido à mão antes de ser digitalizado no motor gráfico Unreal Engine.
Entre as figuras centrais destacam-se uma representação tridimensional de Belial, retirada da arte criada por Jose Gabriel Alegria Sambogal, e uma árvore qliphótica desenhada à mão, animada digitalmente. O resultado é descrito como um ritual visual blasfemo, onde artesanato e alquimia se cruzam em sombras e revelações.
A chegada de «Ashspawn», que já está disponível para pré-encomenda, marca o décimo segundo capítulo de uma carreira que já ultrapassa três décadas. Concebido ao longo de seis anos de criação deliberada, o álbum é apresentado como uma autópsia e uma ressurreição: uma descida à morte espiritual seguida pela sublimação em renascimento. Mais do que um simples registo musical, trata-se de uma obra ritual, escrita pelos ENTHRONED numa estreita colaboração com o autor ocultista Gilles de Laval, que contribuiu para a construção do universo lírico e filosófico do disco.
Segundo o conceito anunciado, o álbum canaliza práticas arcanas, cálculos metafísicos e cartografias esotéricas, constituindo uma verdadeira invocação. Nesse sentido, «Ashspawn» surge como a culminação da visão intransigente dos ENTHRONED, que sempre se posicionaram na linha da frente do black metal europeu ao recusar compromissos estéticos ou criativos. Ao longo da sua carreira, a banda construiu uma reputação inabalável, alimentada por uma abordagem ritualista e uma devoção inquebrantável à essência mais obscura do género.
Agora, com «Ashspawn», pretendem não só reforçar esse legado como também abrir um novo ciclo criativo, forjado na tensão entre destruição e renascimento. Com a Season of Mist como aliada neste regresso, os ENTHRONED prometem entregar um trabalho que desafia fronteiras entre música, filosofia oculta e artes visuais. A espera de seis anos encontra assim a sua justificação: «Ashspawn» não é apenas um álbum, mas uma arma de transformação, nascida do fogo e das trevas.

01. Crawling Temples | 02. Basilisk Triumphant | 03. Stillborn Litany | 04. Ashspawn | 05. Raviasamin | 06. Sightless | 07. Chysalid | 08. Ashen Advocacy (7:











