Basta escutar a «Intro» na abertura de «H/O» e o radar fica sintonizado para post-rock. Entra-se dentro de «Tainted» e nos seus quase dez minutos de música e sente-se a dinâmica, fortemente influenciada pelos Isis, mas também por nomes como Cult Of Luna. Está lá a gradação sonora, as diferentes densidades, ligadas por um pormenor, como os pratos, a meio do tema, que levam para uma maior distorção e densidade, numa dinâmica em que até o bombo, e o seu pedal-duplo, parece ter mudado a afinação. Depois, uma guitarra muda de novo o jogo e volta-se a um som mais contido e relaxado. É essa a viagem sonora que «H/O» proporciona. O percurso iniciou-se em Maio de 2016, “o Tiago propôs juntarmo-nos para tentar compor algo diferente do que até então fizemos em outras bandas”, narra o guitarrista Ricardo. “Inicialmente a ideia seria sermos apenas dois, só guitarra e bateria, mas à medida que íamos compondo, fomos sentindo falta de algo mais para complementar”. Começaram com Tiago na bateria e Ricardo na guitarra, mas entretanto “o Hakän, que já conhecia o Tiago e curtia as músicas que já tínhamos prontas, soube que precisávamos de um baixista e propôs-se a uma audição”.
Estranhamente, o nome surge tirado do título de um disco de Emma Ruth Rundle, «Some Heavy Ocean». Aqui o “estranhamente” resulta apenas de não ser o som da cantora norte-americana que aqui se encontra. “O nome chegou mais tarde, já depois do Hakän se ter junto à banda”, contam. Sem grandes deslumbramentos ou fantasias, assumem que “era porreiro dizer que há todo um significado por trás do nome, mas, Heavy Ocean foi inspirado precisamente no nome do álbum da Emma Ruth Rundle, todos concordámos que o nome representava bem a nossa sonoridade e assim ficou”. O percurso até este encontro, em sala de ensaios, ou disco, foi relativamente simples e sem grandes detalhes. “O Tiago tem outra banda, os Lhabya, onde é vocalista e principal compositor”, prossegue o guitarrista que assume ter estado “numa banda de metalcore durante alguns anos”, enquanto “o Hakän, foi o baixista de Lasca”. No fundo, “a única cena em comum é que todos tocamos rock ou metal”. E tocam bem. Se «H/O» não é a maior surpresa à face da Terra, é excelente confort music, aquele som que aquece e nos faz viajar até um lugar seguro. Até mesmo «Numb», faixa mais monocromática, mas mesmo assim servida por uma guitarra solo que impregna o tema de ténue colorido. Foi ela a escolhida para single de apresentação do disco.
Quando a diversidade musical de origem exige indagar pelas influências, vem logo o aviso que se “podia deixar aqui uma lista que nunca mais acabava pois cada um de nós tem as suas”. No entanto, “bandas como Deftones, Deafheaven, The Smiths e The Cure foram sem dúvida uma inspiração quando estávamos a compor o álbum”, afirma Ricardo. O universo dos HEAVY OCEAN é instrumental, pelo que as referências a quatro nomes que possuem nos vocalistas a principal referência volta a ser “estranho”. No entanto, entra-se por «Ten Ton Heart» e está lá de facto um lado Deftones; há mesmo um pouco nu metal durante escassos segundos e bem que a voz de Chino Moreno podia entrar pelo tema dentro sem se estranhar. Deafheaven também está presente sim, mas não se pode ignorar Mogwai, Isis ou Cult Of Luna, quando se fala deste primeiro trabalho da banda, com edição auto-financiada pela banda em Agosto de 2021. Aliás, o seu som, insere-se no mesmo plano de uns MOASE, Juseph ou Fere, como se todos integrassem um movimento local. “Não acho que existe necessariamente um movimento, mas todos acabamos por ter uma ou outra influência em comum. O mais interessante é que mesmo havendo várias bandas dentro deste género do post rock ou post metal, instrumental ou com voz, todas elas acrescentam algo diferente e têm a sua própria identidade”.
No entanto, todos estes nomes referidos, possuem um elo em comum. Uma organização que levou muita música nova ao Porto e permitiu assistir a concertos de grupos que, de outra forma, demorariam a chegar a Portugal. Talvez a existência de uma Amplificasom justifique parte das referências sonoras de muitos músicos do Porto. “Foi graças à Amplificasom que descobri alguns dos meus artistas ou bandas favoritas, como Chelsea Wolfe, Emma Ruth Rundle, Russian Circles ou Deafheaven”, conta o guitarrista. “Lembro-me que, por exemplo, descobri os Juseph quando abriram para os Kadavar em 2014 no Hard Club”. Os promotores dessa agência “são extremamente importantes na dinamização de eventos musicais fora do circuito mainstream”. E quando o Verão termina, pensa-se no festival associado. “O Amplifest tornou-se um festival de referência conseguindo trazer sempre grandes nomes em todas edições. Seria impossível não serem uma referência para muitos de nós”, revela o músico.
Quando se fala de referências de grupos com vocalistas particularmente importantes, ou se afirma ter sido Emma Ruth Rundle a inspiração para o nome da banda, tem de se perguntar se a inserção de voz está prevista, mas dizem-nos que “sinceramente, não é algo que faça parte dos nossos planos, mas nunca se sabe o dia de amanhã e uma colaboração talvez faça sentido no futuro”. Afinal, não foi isso que os Cult Of Luna fizeram com a Julie Christmas em «Mariner»? De momento, é mesmo a exploração do lado instrumental que importa e Ricardo assume que neles existe o fascínio da “ausência de algo literal como uma letra, onde a música fica aberta a diferentes interpretações”. Uma opção bastante comum a grupos de post-rock, pois “a beleza deste género está precisamente na possibilidade de cada um poder experienciar a úsica de uma forma muito pessoal e poder simplesmente viajar”. No dia 9 de Setembro, o grupo subirá ao palco do Barracuda e, com eles, levam os Mount Meru. Será um concerto para assinalar o aniversário da edição do disco de estreia. “Planeamos continuar a tocar, mas estamos também a compor novos temas sendo que um deles fará já parte do alinhamento no dia 9”. Uma prenda para os presentes que acompanharam o grupo até este aniversário.