Tudo se inicia em Dezembro de 2021, com a semente de grupo nascida da vontade por arte de Tiago Pereira de criar um projecto a solo. Nas palavras do próprio, o nome ICOSANDRIA “deriva de uma classe de plantas que apresentam flores hermafroditas e o conceito sonoro, em si, prende-se precisamente com essa ideia de criar algo a partir da constante sinergia e transição entre atmosfera e melodia com um lado mais pesado e intenso”. Em jeito de resumo, “tal como as flores apresentam esse lado “feminino” e “masculino” em simultâneo, também nós procuramos essa dicotomia na nossa sonoridade”. Dicotomia conseguida, pois, tanto navegam nas suaves ondas de um post rock melódico, como somos assombrados por vocalizações guturais, algo que acontece em «Apricus», faixa claramente influenciada pelos recentes trabalhos dos Deafheaven. Inicialmente, Tiago apenas pensava num projecto que passaria por “fazer algo instrumental e somente em estúdio”. Porém, “à medida que a pré-produção foi decorrendo e fui mostrando as demos a músicos, os quais também são amigos próximos”, como Rui Moreira, Miguel Oliveira ou Nuno Lobão, “houve interesse em integrar o projecto e transformá-lo numa banda”. De ICOSANDRIA, a semente, nascia algo mais ambicioso que “permitisse exposição ao vivo e um crescimento mais colaborativo, em vez de o encarar como um projecto a solo”. Tiago pegava assim na sua experiência nos Ashes & Waves, e Nuno Lobão naquela acumulada nos Before And After Science, grupo de post-rock/metal do qual é integrante e membro fundador.
Rapidamente surge o presente EP, em que “todas as músicas e letras foram compostas por mim”, revela Tiago, também executante de todos os instrumentos, “à excepção das baterias, que foram tocadas pelo Miguel Oliveira e captadas no Caos Armado, pelo Dani Valente, que ficou também a cargo da mistura e masterização”. No caso da faixa «Ramifications», esta já contou “com a primeira participação, em termos de composição e gravação, do Rui Moreira”. A coaptação progressiva dos vários elementos resultou “num esforço a solo”, por oposição ao “material futuro em esforço colectivo, mais forte em termos de composição e ideias de todas as partes envolvidas”. Na sua apresentação, o grupo refere influências dos Alcest, Les Discrets, Deafheaven e Opeth. No fundo, e também, são influenciados por “tudo que invoque um sentimento de melancolia, misturado com nostalgia, enquanto a principal inspiração para as letras vem da filosofia, problemas da humanidade, e da natureza, misturado com motivações e experiências produzidas da vida diária”. Ao longo de todo o trabalho, a música flui, com melodias delicadas, como em «Ramifications», que remetem para o lado mais emocional dos já referidos Alcest e Deafheaven. Variado ao longo das quatro faixas, Tiago não tem problemas em ver este EP como “um cartão de visita e uma introdução ao universo dos Icosandria”, pois existe, “um disco em fase de composição, praticamente completo”. Neste trabalho existe “um conceito inerente aos temas que gira em torno da manipulação e coação psicológica”, mas “em termos líricos, não é algo óbvio ou que seja fácil de decifrar, pelo que as músicas podem assumir múltiplas interpretações, não estando demasiado presas à realidade”.
O disco abre com um tema longo, intitulado «Eternal Void Of Amnesia», em que um voice over funciona como introdução para a jornada. A música rapidamente se torna violenta e rápida, evoluindo para diferentes estados de espírito. Segue-se «Roshinu», cujo título Tiago associa ao “nome de uma personagem da manga japonesa “Berserk”, cujo autor, Kentaro Miura, faleceu no ano passado. O conceito surgiu quando recebi a noticia do falecimento do autor, estava, sensivelmente, a meio de leitura da obra e os acontecimentos do arco dessa parte da história são paralelos, de certa forma, aos conceitos que são apresentados nas restantes músicas do EP”. É uma faixa mais electrónica e, sem dúvida, mais afastada das restantes, embora acabe a soar dentro do estilo. «Ramifications» antecede a bela «Apricus», que encerra o disco com a presença de uma voz femininae um título que evoca “uma palavra em latim, que significa ensolarado”. «Icosandria» é uma novidade fresca, que agora se pode escutar online e que se espera receba edição física em breve, pois a qualidade merece-o.