EM FOCO –» BLEEDING DISPLAY e o triunfal regresso com «Dawn Of A Killer» [entrevista + streaming]

Foi com «Basement Torture Killing» que os lisboetas BLEEDING DISPLAY anunciaram o seu regresso. Após «Ways To End», em 2006, e «Deviance», em 2014, o quinteto anunciava por fim o retorno às edições com um novo registoo. “Apesar de nunca termos deixado de estar activos como banda, foram vários os factores que não nos possibilitaram regressar mais cedo às gravações, como mudanças de membros, concertos, questões pessoais ou até mesmo a pandemia, que nos afectou a todos”, explicava Sérgio Afonso, vocalista e um dos fundadores da banda, na altura. “Todos na banda temos as nossas vidas um pouco limitadas a nível de disponibilidade, seja por razões laborais, pessoais ou outros motivos alheios ao grupo, o que não nos permite ter a disponibilidade para a música que gostaríamos”, revela. “Tivemos também uma troca de elementos, em que saiu o João Ferreira, membro fundador da banda, mas que por razões pessoais não pôde continuar connosco”.

Após o hiato e as alterações, o grupo ressurge com Sérgio na voz, Samuel Trindade e João Jacinto, nas guitarras, com o ritmo a dividir-se entre o baterista Juca e o baixista Diogo Silva. “Os novos elementos já estavam de certa forma ligados à banda; no caso do Samuel, além de ser um amigo, tinha estado a trabalhar com ele no álbum da sua outra banda, os Disassembled, e já nos tinha ajudado também na parte gráfica do layout do segundo disco”, explica Sérgio. “A entrada dele acaba por ser natural e óbvia, peca por tardia apesar de já estar na banda desde 2014. O Samuel veio, de facto, acrescentar aquilo que nos faltava e de que estávamos a precisar para continuar e inovar o nosso percurso como banda de death metal”. Segundo o vocalista, “no caso do João Jacinto, é igualmente um amigo da banda e já nos tinha ajudado em alguns concertos, nomeadamente por motivos de ausência do Diogo Silva. Depois da saída do João Ferreira e a entrada do João Jacinto, pareceu me mais do que adequada e lógica. Veio também acrescentar todas as suas aptidões técnicas sobejamente conhecidas, que partilha também nas suas outras bandas, DEAD MEAT e ANALEPSY”. O novo trabalho, intitulado «Dawn Of A Killer», teve, à semelhança de «Deviance», ediçãoatravés da VOMIT YOUR SHIRT e, agora, também pela MIASMA Records. Gravado e produzido por Samuel Trindade, também guitarrista, e restante banda, tem ainda todo o layout também a cargo do próprio Samuel. Um trabalho conceptual, em que cada uma das nove músicas conta a história de um serial killer. “Optámos por esta temática porque já a vínhamos a explorar no disco anterior. Com este disco quisemos dar uma descrição mais detalhada e pessoal sobre cada serial killer”, explica-nos o vocalista.

Convenhamos que, nos tempos que correm, a pesquisa sobre o assunto até não é difícil porque, como nos diz o Sérgio, “infelizmente existe muita escolha nesta matéria, mas as nossas escolhas foram mais pela notoriedade dos indivíduos. Claro que poderia ter sido com outros indivíduos, mas foram estes os escolhidos. O fascínio no caso dos serial killers, deve-se ao facto de sempre me questionar o que leva alguém a cometer tais actos e de forma repetida, o que faz terem a necessidade e prazer em matar e o que os leva a fazê-lo ignorando por completo o sofrimento que causam, sendo mesmo indivíduos desprovidos de qualquer espécie de compaixão ou remorsos”, explica Sérgio. “Impressiona-me também a forma como, em alguns casos, chegam a atingir estatuto de estrelas de cinema – Richard Ramirez o Night Stalker, era idolatrado e recebia frequentemente cartas de fãs; e também me impressiona como conseguem, em alguns casos, passar completamente despercebidos perante a sociedade”. Recentemente, Jeffrey Dahmer começou a ficar em foco devido à Netflix, com Sérgio a dizer que segue “com bastante curiosidade e interesse todo este hype em torno desta e outras séries acerca de serial killers, o que de certa forma vem reforçar a minha curiosidade acerca do tema. Sendo também uma tremenda coincidência, sendo que já temos as músicas feitas há cerca de dois anos, não deixa de ser curioso observar todo este interesse mediático na série”.

No novo trabalho, o grupo refina a produção e mantém um nível bem interessante no que toca a temas, evitando os denominados fillers. Excelentes solos de guitarra contribuem bastante para a qualidade de disco. Para lá da melodia introduzida pelos solos, por vezes conferindo uma toada psicótica, os temas surgem ainda reforçados por dinâmicas rítmicas que os reforçam. Exemplo de tudo isso é a explosiva «White Night». Editado no Verão, «Dawn Of A Killer» ainda está em fase de promoção, mas para já, “a crítica tem sido positiva”, diz Afonso. “Mas ainda estamos na dita fase de promoção e as críticas vão chegando. Pelo menos, e até ao momento, ainda não temos críticas negativas ao novo disco, o que será um bom indicador”. Ainda assim, segundo o músico, e estratega, do projecto, o underground de hoje em dia é muito diferente e “não tem nada a ver com o que era, por exemplo, quando nós começamos ou como era há dez ou quinze anos. As coisas mudaram muito, de facto, e as redes sociais estão cada vez a ter mais importância na visibilidade das bandas”, explica ele. “Não sei se será tão positivo, pois rapidamente se torna material descartável e poderá ser o tal flash que dura pouco, mas depende das próprias bandas combaterem isso. Hoje em dia, as bandas acabam por ficar reféns das redes sociais e da constante necessidade de as preencherem com conteúdos, pois se não o fizerem garantidamente correm o risco de ficar para trás, independentemente da qualidade que tenham. Aliás, a qualidade das bandas deixou de ser tão relevante como era ou como deveria ser, em prol do número de likes ou visualizações”.

Recentemente, os BLEEDING DISPLAY tocaram com os SACRED SIN, no RCA Club, em Lisboa. “Para já não temos muitas novidades, é algo que ainda está a acontecer”, refere Afonso, aludindo às datas futuras. “Temos o Sublime Torture Fest em Outubro e umas datas a confirmar para o ano 2023”. Nas palavras daquele que foi um dos fundadores do grupo, “não somos uma banda com a disponibilidade que gostaríamos para tocar ao vivo devido às vidas familiares e responsabilidades de cada um de nós”. Vale, por isso, o trabalho empregue em estúdio e que, neste disco, sobe de qualidade por comparação aos trabalhos anteriores. O som tornou-se mais tight, compacto, incisivo mesmo “Acho que acabou por ser a evolução natural do nosso som e do que queremos para a banda em termos de sonoridade, composição e atitude”, diz o Sérgio. Obviamente que os novos elementos também “vieram influenciar em grande parte toda a composição e nova abordagem deste novo disco, que desejávamos ser uma evolução do disco anterior, mais intenso, dinâmico, técnico e pesado o que julgamos termos conseguido”. De facto, «Dawn Of A Killer» é um dos mais fortes álbuns nacionais do ano no campo do death metal. Temas na casa dos três ou quatro minutos, alguns mais rápidos, como «The Night Stalker» ou «The Skin», outros mais técnicos, como «Basement Torture Killing» ou «Hungry Beast», servido por múltiplos e muito bons solos de guitarra. Em Portugal, seguindo o exemplo que vem de fora, o death metal, está, novamente, em ascensão, e em múltiplas vertentes. Pelo menos, nos estúdios e no campo editorial.