Quando «The Cruising Years» se estreou na LOUD! em meados de Novembro, os TVMVLO já não eram novidade nas caves da publicação. Afinal, a banda era composta por veteranos da cena, incluindo dois elementos dos BASALTO, nomeadamente António Baptista, também ex-ANGRIFF, na voz e guitarra, e Nuno Mendonça, dos ZURRAPA, no baixo. Ao duo, juntou-se o baterista Fábio Loureiro, dos ROTTEN RIGHTS. Juntos formaram os TVMVLO e gravaram os dez temas que constituíram o disco de estreia. O trio viseense apostou no OSDM, lançando o disco a 4 de Dezembro, acompanhado de mais um tema em vídeo, «Monotheistic Deathride». A primeira referência à banda, surge numa conversa de bastidores, devidamente alimentada pelo entusiasmo de António Baptista à volta do mesmo. Meses mais tarde, admitiria ter regravado os temas. O tempo disponível, face à pandemia, permitiu “percebermos que podíamos melhorar bastante”, explica hoje o guitarrista. “Não foi um apagar em si, foi mais um voltar a olhar e ouvir aquilo que estávamos a fazer e perceber que haviam partes que não resultavam tão bem como nos parecia em ensaio. O nosso processo criativo é basicamente a criação de esqueletos de música base para depois trabalharmos em ensaio, adornando várias letras, procurando os melhores ritmos, tentando perceber a melhor maneira de as músicas não soarem cansativas até chegarem ao fim. É um processo às vezes lento, mas é a maneira de todos nós intervirmos e a forma que nos satisfaz mais. Como se tratava de uma banda nova, chegou a uma altura em que resolvemos gravar o material que já tínhamos em formato ‘live’, basicamente para perceber no computo geral se as coisas estavam a resultar como entendíamos. Foi aí que percebemos que poderíamos melhorar muitas partes de músicas, acertar alguns ritmos, ir á procura de algo mais. Na verdade, achamos mesmo que esses meses extra para afinar o motor fez com que o álbum soe muito mais coeso e catchy”.
«The Well Of The Lost Children», assim se chama o trabalho, contou desde logo com a preciosa ajuda de OJ Laranjo, ligado aos ANGRIFF, tendo este escrito todas as letras para o disco. Toda a gravação e produção do mesmo ficou entregue a António Baptista nos Doomed Studios, com edição em CD através da Doomed Records. Curiosamente, à estreia sucederam-se logo várias datas. “É ao vivo que uma banda traduz a sua essência”, explica o também produtor. É “por isso é que é uma banda e não um projecto, aliás, trabalhamos para tentar ser as mais naturais possíveis ao vivo e em estúdio. A única coisa que não tocamos são as partes de teclados, que realmente foram um teste de estúdio a que acabámos por achar muita piada. Toda a nossa produção é feita para podermos replicar ao vivo da forma mais igual ao CD possível. Tinha de ser assim, é o nosso ADN. Não é fixe ir ver um concerto de bandas que soam super bem estúdio e depois ao vivo parecem bandas de garagem. Nesta questão, sinceramente, até gostava de deixar a minha opinião pessoal, de que está a matar-se um pouco a vibe da música. Ver concertos de bandas que depois não conseguem replicar o que têm em CD torna-se mau. O pessoal começa a exagerar nas produções e poucas bandas depois conseguem ter know how e técnica para pôr isso em palco. Nós tentamos ser o mais orgânicos e analógicos possíveis em estúdio, para depois conseguirmos ter a mesma vibe e feeling ao vivo.”
De forma não propositada, acabam a engrossar um grupo de bandas nacionais que vão surgindo no campo do death metal old school. Com uma voz bem cavernosa, sem soar forçada, a música segue um rumo clássico, centrado naquilo que se fazia do outro lado do Atlântico. Com uma vertente “metal” nas melodias, e uma dinâmica interessante, o som dos TVMVLO não procura a velocidade ou o carácter mais épico das composições. Era assim que se revia o disco, numa das últimas edições em papel. Um trabalho que surge suave, numa guitarra acústica, com um baixo a acompanhar. É a abertura com «Premonition (Of The Fall)», mas em «The Suicide Vendor» o death arranca, mais rápido que brutal, não escondendo a melodia. Tome-se o tema-título, em que a bateria está lá para mais que marcar ritmo e a guitarra não se coíbe de solar. Certamente que uma segunda guitarra daria outra dimensão ao som do grupo, apesar da dúvida sobre ser essa a pretensão, para permitir aos solos crescerem ainda mais.
Os concertos ao vivo, permitiram o reconhecimento e novos convites. “Na realidade sempre estivemos os três com muita confiança neste material do grupo. Sentimos que era algo espectável, porque somos fãs deste género de som, mas estávamos completamente tranquilos em relação à reação das pessoas e da própria imprensa. Felizmente tem sido superpositivo em ambas as partes”. Sinal disso, um terceiro vídeo, não programado, mas que resultou logo da primeira actuação ao vivo. Chegou assim «Desolation Fields». No futuro imediato, a passagem pelo Porto DeathFest com nomes como VOYANCE, VOIDWOMB, NECRO CHAOS, SKINNING, ETERNAL STORM e MASTER. E desenganem-se os que pensam que os BASALTO ficaram em reserva. “Estamos a acabar de fechar o novo álbum. Será estimável um disco novo em 2022. Vamos ver como corre o processo. Não temos pressas, será o quinto registo da banda, não queremos lançar um álbum só por lançar, queremos mesmo aprumar todo o material para ser um disco significativo. Temos oito músicas novas, mas posso dizer que deitámos fora mais de dez. Queremos mesmo lançar um álbum bom, tanto por nós, como pela quantidade de pessoas que nos segue e que nós entendemos que temos de dar o nosso melhor a mostrar algo único”.