Na sua estreia absoluta em Portugal, a artista feroesa EIVØR traz ao Porto e a Lisboa um espectáculo pensado ao detalhe.
Nascida e criada nas remotas Ilhas Faroé, EIVØR cresceu com o mar como horizonte, as montanhas como muralha natural e a música como linguagem de pertença. Essa ligação profunda à sua terra natal reflete-se tanto na voz, marcada por uma intensidade quase ritualista, como nas canções que atravessam géneros diversos — da folk à electrónica, do rock alternativo a sons muitíssimo mais experimentais. Ao longo de mais de uma década de carreira, a artista feroesa construiu já um percurso sólido e muito versátil, movendo-se entre a tradição e a modernidade, sempre com a capacidade de criar atmosferas emocionais únicas.
O público português terá agora a oportunidade de descobrir essa dimensão em dois concertos muito especiais, em Lisboa e no Porto, que assinalam a estreia absoluta da artista no nosso país. O alinhamento, cuidadosamente preparado, promete atravessar diferentes fases da sua obra, incluir surpresas nunca antes tocadas ao vivo e até um medley dedicado a The Last Kingdom, série que marcou a sua carreira enquanto intérprete em bandas sonoras. A presença da sua irmã Elinborg, a abrir a noite, e do músico islandês Ásgeir, acrescenta uma aura de partilha e de cumplicidade, transformando cada um destes espectáculos em celebração.
Reconhecida pelo grande público também através das colaborações em projectos de escala global — como o jogo God Of War ou a já referida série The Last Kingdom —, EIVØR assume-se como uma das vozes mais singulares da actualidade, capaz de transportar quem a ouve para territórios onde a espiritualidade nórdica e a experiência contemporânea se encontram. Em plena fase de criação do seu próximo álbum, a artista chega agora Portugal no auge da sua maturidade artística, trazendo consigo não só o peso de um percurso sempre em crescendo, mas também a promessa de um futuro ainda mais expansivo.
A artista sobe ao palco do Hard Club, no Porto, a 4 de Outubro, seguindo depois para a República da Música, em Lisboa, no dia 5 de Outubro. ÁSGEIR será o convidado especial em toda a tour europeia, cujo suporte está entregue a ELINBORG. Os bilhetes para os concertos encontram-se ainda à venda nos locais habituais, em freemusic.pt, UNKIND.pt e MasQueTicket.com.
Como estão a correr os preparativos para a digressão?
Estão a correr muito bem. Temos estado a ensaiar com a banda completa e estamos todos muito entusiasmados. Na verdade, vou para fazer um ensaio mais tarde, que será o último antes da tour. Por isso, sim, é super emocionante.
Já tens o alinhamento definido?
Sim. Acho que já me decidi. Para ser honesta, mudei de ideias muitas vezes, porque há muitas canções que poderia tocar. No entanto, acho que juntei uma colecção que funciona muito bem em conjunto. Portanto, sim, acho que o alinhamento está pronto.
Haverá algumas surpresas para os fãs, tenho a certeza.
Sim. De facto, preparei algumas surpresas, que são super emocionantes. Vou tocar alguns temas que nunca toquei ao vivo antes, por isso acho que é bem promissor.
Estive em Dublin para o concerto dos Heilung e fizeste a abertura. Como correu essa digressão?
Foi uma experiência linda. Fiz bastantes digressões com eles nos últimos dois anos e andámos por todo o mundo juntos, basicamente. E, sim, foi simplesmente maravilhoso, tanto para mim como para o público dos Heilung. Além disso, foi óptimo conviver com os adoráveis membros da banda, que se tornaram todos muito bons amigos meus, por isso foi uma bela reunião de música também de amizade, o que é sempre fantástico.
Foi uma noite fantástica, de facto. Foi muito, muito relaxante. Não sei como é o céu, mas… Acho que foi, provavelmente, o mais perto que estive de uma paz de espírito em muito tempo.
Oh, isso é muito fixe.
Na verdade acho que nunca tinha experiênciado um concerto em que estivesse tão relaxado. Não estava a pensar em mais nada, estava apenas a desfrutar.
Fico feliz por ouvir isso. É um dos poderes mágicos da música, suponho.
Nesse concerto, a tua baqueta caiu e partiu-se ou algo assim.
Isso acontece de vez em quando, digo-te já. [risos] A cada dois espectáculos, acho que acabo por partir uma baqueta, e tenho sempre de me lembrar de comprar extras para ter de parte.
Falando desse tambor que tens, pode contar-me um pouco da sua história?
Bem, é basicamente o que se chama tambor xamânico. E já tive alguns diferentes. Alguns deles com pele de rena, outros com diferentes tipos de peles, que têm diferentes texturas de som. E este em particular, que estou a usar ultimamente, foi construído por um maravilhoso construtor de tambores em Viena.
Ele constrói os tambores na cave e usa uma pele muito peluda e muito grossa. Acredito que seja pele de cabra e tem um som muito profundo.Estou muito contente com ele, e acho que os concertos que fiz com os Heilung foram os primeiros em que toquei com este tambor. Portanto, estamos a conhecer-nos um ao outro. E sim, está a crescer um laço forte entre nós.
Ainda estás a tentar encontrar o som dele? Ou já o encontraste?
Vamos conhecendo lentamente cada instrumento que adquirimos e, para mim, esse é sempre um processo muito bonito. Levei algum tempo para conhecê-lo realmente, sabes? Estes tambores são bastante… Frágeis, digamos assim. São muito sensíveis à humidade, e ao calor e ao frio. Portanto, dependendo de onde se está no mundo, mudam de som. De certa forma, estou a conhecer todos estes pequenos truques para o manter equilibrado e na humidade certa.
Além da música, também pintas. De onde veio essa veia artística? Pergunto isto porque é óptimo ter essas capacidades, mas eu não consigo fazer nenhuma das duas! [risos]
Olha, mas nós precisamos de pessoas como tu. Nós, os que cantamos e pintamos, precisamos de alguém que nos oiça e que aprecie, ou não, o que fazemos. Desde criança sempre tive uma espécie de impulso para ser criativa e expressar-me através da música ou da pintura. E isso esteve sempre comigo, de alguma forma. Esse tipo de paixão esteve presente na minha vida desde que me lembro.
O meu pai costumava pintar e também escrevia poemas, e a minha mãe adorava cantar… Só em coros, na cozinha ou no chuveiro, mas cantava sempre que podia. E foram precisamente eles que me inspiraram muito quando era miúda. A alegria deles, o amor pela música e pela arte inspirou-me a amar a música e a arte também.
Para mim, hoje em dia, essas duas coisas andam de mãos dadas. Acho que é bom podermos expressar-nos de maneiras diferentes. Quando toco ao vivo, torno-me mais extrovertida, partilho energia com as pessoas. E quando se pinta, é uma coisa muito mais interior. Portanto, para mim, é um bom equilíbrio fazer estas duas coisas.
As Ilhas Faroé têm paisagens maravilhosas, parece ser um sítio incrivelmente pacífico.
Sim, é lindo. Vivi na Dinamarca durante os últimos quinze anos e já estava a começar a ter muitas saudades de casa. Há uns três anos, estava a viver num sítio em que só via prédios e eu cresci com uma vista maravilhosa da janela do meu quatro. Não sei se foi só isso, mas a dada altura senti no meu corpo e na minha alma que precisava de voltar para casa. Comprámos uma casa aqui nas Ilhas Faroé e mudámo-nos de volta há três anos, o que me deixa muito feliz.
Sei que já estiveste de férias em Portugal, não foi?
Sim, estive em Lisboa recentemente. A minha irmã viveu durante um breve período ai em Portugal e eu fui visitá-la. Foi a minha primeira vez em Lisboa e adorei a cidade, que é muito bonita. Agora, vai ser óptimo voltar para fazer os meus próprios concertos em Portugal. Estou muito entusiasmada, quero conhecer as pessoas um pouco melhor. E partilhar alguma música com todos vocês, claro. Acho que vai ser lindo.
O que é que os teus fãs podem esperar destes concertos no Porto e em Lisboa?
Eu sou a última em palco, porque, nesta digressão, tenho outros dois artistas connosco. Primeiro vai tocar a minha irmã, que acabou de lançar um álbum. O nome dela é Elinborg e vai tocar um set de cerca de meia hora. Depois, actua o Ásgeir, da Islândia, que é um bom amigo meu e um músico maravilhoso. Também vai tocar cerca de 40 minutos e depois eu toco durante provavelmente uma hora e meia. Por isso, vai ser uma noite cheia de música e muito colorida. Vai ter muitas vibrações boas e um espectro completo de variedade.
O teu mais recente disco foi lançado no ano passado. Já estás a pensar em música nova ou vais concentrar-te na digressão e depois logo se vê onde isso te leva?
Bem, na verdade estive totalmente focada, enfiada no meu estúdio, durante os últimos meses. Estive a gravar para o meu próximo álbum e vou ter um novo no próximo ano. Portanto, sim, estou totalmente a pensar em música nova também. Vou ter ainda mais música para partilhar com todos vocês, mas, por enquanto, ainda não… Vai estar pronto no início do próximo ano e vou começar a lançar coisas. Até lá, ainda está em produção.
Óptimas notícias! Entretanto, tiveste algumas participações em vídeojogos e em séries de TV. É algo que também gostas de fazer?
O mais engraçado nisso tudo é que… Bem, eu não sabia nada sobre vídeojogos antes disso. Nada! E, depois, fui contactada pelo compositor, o Bear McCreary, que é norte-americano, e ele escreve a música para o God Of War. Disse-me que ueria que eu cantasse um pouco no jogo. [risos] E eu disse-lhe que sim, claro, que podíamos tentar algo. Enviava-me alguma música e eu gravava umas linhas e enviava de volta para ele. E foi assim, para a frente e para trás.
E foi louco, porque eu não sabia que os videojogos eram como um mundo inteiro, como um filme, como uma história que é muito tocante. E fiquei realmente muito comovida com a história e a beleza dela. Portanto, isso foi uma nova descoberta louca para mim. E, sim, é uma colaboração muito boa e continuámos a trabalhar juntos e até fizemos algumas actuações ao vivo juntos em Los Angeles.
Actuámos num evento em que os jogadores estão ao vivo, no ecrã gigante. E eu fiquei incrivelmente impressionada. É como um concerto de rock. É uma loucura. Foi como se tivesse acabado acidentalmente naquele mundo, sabes? Senti-me um alienígena nele. Tipo, uau, em que planeta aterrei? [risos]
Mas olha, o God Of War é o encaixe perfeito para a música que fazes.
Sim, senti-me completamente em casa na música e nas histórias e consegui reconhecer tantas coisas, porque é muito baseado também na mitologia nórdica e coisas do género, que é uma parte muito grande da cultura de onde eu venho. Por isso, não me pareceu assim tão estranho.
E houve a participação em The Last Kingdom, a série. Tocaste o tema «Hymn 49» na digressão com os Heilung, em Dublin. Vais tocar mais alguma nesta próxima digressão?
Sim. Não há como negá-lo, a The Last Kingdom tem sido uma parte tão grande da minha vida nos últimos oito anos, que é impossível de ignorar. Canto em todos os episódios e escrevi muita, muita música para a série.
Por isso, é muito querida para mim, e adoro a música que criei juntamente com o John Lunn. Portanto, de alguma forma, faz sempre parte da minha setlist hoje em dia, e fiz um pequeno medley para esta digressão, durante o qual vou tocar alguns bocados de peças da série. Não contes a ninguém, é um segredo!
Não vou contar a ninguém.
Não, não contes a ninguém.
Só a Portugal inteiro. [risos] Quando fazes algo assim e tens amigos, família que provavelmente vê, qual é a reação deles sabem que és tu a cantar nessas séries?
Alguns ficam tipo: “Oh, bolas, é a tua voz”, mas também tenho alguns amigos que começaram a ver a série acidentalmente, tipo, através da Netflix. Disseram que não sabiam que era eu a cantar até que, de repente, conseguiram reconhecer a minha voz na série. Ligaram-me a perguntar se era mesmo eu? Foi engraçado. E para os faráoeses, suponho, é reconhecível porque canto em faroês na maior parte da série. Portanto, acho que, especialmente os faráoeses, ficarão surpreendidos quando virem.
Então deves ser a grande estrela quando vais à cidade fazer compras. Provavelmente dizem: “Oh, é a nossa estrela da ilha!”.
As pessoas aqui são muito descontraídas. [risos] Dizem-me tipo: “Ei, tudo bem?” Acho que não ficam assim tão impressionadas, para ser sincera.
Há outros projectos em que estejas a trabalhar, e que talvez não possas revelar?
Bem, há algo emocionante que vai acontecer, mas ainda não tenho permissão para falar sobre isso. E sim, haverá, definitivamente, alguns projectos emocionantes a chegar no futuro.
















