É um museu virtual, mas tem sido bem palpável o seu trabalho. O Museu Heavy Metal Açoriano surgiu durante a pandemia, existindo apenas no Facebook e no Bandcamp. Em primeira instância surgiu uma colectânea inédita de seis cassetes que reuniram diversas maquetas de várias bandas açorianas. Ao mesmo tempo, surgia um programa de heavy metal na rádio local. Depois surgiu a primeira colectânea, em 2021, já em CD, abrangendo dezassete bandas. Algo que Mário Lino, responsável por todo o processo e promotor do museu, classifica como “uma aventura e uma excelente experiência”. De acordo com Lino, “há muitos anos que não havia noticias do que se fazia nos Açores em termos de metal”, por isso, “ter surgido uma compilação do que cá se fazia, e um conjunto de 17 bandas, dos mais variados estilos foi uma enorme surpresa para a comunidade heavy metal nacional e o interesse foi abismal”. Neste processo de promoção de bandas açorianas foram disponibilizados “CDs gratuitamente nas lojas, em revistas, em rádios, em distros, e para serem distribuídos como brindes”, ficando a perfeita noção de que desta forma, a colectânea “chegou a muitos e aos heabangers mais entusiastas”.
O nosso interlocutor continua: “É engraçado quando faço novas amizades e pergunto ‘ouviste falar na compilação Açoriana? Se quiseres ofereço-te’, e a resposta que muitas vezes tenho é ‘já tenho, fui à Loja X e o Y da loja deu-me de bónus quando comprei o álbum dos Z”. Uma forma de fazer “marcar a presença do metal Açoriano nas colecções dos nossos headbangers”. Talvez por isso, em menos de um ano tenha voltado a meter mãos à obra e organizado o segundo volume desta colectânea. “Estava muito duvidoso que em apenas um ano volvido, não tivesse novamente trabalhos ou bandas que justificassem novo CD, contudo, quando voltei a lançar o desafio às bandas locais, muitas repetentes avançaram logo com novos temas, também surgiram algumas novas e até houve duas que estavam ‘encalhadas’ há quase dez anos e me abordaram e disseram ter som novo que desejavam ser publicado”. Novamente, o disco é versátil, reunindo nomes que já antes tinham aparecido, e trazendo novos à ribalta. O arranque faz-se com um instrumental fortemente inspirado pelos Iron Maiden, mas com toadas de prog, a cargo dos AFTER THE RAIN. Depois há metal para todos os gostos, desde o groove um pouco industrial de DRVZKA, ao punk dos PALHA D’AÇO.
Sobre o alinhamento, Màrio LIno diz que “Não podia deixar de fora as bandas que voltaram a chegar-se á frente com novos temas, caso dos Riots at Lobe, Depths Of Mankind, Venên, Drakh, Veia, Drvzka, Dark Age Of Ruin, Palha d’Aço“. No entanto, “o sangue totalmente novo”, surge com os Even Mind, After the Rain, Finding Sanity, The Absolute End, Happy Kemper, Damage Device. Há ainda espaço para os Crossfaith e os In Peccatum, “aquelas duas bandas de que não tínhamos sinal de vida há quase dez anos, e que agora voltam ao activo com temas novos”. O tema dos In Peccatum, «Despondency», resulta mesmo como um dos mais bem conseguidos no disco. De resto, “o sucesso do Vol #1 e a toda a rotação daqueles temas nas rádios e podcasts no último ano”, explica Lino, acabou mesmo por trazer uma visibilidade que impulsionou as bandas a participarem, sobretudo porque a «Azores & Metal» não foi apenas “mais um CD com temas Açorianos, mas também uma grande exposição e rodagem destes temas pelos canais sonoros”. Face à qualidade do material, e às muitas bandas presentes, tomou-se uma decisão, considerando que os músicos “mereciam muito mais que, novamente, um CD cardsleeve grátis, por isso investi em algo mais profissional e completo, optei pelo formato digipack desta vez”, elabora.
Face à sua história, os Açores foram sempre terra de emigrantes, com muitos deles, ou os seus descentes, a revelarem-se músicos de renome internacional. Nuno Bettencourt, Steve Perry e Joe Perry, são apenas três exemplos. Neste campo, também M1ke faz recordar esta veia migrante dos açoreanos. Trata-se do “projecto dum músico da ilha Terceira que, nos anos 2000, fez parte de uma banda importante na época, e que depois foi para Lisboa estudar e lá fez parte dos Growing Titans”. De momento, o músico “está em Espanha a batalhar com M1ke, achei que merecia fazer parte deste colectivo de bandas açoreanas, porque é sangue Açoriano que embora não esteja no arquipélago, esta super activo nos arredores”. É aquele momento em que grupos continentais, com elementos açorianos, começam a colocar-se em bicos de pé, à procura da fama num eventual terceiro volume… Que ainda está longe da realidade, mas não banido dos planos. “Seria um excelente projecto futuro, o próximo passo e lógico na saga, mas o tempo dirá e se isso acontecer será porque o panorama açoriano está a fervilhar e não está a regredir”. Praticamente todas as bandas pesadas das nove ilhas estão presentes nestas edições, “sei que algumas do Vol# 1 não participaram porque estão a trabalhar em novos temas e não os tinham prontos a apresentar, ou até porque estão a guardá-los para futuros trabalhos próprios, mas neste Vol#2 apenas 17 mostraram interesse em participar e não deixei de fora nenhuma que tivesse produto a divulgar”. Para já a certeza que o “MHMA, Museu Heavy Metal Açoriano, está a trabalhar para manter vivo e incentivar os músicos e as bandas a lutar pelo sucesso”, refere.
Neste âmbito, “a vontade de produzir e criar novos projectos em prol do heavy metal Açoriano é actualmente o meu hobby e que me está a dar muito prazer”, afirma Mário Lino. “É lógico que as ideias são muitas, mas quando as reúno caio em mim que não é viável e que podem ser um grande risco”. O promotor tinha “muito gosto que as entidades locais abrissem os olhos e vissem que temos muita matéria prima, que precisa de oportunidades para criar, mas está a ser uma luta frustrante”. Fica a vontade de “lançar trabalhos mais completos de bandas locais”. Em jeito de remate, ou dica, Lino comtempla a LOUD! com uma curiosidade, “o metal nos Açores já tem um histórico de mais de 30 anos e não existe um único vinil de metal Açoriano. Ora aí está um desafio que tenho em mente e tinha gosto em fazer este marco, e ter o meu nome na criação de um vinil de metal açoriano”.