Os ELEGANT WEAPONS, novo projecto que conta com o guitarrista Richie Faulkner (dos JUDAS PRIEST) e também com o cantor Ronnie Romero (dos RAINBOW e dos MSG), fizeram a sua estreia ao vivo no passado 12 de Junho na O2 Arena em Praga, República Checa, como banda de “suporte” aos PANTERA. Apenas três dias depois, assinaram a primeira actuação em nome próprio. O álbum de estreia dos ELEGANT WEAPONS, com o título «Horns For A Halo», foi lançado no passado dia 26 de Maio via Nuclear Blast. O disco foi gravado com o baixista Rex Brown (dos PANTERA e ex-DOWN) e com o baterista Scott Travis (dos JUDAS PRIEST); a produção ficou a cargo do aclamado produtor britânico Andy Sneap. Como anunciado, a novel banda, cuja formação ao vivo fica completa com Dave Rimmer (dos URIAH HEEP) no baixo e com o baterista Christopher Williams (dos ACCEPT), sobe ao palco do EVIL LIVE FESTIVAL, que decorre nos dias 28 e 29 de Junho, na Altice Arena, em Lisboa.
Falamos na manhã do dia em que vão subir pela primeira vez a um palco. Como te sentes?
Fantástico. Isto tem sido a minha vida durante os dois últimos meses, mas ainda não se tornou aborrecido. Primeiro, porque sei que faz parte da “máquina”; depois, porque é algo que é muito importante para mim, por isso sinto-me satisfeito por poder falar sobre isso. Quanto ao concerto de hoje, estou ansioso e muito entusiasmado. Não se pode dizer que esteja nervoso, mas já se passou muito tempo desde que concebi esta banda. Primeiro surgiram as ideias, depois tive de escrever os temas, gravar os temas, procurar um editora e uma companhia de management… Lançar o álbum, gravar vídeos. Enfim, tivemos de passar por tudo isso e ainda demorou o seu tempo. Agora cheguei finalmente ao ponto em que estou em digressão com a banda e isso, para mim, é provavelmente o mais importante nisto tudo – tocar ao vivo em frente às pessoas, criar uma ligação com o público, crescer e evoluir como banda. Este é o primeiro estágio desse processo, por isso não podia estar mais entusiasmado.
Vamos recuar então à criação deste grupo. Pelo que é dado a entender, as gravações decorreram em grande parte ainda durante a pandemia, certo?
Sim, acho que começámos as gravações no início de 2021. Ainda havia lockdowns em alguns sítios e restrições em termos de viagens e tudo o mais, mas já não estava tão fechado como em 2020, por isso decidi avançar com as gravações. O Christopher Williams gravou as primeiras pistas de bateria no meu estúdio e, depois, chamámos o Scott Travis para as regravar e começámos a trabalhar nas guitarras, baixo e voz– tudo isso aconteceu em 2021. Os Judas Priest saíram em digressão e eu tive um pequeno problema de saúde, por isso passámos uma grande parte de 2022 a tratar de pormenores, a assinar contratos, a trabalhar na capa e penso que, quando tive de entregar tudo à editora, já estava outra vez na estrada com os Judas Priest, por isso já foi no ano passado. Hoje em dia, as fábricas demoraram tanto tempo a produzir o vinil, que tivemos de estar um tempo apenas à espera que esse processo fosse concluído para editarmos finalmente o álbum.
E, agora, está tudo a acontecer.
Exactamente! Lançámos os singles, saiu o álbum e estamos finalmente em digressão. É óbvio que temos todo o trabalho de estúdio, a composição e a gravação dos temas, mas esta é a outra parte – e, confesso, é a que me entusiasma mais. Tocar ao vivo e estabelecer ligações com as pessoas, é por isso que estou a fazer isto.
Isso foi, obviamente, algo que não pudeste fazer durante a pandemia. Foi esse o gatilho para a criação dos ELEGANT WEAPONS?
Era algo em que já andava a pensar há algum tempo mas, como disseste, foi um gatilho no sentido em que tive tempo para o fazer, para consolidar ideias, para ver o que tinha em carteira musicalmente… Será que tinha um álbum? Será que era só em EP? Seria suficiente e, ainda mais importante, seria diferente o suficiente dos Judas Priest para eu montar uma banda e gravar alguma coisa? A paragem forçada pela pandemia permitiu-me analisar isso tudo e tomar decisões. Além disso, ninguém estava em digressão, ninguém estava a fazer nada e, de certa forma, a pandemia deu-me tempo para montar uma banda.
Tiveste de “trocar de chapéus” para escrever estas canções?
Não, isto sou eu na mesma – o mesmo Richie Faulkner que toca com os Judas Priest. As ideias vêm sempre do mesmo sítio, que é a guitarra.Basicamente, sento-me com a guitarra e deixo que as ideias comecem a fluir. É óbvio que sou o condutor do que vai saindo, por isso vão sempre notar-se as minhas influências, a música que cresci a ouvir e tudo isso. Com os Judas Priest, o Rob Halford e o Glen Tipton também estão na sala, por isso trocamos ideias uns com os outros, as nossas influências acabam por fundir-se e o resultado final é algo diferente. Neste caso, não foi assim e, musicalmente, sou apenas eu. A maior diferença é essa, neste caso não tive esses dois músicos envolvidos no processo de composição e, claro, isso nota-se. Portanto, a abordagem é a mesma, o guitarrista é o mesmo e, claro, continuo a ser a mesma pessoa. Não há como fugir a isso, a minha personalidade surge mais vincada na música dos Elegant Weapons.
Foi mais fácil ou, ao contrário, mais difícil fazer tudo sozinho?
Em momentos foi mais fácil, mas noutros foi muito mais difícil. Às vezes, o facto de haver mais pessoas com ideias, complica um bocado as coisas. [risos] Tu tens a tua ideia, a outra pessoa tem a ideia dela… Às vezes, quando as misturas, corre mal, mas na maior parte dos casos ficas com algo ainda melhor, o que é óptimo. Na verdade, sinto que é mais facil compor quando há mais alguém na sala, porque tendencialmente a ideia original vai melhorar sempre com o contributo de outra pessoas. Nesse sentido, foi um pouco uma luta, mas isso faz parte do desafio criativo.
A ideia inicial era fazeres um disco a solo ou efectivamente juntares uma banda?
Juntar uma banda, definitivamente. O meu interesse sempre foi tocar em bandas, não gosto da dinâmica a solo. Gosto que haja um cantor, e um baixista, e um baterista. Quero que as pessoas olhem para nós e vejam uma banda, com as suas personalidades distintas. É como o Ozzy, por exemplo. É óbvio que é o Ozzy, mas também havia o Randy, o Tommy Aldridge – eram um grupo que envolvia vários talentos. Neste caso, é óbvio que fui eu que dei origem à coisa, mas à medida que as coisas forem evoluíndo, o resto do pessoal vai ter total liberdade para se envolver tanto quanto quiser. Tanto no disco como ao vivo, estou acompanhado por grandes músicos, e são todos muito criativos, por isso acho que vai ser bem interessante.
Nunca te passou pela cabeça fazeres um álbum à moda da Shrapnel?
Não tenho nada contra, atenção, mas não cresci a ouvir esse tipo de cenas. Sempre me interessei por, lá está! [risos], bandas. Bandas a sério. Além disso, não me considero um shredder, por isso não fazia muito sentido ir por aí. Na verdade, nem tenho muitos licks para tocar, por isso vou andar a tocar os mesmos para sempre. Seria aborrecido, sabes? Honestamente, seria demasiado aborrecido. É por isso que preciso de um cantor e de uns riffs para que as coisas sejam mais interessantes. Se estivesse a fazer solos o tempo todo, as pessoas iam fartar-se.
Os ELEGANT WEAPONS são vistos como como “super-banda”, mas não é preciso fazer contas de cabeça para perceber que és tu a tocar com amigos, que por acaso são músicos conhecidos.
É exactamente isso. Eu não me preocupo com rótulos e esse tipo de coisas, para mim é igual. As pessoas é que têm percepções diferentes da descrição super-bandas; algumas pessoas acham que é algo positivo e outras, e eu já falei com muitas dessa opinião, acham que tem uma conotação negativa… Pessoalmente nunca tinha pensado nisso. E, basicamente, foi exactamente como disseste; sou um sortudo por poder telefonar ao Scott Travis, que é uma lenda e um enorme amigo, para o convidar para gravar um disco. Ou ao David, que conheço há 25 anos e toca nos Uriah Heap, a quem liguei a perguntar se queria juntar-se à minha banda. É óbvio que qualquer músico quer os melhores resultados possíveis e eu tenho estes tipos à distância de um telefonema. A prioridade era apenas ter uma grande banda, um grande álbum e um som poderoso.
Os temas estavam obviamente escritos quando foram para estúdio. Até que ponto foste meticuloso com as partes deles?
Não fui meticuloso, de todo. Lembro-me que enviei os temas para o Rex [Brown, dos PANTERA e ex-DOWN] e, quando pedes a uma pessoa assim para tocar no teu álbum, já sabes mais ou menos o que podes esperar. Sabes o que quero dizer? Sabes o que te vão mandar de volta, e sabes que será sempre de alto nível. Quando o Scott gravou as partes dele, estivemos juntos no estúdio, por essa altura já se podia viajar. Terminámos as captações e percebi logo que tínhamos feito o que eu tinha na cabeça. Quando recebi as linhas de baixo do Rex, passou-se o mesmo. Foi nesse momento que os temas tomaram realmente forma, ganharam um balanço e um swagger imenso. Ainda não mencionei o Roonie, mas com ele passou-se o mesmo. Recebi as linhas vocais e fiquei abismado. Tipos assim não precisam de orientação, confiamos neles para fazerem o que fazem e é por isso que lhes pedimos para o fazerem.
Quem foi a primeira peça do puzzle, quando começaste a montar a banda?
Sempre prometi ao Scott que, se fizesse alguma coisa fora dos Judas Priest, ele seria sempre o primeiro a receber uma proposta. Mais uma vez, dou-me por muito abençoado que tenha podido participar, mas não estava disponível para gravar inicialmente. Foi por isso que convidei depois o Christopher para gravar as pistas iniciais, e foi com ele que iniciei o processo. O Chris foi a primeira peça, definitivamente, só depois é que o Scott ficou disponível – e agora o Chris está na banda outra vez. [risos] Acho que este tipo de acertos mostra bem que não estive a pensar em nenhum plano de conquista global. As coisas pura e simplesmente aconteceram.
Continua a guiar-nos pelo processo, por favor.
Bem, depois de termos gravado a bateria pela primeira vez, comecei a trabalhar nas guitarras e, às tantas, liguei ao Rex. Depois apareceu o Scott e, por último, o Ronnie. Ele foi a peça que completou o nosso puzzle. Já não me lembro muito bem, mas acho que o conheci num festival em Espanha. A banda dele, os Lords Of Black, tocaram com os Priest durante uma das digressões que fizemos com o «Firepower», por isso eu já estava a par da existência dele. Mesmo antes disso, devo ter tomado o primeiro contacto com o nome dele quando se juntou aos Rainbow, porque sempre foi um grande fã deles. Alguém me disse que tinham um vocalista novo que estava a surpreender toda a gente, até acho que foi o Scott que me ligou, da Europa, a dizer que tinha de o escutar. E assim diz. Depois conhecemo-nos pessoalmente em 2018, se bem me lembro.
Foi a tua primeira opção para ocupar o lugar atrás do microfone?
Foi. Estava a falar com o Damon Johnson, que agora é guitarrista dos Lynyrd Skynyrd, mas já esteve nos Thin Lizzy e tocou com o Alice Cooper, e ele que mencionou logo o Ritchie Blackmore e o cantor que estava a trabalhar com ele nos Rainbow. Tenho de lhe dar isso, foi ele que mencionou o Ronnie. Nesse momento, tudo fez sentido – o Ronnie Romero seria perfeito para os Elegant Weapons. Tem todas as influências clássicas certas, mas é um cantor moderno. Não soa datado ou algo do género. O nosso disco mostra bem quais são as nossas referências, isso é inegável, mas tem um som contemporâneo, por isso fazia todo o sentido vermos como resultava. Telefonei-lhe, ele percebeu logo o que eu estava a tentar fazer, gostou dos temas e começámos logo a trabalhar.
A vossa música soa, de facto, como descreveste: tem um forte ADN heavy metal old school, mas não soa retro ou algo desse género. Foi essa a ideia desde o início?
Já não sei muito bem qual era a ideia no início, para ser sincero. Uma pessoa nunca sabe o que vai acontecer quando começa a compor, mas eu tinha uma boa ideia do que ia sair. Lembro-me de estar preocupado com a hipótese do resultado soar demasiado a Judas Priest porque, se fosse assim, não fazia sentido criar outra banda – podia usar essas ideias com eles. Mas as minhas influências não mudam e acho que não fazia sentido fazer algo deliberadamente contemporâneo só porque sim. Isso não seria honesto, porque não é aí que está o meu coração. Os Black Sabbath, os Priest, os Thin Lizzy, os UFO… Eu sou uma mistura disso tudo, mas também não queria fazer um álbum que soasse retro, queria que fosse relevante quando colocado ao lado de outras produções modernas. A verdade é que, tendo em conta que todos nós tocamos em bandas que já têm longas carreiras, como os Judas Priest e os Rainbow, o que vamos fazer no momento em que os outros tipos se quiserem reformar? Se calhar, podemos pegar no ADN deles, acender a tocha e seguir em direcção ao futuro. Esse é o plano.