WHALES DON’T FLY não é o nome que se espera de um grupo nascido “na cidade de Bragança em Dezembro de 2018”, como explicaram à LOUD! logo no momento da apresentação do lyric vídeo «A Journey’s End», segunda faixa extraída do seu primeiro álbum, intitulado «The Golden Sea». De 2018 até ao presente ano, foram-se passando algumas coisas dentro do natural parto de um grupo jovem unido à volta da “necessidade de criar música original, um sentimento que nos move e continuará a mover”. A formação aparece com Rafael Diegues, na voz e guitarra, Jorge Rocha, na guitarra, José Pedro Boura, no baixo, e Ricardo César Bento, na bateria. As influências sempre foram múltiplas, e assumidas, indo “desde o rock progressivo até ao metal mais extremo”. Entre os nomes citados encontram-se OPETH, MASTODON ou THE MARS VOLTA. Foram bandas assim que deram ao colectivo “inspiração para introduzir sonoridades progressivas” às suas composições. Para eles, “a junção destas influências são o que conferem um som único e distinto à banda”. Influências que acumulam décadas de música, seja um riff cheio de groove próprio do nu-metal fossilizado logo em «Man And The Pilgrim», primeira música do disco e segunda faixa, antecedida por uma intro em spoken word. Como os próprios assumem, “o metal serve sempre como base das nossas músicas e esperamos que os ouvintes consigam encontrar algo de original nelas.”
O nome do grupo, WHALES DON’T FLY, é sui generis tendo em conta que o grupo é oriundo de uma das zonas mais afastadas da costa. “Mesmo que estejamos a largos quilómetros do mar, houve uma certa compulsão de introduzir o elemento de areia e mar no álbum porque achamos que seria o setting perfeito para a história que queríamos contar, pois o vazio da areia não significa que anteriormente nesse mesmo local não tivesse existido vida”. Chegando-se ao disco, rapidamente se percebe que o conceito e história nele desenvolvidos estão ligados ao próprio nome do grupo. Bastante progressivos, neste disco revelam algum virtuosismo, como a guitarra aos três minutos de «Blossom In The Dark», mas remetem-no para segundo plano, preferindo dar relevo às dinâmicas rítmicas, onde o baterista César Bento consegue protagonismo. Apesar de ser uma estreia, o disco demorou a ser parido, com as gravações a iniciarem-se em 2019 nos Blind & Lost Studios, em Santa Marta de Penaguião, com Guilhermino Martins no comando. Por essa altura, jogam em casa, actuando no Tenda Armada de 2019, em Bragança. A reportagem vídeo que de lá resultou permite perceber como os músicos se foram desenvolvendo. No entanto, apenas em 2021 começaram a surgir resultados dessas gravações, com o vídeo de «Mountain Peak».
Em «The Golden Sea», a banda escreve o disco com mente numa lenda segundo a qual quem conseguir encontrar um mar dourado encontra em si um estado de pura realização. É a procura por esse mar que é descrita ao longo dos nove temas, com o culminar no tema-título, carrossel de sons e referências, desde logo com os acordes orientais de ínicio, mas que pouco depois lembra uns TOOL pela dinâmica, logo mudando para um prog mais convencional. Como disco, «The Golden Sea» é obra maior, mas com alguns descontos por ser trabalho de estreia. É, no entanto, um bom trabalho para apreciadores do estilo, que aceitam um som mais pesado e se afastam das melodias mais melíferas em que algumas bandas do género acabam a cair passado uns anos. Ouça-se, por exemplo, «A Journey’s End» que, por momentos, remete para o ritmo de «Give It Away» dos RHCP, mas não passa apenas de uma ideia capturada no ar, pois o disco nada remete para os recantos de Los Angeles. “Resumidamente, o «The Golden Sea» trata a história de um peregrino que parte à procura desse mar dourado”, afirma a banda, descrevendo aquilo que é “uma viagem sinuosa, espiritual, em que cada etapa é retratada nos diversos temas do álbum, um universo em que a riqueza material não serve para curar a mente enferma, apenas a procura de um destino incerto a pode salvar”. Nos tempos que correm, em que o clássico ‘Dune’ conseguiu ser traduzido para linguagem cinematográfica, é natural que se pense no livro, quando se fala de alguns conceitos da história do disco. “Embora respeitemos a obra, não tivemos qualquer influência do ‘Dune’. Ao contrário do livro, optamos por contar uma história focada num único individuo, na sua solidão e na sua jornada pelo desconhecido, e nesse desconhecido se redescobrir”.
Esclarecida uma referência, resta aludir à que será mais imediata, pois um som complexo e uma baleia na capa, poderá levar os menos atentos a referir os GOJIRA, embora estes não se encontrem sonoramente no trabalho. Os músicos estão “cientes que possa existir essa conexão, principalmente sem ouvir a música”, esclarecendo que o “facto de a baleia estar presente na capa do álbum serve como alusão ao próprio peregrino onde a sua jornada transcende para além da sua própria carne”. Transcendência e uma viagem depuradora são o contexto em que se desenvolve uma das estreias mais interessantes neste início de ano. Um trabalho que chega através da Raginplanet estando disponível em CD e em plataformas digitais como o Bandcamp.