Inscrevem-se num conjunto de grupos de death metal, quase sempre melódico, que surgiram no virar da década na região portuense. Diferentes entre si, mas com pontos em comum, que passam mesmo pela partilha de alguns elementos. Uns singraram mais depressa que outros, alguns ficaram pelo primeiro disco, outros vão já no segundo. Os MOONSHADE integram assim um lote onde podemos encontrar também os STOZ’, NIHILITY, IN VEIN, APOTHEUS ou LYFORDEATH. Tal como no trabalho de estreia, data de 2018, também neste novo disco se percebem as influências dos AMORPHIS (aqui mais destacadas que antes), e dos AMON AMARTH, se bem que estas últimas surjam mais esbatidas. No entanto, o grupo começa a construir uma identidade mais própria, em particular pela presença de vozes femininas, como acontece em «A Treatise Of Human Nature», que encerra o disco numa toada mais épica, bem servida de guitarras acústicas. No total são nove temas, num alinhamento que arranca com a rápida e intensa «Epitaph» e prossegue até ao já referido tema final, num trabalho conceptual em que se encontram ainda temas canções como «Valley Of Dying Stars», uma das faixas já destacada em vídeo-clip. Fazendo uma súmula do tempo que passou desde o lançamento da estreia, foram quatro anos de espera por algo que Ricardo Pereira, vocalista, descreve como “um disco tremendamente ambicioso, que envolveu coordenar uma equipa de cerca de duas dezenas de pessoas para tudo, desde compor e gravar, envolvendo também as participações especiais, misturas e masterização, o artwork, vários vídeos incluindo dois vídeo-clips, design de merch”. Depois, recorda o músico, ainda tiveram de “promover tudo decentemente, sendo que o álbum foi lançado por conta própria, sem apoio de editora, ou seja, ainda ficou por nossa conta a produção dos CDs e tudo o resto que uma editora faz habitualmente”.
De acordo com o Ricardo, “certos detalhes levam tempo; por exemplo, a nossa teima em sermos nós a compor toda a música do álbum, inclusive orquestras, em vez de simplesmente encomendá-las a alguém de fora como muitos fazem. Também fizemos questão de sermos nós a fazer a captação e edição, graças ao talento do nosso guitarrista Pedro Quelhas enquanto produtor. Apesar das exigências do mundo de hoje, onde a música ‘tem’ de ser produzida a metro para se manter a relevância, ainda preferimos fazer as coisas bem, demore o que demorar, e quem nos conhece sabe que nunca damos menos do que o máximo que conseguimos”. Claro que, como banda jovem, o colectivo não ficou isento de mudanças de formação, com Fernando Maia a acupar o lugar de baterista, e Luís Dias a entrar como guitarrista. Ambos vêm dos PHASE TRANSICTION, com Sofia Beco, responsável pelas linhas vocais em «The Antagonist», a dividir as vozes femininas com Sandra Oliveira, responsável por «Artemis» e a já referida «A Treatise Of Human Nature», além dos coros. “Com os Moonshade, tentamos sempre tornar cada lançamento único à sua maneira, e neste álbum as vozes femininas começaram como sendo uma bola curva para quem já nos conhecia “. Apesar das mudanças, ainda foi Diogo Mota a gravar a bateria, mas a sua presença num outro grupo com maior projecção, levou-o a afastar-se do projecto. “Não somos o tipo de banda que faz um álbum, espeta-o na net e fica à espera que chova”, relata o vocalista, “Vamos atrás, promovemos a nossa música, praticamos imenso, preparamos bem os espectáculos ao vivo, e usamos frequentemente outras capacidades que temos além da música para sermos uma máquina extremamente funcional”. Acontece que toda essa atitude torna tudo “exaustivo, logo só dá para estar na banda quem está a 1000% e que sente real paixão não só por música ou por metal, mas pelos Moonshade, e que saiba canalizar essa paixão de forma pró-activa, lidar com isso sem perder o gosto pelo que fazemos, e acima de tudo, que tenha fome de fazer disto algo com verdadeiro impacto”.
«As We Set The Skies Ablaze» surge como trabalho conceptual, embora inicialmente não tenha sido pensado assim. “Não foi planeado, fomos puxados para aí a partir do momento que percebemos que as músicas, ainda que escritas em separado, tinham um fio condutor que as unia”, explica o guitarrista. De repente, o grupo começou a perceber que os temas falavam “de onde viemos, onde estamos, e para onde vamos enquanto espécie”, por isso, “com uns pequenos ajustes”, perceberam que podiam transformar o «As We Set The Skies Ablaze» num “manifesto pelo futuro da humanidade, uma obra cujo tom em partes iguais de épico e caótico reflecte as maravilhas e horrores desta curiosidade cósmica que somos nós”. Quanto à escolha do tema, “para o mal ou para o bem, o ser-humano é a única evidência que temos do cosmos a reflectir sobre si próprio, seja sob forma de arte, ou qualquer outra, nada é mais humano do que isso”. Ainda com o anterior disco, e mesmo sem apoio editorial, o colectivo conseguiu concertos em Espanha, numa pequena digressão. “Adoramos a Ibéria, mas voltar a ficar por aqui outra vez seria estagnar”, afirma o músico. Neste disco assumem estar “de olho na Europa central, e estamos a pensar dar umas voltas com outra banda lusa excelente, à semelhança do que fizemos com os Apotheus”. Tudo isto são ainda planos “bastante embrionários”, claro. E sempre pelo pulso dos próprios, pois nos contactos com editoras não resultaram grandes propostas. “Das respostas que recebemos, não nos identificámos com nenhuma, logo decidimos lançar por nós próprios. Mesmo assim, até chegámos a números de vendas e streaming que competem com bandas assinadas por majors, portanto há algo devemos estar a fazer bem”, reitera o nosso interlocutor. Pelo menos com «As We Set The Skies Ablaze» fizeram, e bem, um excelente disco de metal melódico.