São três e estão todos associados a outros projectos. Aliás, um deles, Marco Marouco, é um verdadeiro veterano da cena underground nacional, presente em palco ao lado de nomes sonantes, mas sem assumir o protagonismo devido. O primeiro som chegou através de um vídeo-clip para o tema «Midnight», e essa seria a primeira pista para o álbum homónimo que viria a ser editado há semanas atrás e uma das sete faixas que o integram. Marouco, que assume aqui as cordas, tem um currículo bem recheado, que começo quando formou os GUILHOTINA em 1987, que passaram a chamar-se EXTREME UNCTION em 1990. Desde aí, entre grupos espanhóis como SABATAN e portugueses como PERPETRATÖR, ELS FOCS NEGRES ou FILII NIGRANTIUM INFERNALIUM, foram várias as bandas em que esteve como guitarrista. Há, no entanto, outros “cadastrados” do rock a embarcarem nesta viagem, “O arguido da voz, Flávio Lino, tem um cadastro desde o power metal dos Deadly Force ao heavy metal dos Iron Beast e Airforce”, denuncia Marco. “O arguido da bateria, João Pedro Ventura, é o mais cadastrado, desde Dawnrider, Patrulha do Purgatório, Bloody Sam, Vitos Bacalhau Band e mais uns crimes pendentes, os coros ficaram a cargo do arguido Alex VanTrue, que tem umas quantas bandas de tributo”.
“Estava de férias em plena pandemia, os senhores da autoridade estavam sempre à porta a fazer aquelas perguntas dictatoriais, a máquina fotográfica estragada… Olhei para a guitarra, não lhe pegava há uns dois anos, e decidi passar duas semanas em casa a fazer música; guitarras, baixo, baterias”. É assim, entre o desencantado e cinematográfico, que Marco descreve a génese dos ON THE LOOSE. O guitarrista tinha abandonado os projectos em que participara, anunciando mesmo o afastamento da música. Na altura, foi também arrastado para os ELS FOCS NEGRES. É, de resto, o próprio músico que o revela, sem grandes pretensões. “Desisti deste mundo de tentar ser músico no momento em que me deram uma sandes como jantar no último concerto que dei. Fiquei bastante triste com tudo, os pagamentos que as editoras fazem às bandas… O músico, o criador de todo o negócio é o fim da linha e fica com as migalhas. Decidi pendurar os coletes e dedicar o meu tempo a aprender outras coisas entre as quais a fotografia. Pelas razões dadas decidi fazer tudo eu, toda a fotografia do disco é minha, toda a música e edição. Entretanto, os amigos do costume convidaram-me para participar em Els Focs Negres e pouco mais”. Para as letras, convidou outro cadastrado de longa data na cena nacional, Rick Thor, que integra com Marco os PERPETRATÖR.
Sobre este disco não há muito a dizer. Imagine-se questionar a história de um bom bife, ou querer saber as propriedades químicas de uma aguardente de medronho. Não há muito para explicar. Também não há espaço para converter o vegano à proteína animal, ou o abstémio ao prazer do álcool. Destina-se ao conhecedor e basta. Música de excelente cepa, que se revela logo em «Midnight». Na abertura do disco, revelam logo que há ali uma vertente TROUBLE ou CANDLEMASS. Todo um disco gerado a partir da primeira parte de «Hallowed Be Thy Name», para o que contribui em muito a voz de Flávio Lino, num tom que por vezes recorda Bruce Dickinson nos temas mais lentos e épicos de IRON MAIDEN. A escolha do som seguido é explicada pelo próprio de forma mais prática e desinibida do que se poderia esperar no discurso de um veterano da cena nacional. “A razão foi muito simples, não tinha dedos para tocar rápido, tanto tempo parado a coisa não dava. Decidi fazer a música de que gostava e que conseguia, muito NWOBHM, Candlemass, Warning, While Heaven Wept… Aproveitei para fazer o que queria, é uma coisa minha e no início seria um projecto instrumental com orquestra, por isso harmonizei até sete guitarras. Deu um gozo do caraças, depois com o atraso dos maestros decidi falar com o Lino para ver se podia desenrascar.Ele estava disponível e lá gravou as vozes com o Alex nos coros”. A referência aos maestros é real. O músico planeava um disco instrumental com orquestrações. Foram contactados três maestros diferentes para as orquestrações. Como estas não avançavam, Marco optou pelo caminho mais tradicional.
Apesar da veterania, omúsico está bem atento a novos nomes do power e thrash metal europeus, a que não será estranho participar nos PERPETRATÖR. “Não quis ir pelo caminho do doom sinfónico porque há aos pontapés e é muito maricas para mim, não é heavy suficiente e o que eu gosto é de heavy metal sem gótiquisses…fiz um disco de heavy metal lento que tem o rótulo de epic doom metal”, assume. Sim, no trabalho de estreia, não há pretensões de modernizar, está lá todo o classicismo, goste-se ou não. Ouça-se «Deceiver» e não é difícil perceber do que se fala aqui. “Agora é promover o disco o mais possível para tentar vender a edição toda”, diz Marco. “Metade já foi, fazer vídeos, dar entrevistas, esperar por mais reviews, de momento felizmente estão a tratar bem o projecto e pouco mais. Depois vou começar a produção do seguinte, que já tem a sessão fotográfica para o artwork feita e música composta, é o produtor ter disponibilidade para começar a mexer nos botões e falar com uma ou outra pessoa para ver se quer participar no disco”. Quanto a concertos, esses parecem distantes no momento. Os ON THE LOOSE são “um projecto, não temos planos de ir para a estrada, cada um tem no mínimo duas bandas, logo é impossível conjugar tudo. De momento já tenho o próximo disco todo composto por isso é para continuar, se calhar com mais uns convidados”. Resta esperar, por estes devils on the loose.