Foi em Agosto de 2021 que primeiro se ouviu falar dos ENACT, uma nova banda straight edge de Portland, no Oregon. O facto de haver cada vez menos bandas assumidamente com essa orientação levantava, por si só, curiosidade mas, a juntar a isso, as primeiras audições confirmavam que estávamos perante uma proposta bastante acima da média. Um pouco mais de investigação e o pedigree dos músicos envolvidos acaba por confirmar aquilo que os ouvidos já haviam registado. BLUE MONDAY, GET THE MOST, CUTTING THROUGH ou DYING FOR IT são algumas das bandas em que os membros dos ENACT estiveram anteriormente envolvidos. À medida que os singles de avanço foram sendo editados nas semanas que antecederam a edição do disco, foi possível antever o potencial daquilo que nos ia ser apresentado. «Enact» é um disco de estreia de uma banda com uma identidade marcada o suficiente; no entanto, a deixar antever que há diferentes caminhos por onde evoluir. Se a base aqui é o hardcore rápido, muitas vezes com o rótulo old school ou youth crew, acaba por ser apenas isso.
«Redifined» dá o mote com um groove e uma guitarra que pisca o olho aos TURNSTILE, mas depois de uma curta intro entramos por territórios mais familiares. Não será por acaso que o riff tresanda a GET THE MOST, uma vez que o guitarrista é o mesmo. No entanto, se pensam que estamos perante uma réplica ou cópia barata estão enganados. Não querendo correr o risco de colocar a etiqueta do female fronted como se fosse um estilo, não dá para ficar indiferente à voz de Rikki V. A raiva e intensidade contida nestes versos apenas amplificam a urgência e importância dos temas abordados. Fugindo dos clichés dos “falsos amigos” ou da “união”, aqui fala-se de masculinidade tóxica, violência armada (um flagelo infelizmente quase diário nos Estados Unidos), veganismo e straight edge. Apesar de ser um lançamento forte, há ainda aqui muito onde melhorar.
Infelizmente após variadíssimas audições, não encontramos propriamente um “malhão”. A gravação é pujante, mas o tom das guitarras acaba por saturar um pouco ao fim de algum tempo. A abordagem vocal também pode ser bastante mais trabalhada de modo a criar mais dinâmicas, que podem enriquecer o que de bom já aqui foi feito. O que merece destaque é também o feeling BOLD da era do «Looking Back». Uma vez mais, não sendo nada descarado, sente-se algo durante o disco todo. Pontos altos? A «The True Balance», uma das melhores canções do disco, e ainda «Still In Silence» que, com os seus longos 7:42 (algo quase inédito no estilo em questão), funciona de forma inesperada, num crescendo de intensidade e raiva abordando o já referido tema da masculinidade tóxica. A WAR Records tem aqui um bom lançamento que, de certeza, irá ajudar a cimentar a editora, que começa a ser uma das principais da costa oeste no que ao hardcore diz respeito. E a capa de Simon Tripcony (que recentemente trabalhou também com os BE WELL) está muito boa. Daquelas que chamam a atenção em qualquer loja de discos. [7.5]