Esta foi, indubitavelmente, uma noite de regressos. Os THE BLACK WIZARDS regressavam de uma tour europeia de duas semanas; os MAIDAVALE e os EARTHLESS regressavam finalmente a Portugal, depois de terem integrado o cartaz do festival Sonic Blast em 2019. Pois bem, a noite começou logo com a surpresa de ver os THE BLACK WIZARDS em formato trio, o mesmo com que partiram para a digressão lá por fora. Num set baseado no último trabalho de estúdio, «Reflections», fica-se dividido entre qual a formação que resulta melhor. Se a dupla de guitarras inseria um jogo de solos e ritmos bem interessante, neste formato o psych rock em formato power trio resulta melhor e o baixo assume um outro protagonismo. O regresso de Helena à bateria substitui a vertente mais técnica por um toque mais artístico, com as baquetas a fornecerem pinceladas de tons musicais sobre as melodias da guitarra de Joana Brito. Depois, o Rickenbaker de Zé Roberto substitui o ritmo da guitarra, com muito de Lemmy. «Kaleidoscope Eyes» foi um tema imenso, e aquele em que Zé conseguiu num micro solo de baixo, cruzar os MOTÖRHEAD com os HAWKWIND e ainda trazer à memória os KING CRIMSON. Depois desta interpretação majestosa, a “obrigatória” «I Don’t Wanna Die» até soou a mais.
Já as suecas MAIDAVALE fazem a ponte perfeita entre o público usual do Sonic Blast e aquele que frequenta festivais como o Primavera Sound ou Paredes de Coura, não sendo de espantar que um dia apareçam mesmo num desses cartazes. Aquilo que as fazem soa bem, e a vocalista Matilda Roth é um verdadeiro animal de palco. Musicalmente seguras, é, mesmo assim, na subtil guitarrista Sofia Ström que marcam mais pontos, principalmente quando tocam para uma audiência mais guitar oriented, como era o caso aqui. A terminar, subiram finalmente ao palco os californianos EARTHLESS. Logo para começar, Isaiah Mitchell tira uma catadupa de notas da Fender já gasta, mas quando todos pensam estar ali o centro da banda, o baterista Mario Rubalcaba deixa de marcar passo e inventa na bateria, como ninguém. Face a dois virtuosos, resta a Mike Eginton tornar-se um pilar rítmico no baixo. A primeira parte do concerto, desenvolveu os três temas que integram o último disco de estúdio e que retratam a odisseia de monstros e almas penadas narrada numa lenda oriental, e que inspirou «Night Parade Of One Hundred Demons». No entanto, como já é habitual, quando se trata dos EARTHLESS, as músicas pouco interessam. Na realidade são apenas o pretexto para uma vasta odisseia sonora, em jeito de jam. Apenas isso. Tudo isso.