Surgiram primeiro com fotos. Forma estranha de apresentar um a banda, mas que se torna compreensível numa época tão visual como aquela em que vivemos. Tem de se recuar a finais de 2020 para recuperar essas primeiras imagens. Profissionais q.b., serviam de apresentação aos membros do grupo. LILITH’S REVENGE era o nome associado a todos. Só depois veio a música, com um primeiro tema intitulado «Hand On Heart» – a voz cuidada, algo operática, assentava numa cama de melodia, dentro de um rock tenso mas nuances muito interessantes. O percurso iniciava-se assim, distante dos palcos. O mediatismo acaba depois por trazer um segundo single, «Revenge», gravado a meias com o sueco Björn “Speed” Strid, dos SOILWORK e THE NIGHT FLIGHT ORCHESTRA. É uma visita ao metal melódico mais orelhudo, básico, mas cativante. Os singles continuaram com «Queendom», uma das faixas que mais se identifica com o nome do grupo, através de uma letra que reflecte a luta pelo empoderamento feminino. “Somos uma banda ainda muito recente, que tem de fazer o seu próprio trabalho a nível da divulgação”, explica Paula Teles, vocalista. “Tentamos que seja feito da melhor maneira possível, felizmente, temos algumas pessoas e meios que nos ajudam e que vão falando do nosso nome” afirma, explicando a forma usada para que “a evolução do nosso trabalho chegue a um maior número de pessoas possível.”
O mediatismo, conjugado com o momento, levou o quinteto a ocupar espaços de transmissões em streaming. O palco já existia, mas ainda era uma mistura entre virtual e sala de ensaios. O disco anunciava-se, mas ia sendo adiado. Surge então um novo single, «The Sword», e a orientação musical muda ligeiramente. A melodia persiste, mas o grupo torna-se mas negro, alguns até diriam opressivo. Um riff de inspiração quase oriental assenta numa guitarra ritmo cortante. A melodia desabrocha para as linhas vocais, mais contidas que antes. O diafragma substitui-se à adrenalina. Finalmente surge o álbum, «Children From Eden», mais um vídeo-clip a acompanhar o tema-título e, finalmente, dá-se a estreia ao vivo. Com edição de autor, desaparecem os teclados dos primeiros temas. O hard rock está mais presente, desde logo com «White Crow», malha que mistura DEEP PURPLE com southern rock, num enquadramento actual e que é mesmo das mais fortes no disco. «Carry On» é um tapete para a voz, sempre muito presente ao longo do disco, um pouco por ser feminina, outro por ter uma escola que o facilita.
«Start A Fire» é outra malha de melodic rock na veia european metal, tivesse teclas e falar-se-ia nos WITHIN TEMPTATION. Depois, o arranque de «Sweet Oblivion» traz à memória a guitarra de Gary Moore. Outros temas pedirão versões acústicas, outros uma nova roupagem, apenas. É um primeiro trabalho, com alguma ingenuidade, arestas por limar, mas promissor, cheio de vigor e a tocar num campo pouco explorado por cá. É a própria vocalista a defender o som em que se querem inserir, dizendo achar que “em Portugal há espaço para tudo, a nossa sonoridade não se enquadra num género específico, mas fomos muito bem aceites pelo undergroud do metal português. Isso só prova que as pessoas ligadas ao metal são bastante abertas e flexíveis. Estamos muito bem assim, o metal em Portugal é uma família e nós gostamos dessa perspectiva”. Como banda jovem, as alterações de formação, já aconteceram, resultado do normal crescimento. Actualmente os LILITH’S REVENGE são formados por Paula Teles, na voz, Paulo Silva, na guitarra, Edu Silva, no baixo, Bruno Sousa, na guitarra e, como baterista de sessão, Felipe Batista. Para lá da mudança na formação, estranhamente, também os primeiros singles foram deixados fora do disco, descartando-se assim, por exemplo, a colaboração com Björn. Claro que, apesar disso, os temas “merecem” ser editados. “Estamos a pensar na melhor maneira de o fazer, mas “primeiro queremos ver como vai ser aceite o «Children From Eden», um passo de cada vez”, diz-nos a cantora.
Entretanto, voz feminina, rock melódico, obviamente que a “praga” do female fronted metal, surge logo a um canto, a assombrar. “Isso é um tema sensível”, diz ironicamente Paula. “Não quero que o nosso trabalho seja marcado pelo meu género. Somos cinco pessoas que gostam de música e de estar em palco”. Num discurso politicamente correcto, a cantora afirma que “o género não vai influenciar, em nada, a qualidade do nosso trabalho. Há excelentes cantoras que não tentam a sua sorte apenas porque acham não ter a imagem necessária! Isso é uma violência! Eu quero fazer o que gosto sem ter de me preocupar com o que os outros vão pensar do meu cabelo! É suposto a sociedade ser mais evoluída do que isso”. É suposto sim, mas uma das próximas actuações do colectivo é num festival dedicado aquilo que alguns classificam como “um estilo”. Afinal, alguma sociedade pode não estar ainda assim tão evoluída.