No final de Maio de 2021, os MEGADETH separam-se oficialmente do baixista de longa data David Ellefson. A notícia foi dada a conhecer num comunicado publicado nas redes sociais da banda, assinado pelo fundador e frontman Dave Mustaine. “Estamos a informar os nossos fãs de que o David Ellefson já não está a tocar com os Megadeth e que estamos a separar-nos oficialmente dele”, começava a declaração. “Não tomámos esta decisão levianamente. Embora não saibamos todos os detalhes do ocorrido, com uma relação já tensa, o que foi revelado agora é suficiente para ser impossível que o nosso trabalho conjunto siga em frente.” Umas semanas antes, a 10 de Maio, Ellefson, tinha-se visto obrigado endereçar um vídeo que tornava pública uma alegada interacção online com uma fã menor. David reconheceu o seu envolvimento com a mulher, mas esclareceu que ela não era menor de idade, como já tinha sido sugerido nas redes sociais, e que a situação foi totalmente consensual. Nada disso impediu, no entanto, que Mustaine despedisse Ellefson, que hoje em dia se mantém ocupado com, entre outros projectos, os THE LUCID e os DIETH, que se estreiam este ano em Portugal com uma actuação no Vagos Metal Fest.
Numa entrevista recente com o Heavy Talk, o ex-baixista dos MEGADETH discutiu a hipótese de ter tentado encontrar uma solução em conjunto com o líder do grupo para evitar o seu afastamento. “Recebi apenas um telefonema: ‘Estás despedido.’ [risos] E eu fiquei naquela, ‘o que porra é isto, meu?’ E disse, ‘algumas pessoas de merda acabaram de lançar uma bomba na minha casa. É isso? Nem acredito que é verdade. É assim que me tratas?’ Não era negociável. Ainda lhe disse que ia tratar do assunto. Pedi-lhe para me deixar lidar com aquilo. E foi isso que fiz. Dali a dois meses íamos estar na estrada e ficava tudo bem. Eram apenas alegações falsas e cenas inventadas. Mas o Dave não queria saber disso. Acho que estava a ser pressionado por outras pessoas. E é uma pena que tenha acontecido assim. Porque não se passava realmente nada. Eu tratei disso. Quando saiu a notícia de que tinha sido despedido, isso transformou-se numa merda enorme; que, honestamente, foi muito prejudicial e muito doloroso e injusto.“.
Quanto a eventuais rancores, David Ellefson afasta essa hipótese, sugerindo que a separação acabou por servir como um catalisador para uma das fases mais profícuas da sua carreira. “Não tenho escolha a não ser perdoar para poder seguir o meu caminho”, respondeu o baixista. “E não sei o que mais dizer sobre isso. Em algum momento, o dano foi feito. Portanto, segues caminho. Somos todos humanos, e é o que é. Não posso ficar a lamentar-me. Eu vi com o Dave tratou a demissão dos METALLICA, continua a queixar-se 40 anos depois. E acho que é patético. Dá vontade de lhe dizer para se revolver e parar de queixar-se de uma vez por todas. Foi assim que escolhi lidar com isso: revolvi as coisas e segui. Lancei quatro discos quando o último disco dos MEGADETH foi lançado, e acho que cada um deles é tão bom, ou melhor. Estou a trabalhar com óptimas pessoas. Quer sejam famosas ou não, isso não importa. Estou a trabalhar com boas pessoas. São seguras, são confiáveis, são homens íntegros, e acho que isso realmente faz uma diferença enorme. O processo criativo é divertido. Não é restritivo. É ilimitado.“
Em Setembro do ano passado, Dave Mustaine confessou ter ficado aborrecido quando Ellefson decidiu acrescentar uma intro ao tema «Kingmaker», após ter-lhe sido dada autorização para contribuir livremente para o álbum «Super Collider». Durante uma aparição num episódio do Trunk Nation, na SiriusXM, Mustaine reflectiu sobre o processo de escrita do álbum de 2013. “Cheguei uma manhã e o Johnny K estava a trabalhar numa canção chamada «Kingmaker»“, disse o líder do grupo. “O tema estava pronto, mas entrei lá e ouvi o Ellefson e o Johnny a gravarem uma parte nova no início da canção. E não tinha nada a ver com o original… O riff que tinha escrito não estava em lado nenhum. O David tentava roubar a canção e tentava pôr um dos riffs dele à frente. Foi tão patético, e tive tanta pena deles os dois, que só lhes disse para irem em frente. Se ouvirem a «Kingmaker» vão perceber que há ali uma parte muito estúpida no início do tema.“ Posteriormente, Ellefson respondeu a esses comentários no podcast 2020’d.
Recordando as sessões de gravação de «Super Collider», o antigo baixista dos MEGADETH conta uma versão bastante diferente do que se passou. “O álbum estava feito — ou, pelo menos, as minhas partes de baixo estavam“, diz Ellefson na entrevista que podes ouvir na íntegra em cima. “No final da sessão, o Dave disse-me que, se houvesse alguma coisa que quisesse acrescentar, afinar ou mudar, podia fazê-lo. Portanto, já depois de ele ter saído do estúdio, eu, o Chris Broderick e o Johnny K sentámo-nos a ouvir o que estava feito e eu disse-lhes que tinha pensado num pequeno pormenor… Mostrei-lhes aquela pequena parte de baixo e o Chris disse logo que encaixaria bem no início da «Kingmaker». O Johnny também gostou, por isso sentámo-nos e começamos a juntar as peças. Estávamos todos entusiasmados, mas o Dave apareceu no dia seguinte com um humor muito diferente — rabugento, posso acrescentar — e não tão alegre como na noite anterior. Eu ou o Johnny dissemos-lhe que queríamos que ouvisse algo em que tínhamos estado a trabalhar durante noite e recebemos de imediato um olhar desaprovador. Todos o tínhamos ouvido a dizer para irmos em frente se quiséssemos acrescentar alguma coisa ou trabalhar em alguma coisa, mas o Dave parecia não se lembrar dessa conversa e começou a perguntar porque raio estávamos a mexer na canção dele. Acho que até chamou o Broderick de lado e lhe para não se atrever a acrescentar as minhas ideias às minhas canções dele“.
Na mesma conversa, David Ellefson disse ainda que acredita que a sua demissão dos MEGADETH na sequência de um escândalo envolvendo mensagens sexualmente explícitas tinha sido o culminar de anos de ressentimento acumulado por parte de Mustaine. “Eu vi os acontecimentos do ano passado como a oportunidade perfeita para escolher os lucros em vez da irmandade“, explicou o baixista. “Agora, olho para trás e sinto-me como se tivesse sido expulso do inferno. O comportamento do Dave era abusivo, sem dúvida. Foi simplesmente abusivo. Foi desnecessário. A dada altura, o Dave até disse que tinha um ressentimento em relação a mim que não podia deixar passar, e eu não sabia o que era“. Quanto às constante “farpas” que o líder dos MEGADETH tem atirado constantemente na sua direcção nestes últimos tempos, David Ellefson compara-as com aos inúmeros comentários negativos que Mustaine fez sobre os seus antigos companheiros de banda nos METALLICA durante as quatro décadas desde que foi despedido desse grupo. “Ele está a lutar com ele próprio“, reflectiu o músico. “Eu segui em frente. Porque raios é que ele tem de estar ressentido comigo? Livrou-se de mim, por isso o problema devia ter supostamente desaparecido. No entanto, ainda parece estar lá. Penso que parte disso tem muito a ver com o facto do Dave nunca ter superado o facto de ter sido despedido dos Metallica. Ele queria a todo o custo fazer a outra pessoa o que lhe fizeram“. Ellefson, que vive em Scottsdale, no Arizona, desde 1994, foi despedido dos MEGADETH em Maio de 2021, poucos dias depois de mensagens de teor sexual e imagens de vídeo explícitas envolvendo o baixista terem sido publicadas no Twitter.