«Engine Of Hell», editado em 2021, foi, desde os primeiros acordes dados a conhecer, assumido como um disco fracturante em termos de receptividade, um ponto de viragem na carreira da norte-americana Emma Ruth Rundle. Marcou igualmente uma afirmação de identidade, um manifesto de coragem e de necessidade de sair da zona de conforto de uma carreira em plena ascensão, com «On Dark Horses», editado em 2018, disco que a colocaria num invejável e merecido patamar de reconhecimento transversal a vários públicos e géneros. Nesse cenário, estamos em crer que Emma poderia simplesmente continuar a explorar uma estética muito própria que brotava da sua música e que lhe conferia um estatuto bastante apetecível. Só que não! «Engine Of Hell» surgiu despido de artefactos, num formato minimalista e introspectivo, centrado na emocional e amargurada voz de Rundle e num piano que assume o protagonismo que as guitarras vinham tendo até então. E se esta até poderia ser uma abordagem perfeitamente enquadrável pelo meio de canções, digamos, mais convencionais, que encontrávamos no mencionado «On Dark Horses», no incontornável «Marked For Death» ou naquele que lhe é mais próximo esteticamente, o mais contido «Some Heavy Ocean», tudo alcança outro nível de desafio quando a mesma toada se prolonga ao longo de todo o disco e mais além. E o “mais além” é este EP composto por três canções registadas nas mesmas sessões de gravação de «Engine Of Hell» e, de forma natural, submersas no mesmo comprimento de onda, que é como quem diz baseadas na simplicidade, e numa honestidade e angústia palpáveis. E, quer se goste ou não, enquanto a Emma tiver males de amor e profundas reflexões introspectivas para exorcizar, esta será a forma que encontrou para se expor e para se afirmar enquanto artista e enquanto personalidade inspiradora, cada vez mais dona de si e do seu destino. «Gilded Cage», dominada por um envolvente dedilhado acústico, «Pump Organ Song», com um dissonante órgão a amparar uma voz amargurada e «St.Non», a remeter para os primórdios da caminhada em nome próprio de Emma, perfazem apenas oito minutos de música sobre a qual paira uma dúvida existencial: servirá este EP como um fechar de um ciclo ou deverá antes ser encarado como o afirmar de uma nova identidade e de uma abordagem que veio para ficar? Um futuro longa duração o dirá. Para já, «Orpheus Looking Back» constitui um muito agradável, ainda que absurdamente curto, “miminho” de uma artista notável. [8]