DREAM THEATER

DREAM THEATER @ MEO Arena, Lisboa | 16.11.2024 [reportagem]

Os DREAM THEATER encheram a MEO Arena de emoção com o regresso de MIKE PORTNOY e uma celebração da mestria que caracterizou as suas primeiras quatro décadas de carreira.

No passado Sábado, 16 de Novembro, os pilares do metal progressivo DREAM THEATER subiram ao palco da MEO Arena, em Lisboa, para uma noite inesquecível. Com uma carreira que já atingiu a impressionante marca das quatro décadas, a banda norte-americana brindou uma plateia quase esgotada com um espectáculo que não só celebrou a sua exemplar discografia como marcou um momento de profunda relevância emocional: o regresso de Mike Portnoy à bateria, após treze anos de ausência.

Como é do conhecimento geral, Portnoy, um dos membros fundadores dos DREAM THEATER, deixou a banda em 2010, numa separação que surpreendeu tanto fãs como críticos. Sobejamente conhecido pela sua técnica impressionante e personalidade enérgica, o músico ajudou a definir o som da banda desde os seus primórdios em 1985, quando, com John Petrucci e John Myung, criou os Majesty na Berklee College of Music. Como tal, a sua saída acabou por deixar uma lacuna que, embora tenha sido preenchida com competência por Mike Mangini durante mais de uma década, nunca deixou de ser um tema de debate entre os seguidores mais fervorosos.

O seu regresso, anunciado em Outubro do ano passado, foi recebido como um evento histórico e, para muitos, ver Mike Portnoy novamente na formação dos DREAM THEATER significa o reatar de uma química única que definiu os melhores momentos da banda. Em Lisboa, essa ligação especial foi palpável a cada nota tocada.

Para os cinéfilos presentes na MEO Arena, o tema principal da banda-sonora do clássico Psycho, de Bernard Herrmann (e usado aqui como introdução ao início do espectáculo), funcionou como uma entrada perfeita – um começo emocionante e ameaçador para uma actuação que prometia muito. No entanto, nada nos poderia ter realmente preparado os sentidos para o soco maciço da abertura com «Metropolis Pt. 1: The Miracle And The Sleeper».

O riff de John Petrucci é um monstro furioso e rasgou o espaço cavernoso de uma forma impressionante. O som estava impecável onde estávamos sentados, cada nota do épico soou de forma clara e, com a precisão de tirar o fôlego que o grupo exibia ao tecer o seu caminho através do tema, todo o seu poder visceral tornou-se, desde logo, bem notório e inegável.

Na parte de trás do palco sucediam-se paisagens urbanas em constante evolução, numa mistura inebriante de som e luz. Sem perder o ritmo, os DREAM THEATER elevaram ainda mais a energia na sala com uma transição perfeita para «Act I: Scene Two: I. Overture 1928» e «Act I: Scene Two: II. Strange Déjà Vu», ambas do clássico «Metropolis Part 2: Scenes From A Memory». A partir desse momento, ficou bem claro que os músicos estavam, de facto, dispostos a oferecer-nos uma viagem pelos vários capítulos da sua história.

A investida no peso continuou com «The Mirror» e «Panic Attack», que mantiveram um ritmo avassalador e antecederam a primeira surpresa do alinhamento: «Barstool Warrior», um tema da era Mangini, que, apesar de ser uma escolha menos óbvia, encaixou perfeitamente no momento. Ouvir Portnoy a tocá-la foi, sem dúvida, uma experiência memorável. De seguida, diminuiram o ritmo com «Hollow Years», que foi recebida com aplausos – a visão dos telefones a iluminarem o recinto criou uma bela atmosfera.

O primeiro acto encerrou então com as pesadas «Constant Motion» e «As I Am», deixando claro que o regresso de Portnoy aos DREAM THEATER parece ter-lhes dado novamente uma vantagem, que é a justaposição do talento técnico e de um elemento intangível de ferocidade, que adiciona uma emoção extra às actuações. Não é, no entanto, apenas o homem atrás do gigantesco kit de bateria que dá tudo de si ao espectáculo.

O desempenho de Petrucci na guitarra está repleto de perigo, Jordan Rudess traz um caleidoscópio de cores com o seu teclado inclinado e o baixo dançante de John Myung continua a fazer coisas que não deveriam ser possíveis, mas que nas suas mãos parecem tão (super)naturais. Fazendo frequentemente pausas fora de palco enquanto os seus companheiros se atiram às passagens instrumentais mais longas, James LaBrie é o mestre de cerimónias. O seu controlo é total e, mesmo que a voz tenha demorado um pouco a aquecer, atingiu rapidamente o seu ritmo.

Depois de um breve intervalo, uma introdução orquestral antecedeu o novo single «Night Terror», sucedido pela clássica «Under A Glass Moon», com o icónico solo de John Petrucci a fazer levantar os fãs nas bancadas. Seguiu-se mais uma reviravolta surpresa, com os DREAM THEATER a tocarem «This is The Life», a balada de «A Dramatic Turn Of Events» e a segunda canção da era Mangini que se ouviu nesta noite. As surpresas não se ficaram por aí, no entanto, com o grupo a mergulhar em «Vacant», seguida pela potência da instrumental «Stream Of Consciousness», do álbum «Train Of Thought», ambas com o equilíbrio perfeito de emoção e domínio técnico. O segundo acto chegou ao fim com a épica «Octavarium», que, antes desta digressão, não era tocada ao vivo há quase 20 anos.

O encore começou com um excerto do filme O Feiticeiro de Oz projectado nos ecrãs, que deu o mote para tocarem «Home», mais um clássico de «Metropolis Part 2: Scenes From A Memory». Quase três horas depois de terem pisado o palco, os DREAM THEATER continuavam literalmente on fire. A energia no local era eléctrica, o público a explodia de emoção e, com «The Spirit Carries On» a inspirar a multidão a cantar em uníssono, enquanto a arena ficava mais uma vez iluminada por um mar de luzes de telefone, esta atmosfera de tirar o fôlego atingiu o clímax na última canção da noite, a inevitável «Pull Me Under».

Resultado: mais do que uma celebração do passado, esta actuação dos DREAM THEATER em Lisboa foi uma promessa para o futuro e a confirmação de que, apesar das mudanças e dos desafios que teve de enfrentar ao longo dos anos, a banda mantém uma vitalidade única. Com Mike Portnoy de regresso, os DREAM THEATER mostraram que ainda têm muito a oferecer, não apenas como mestres do metal progressivo, mas como músicos que continuam a inspirar pela sua capacidade de unir virtuosismo técnico e emoção autêntica.