O primeiro sinal de vida dos RESURGE surgiu em 2020, com o single «Ruthless Intent To Obliterate», que só existe em formato digital. Apesar disso, o grupo resulta do final dos UNDERNEATH, banda também de Tomar. Nas palavras de Luís Neves, “os Underneath acabaram numa altura em que eu estava bastante activo com os Brutal Brain Damage, o Ricardo ia mudar-se para a Áustria, o Miguel também já não estava muito presente, e era muito complicado arranjar músicos na nossa zona, daí o fim dos Underneath”. O quarteto teve existência entre 2001 e 2013, registando o álbum «Gruesome Evolution Respawned», em 2012, que foi lançado através da Dethstar Wreck’ordes. “Uns anos mais tarde, os BBD acabam, o Ricardo volta da Áustria, ou seja, estávamos todos por Tomar sem grandes projectos”, recorda Luís, referindo o reencontro “numa noite”, onde surgiu a “ideia de voltarmos a reunir-nos, mas deixando os Underneath para trás com vista à criação de um projecto de raiz”.
É assim que nascem os RESURGE, mais na veia do OSDM e deixando para trás o death técnico em que se inscrevia o grupo anterior. A actual formação integra Luís Neves na guitarra, Sérgio Garraio no baixo e Ricardo Neto na bateria. Na voz está David Bento, porque “no início de 2021 o Miguel Fonseca saiu da banda e falei com o resto da malta a dizer que conhecia alguém para o substituir”, refere o guitarrista. “Conheci o David no Vagos em 2019 através do irmão mais velho dele; na altura tínhamos ficado a acampar com a minha malta e a dele no mesmo spot”, explica. “Conversa para aqui a para ali, ele mostra-me umas demos com a voz dele, gostei bastante do registo e disse-lhe logo que um dia iriamos fazer musica juntos”. Talvez por isso, a transição de vocalistas tenha sido bastante rápida. “Fizemos um ensaio com o David para ver se correspondia aquilo que pretendíamos, para mim já era uma evidência e para o Garraio e o Ricardo também foi”, diz o músico. Pelo meio surgiu a mudança sonora, mesmo que continuando no campo do death metal.
Luís esclarece que, apesar de rótulos em contrário, “os Underneath nunca foram uma banda de tech death, mas sim de death metal, agora os Resurge vão buscar mais influências ao old school”. Isto porque os músicos quiseram “logo de início marcar essa diferença”, porque o que tinham feito no passado já estava arrumado “e os Resurge tinham que soar diferente”. Apesar dos anos decorridos, o disco surge com quatro temas, ao longo de apenas 17 minutos de música. “O álbum esteve sempre na nossa mira, e já tínhamos falado com as editoras Miasma Records e Vomit Your Shirt, mas voltámos à estaca zero por causa do quadro pandémico, sem concertos e com o único meio de divulgação ser através das redes sociais, para uma banda nova não é o suficiente”, explica o guitarrista. “A promoção tem que ser feita tocando ao vivo e, tendo em conta que o investimento para um álbum é maior, decidimos lançar um EP somente pela via digital”. As duas editoras envolvidas, Miasma Records e Vomit Your Shirt, “decidiram anunciar a banda e lançar este trabalho e estamos muito gratos por isso”, confessa.
De «Breeding In Vain», tema- título e de abertura do EP, até «Supreme Wrath», que o conclui, a referência é o death da velha escola, lento, por vezes compassado, algo psicótico até, como aos dois minutos de «Diocesan Filth». Ali na necessidade de encontrar uma referência, poderá passar pelos SIX FEET UNDER, na fase inicial. «Renaissance Of Evil», totalmente instrumental, mostra um outro lado da faceta do grupo, com a guitarra a assumir um protagonismo maior que nas restantes músicas, pena apenas serem só dois minutos de música. No balanço, o que temos aqui um registo com algum groove e alguma melodia, logo patente em «Breeding In Vain», e um by the book grandes invenções. Bom baixo, bateria no sítio certo e a guitarra a fazer solos e pontes como se pede. Tudo com a voz competente de David em destaque. Ao vivo, o grupo estreou-se este ano, com o primeiro concerto a acontecer no Metalpoint, a 29 de Janeiro.
O panorama mundial, e nacional, em particular, viu surgir recentemente muitos nomes com a referência OSDM, mas será que estamos perante uma moda? “Na minha opinião, não acho de todo que seja moda, sempre existiram bandas de old school death metal e ao longo dos anos foram surgindo bandas a praticar este género”, responde o músico, colocando o peso desta tendência na mediatização do género. “Para mim há uma banda que fez com que o death metal estivesse outra vez na ribalta, que foram os Gruesome”, diz o Luís, referindo-se ao super grupo que surgiu como homenagem aos DEATH e evoluiu para as suas próprias composições. Com ou sem modas, a verdade é que os RESURGE deixam um bom cartão de visita neste primeiro trabalho, disponível não só em CD, mas também nas plataformas digitais aqui e aqui.