Ao escolherem autointitular o oitavo longa-duração, depois do maior intervalo editorial da carreira (cinco anos) e após a saída de Chris Adler, membro fundador e peça determinante na definição da sonoridade que os preconizou, os Lamb Of God quiseram enviar uma mensagem muito clara ao mundo. Dela fazem parte, pelo menos, um punhado de temas ao nível dos melhores que escreveram na última década, canções com potencial para se aproximarem dos “clássicos” que gravaram no, ainda por superar, «Ashes Of The Wake». «Memento Mori», com um pouco de tudo o que são musicalmente nos dias de hoje, a orelhuda «Colossal Hate», a pesadíssima «Ressurection Man» ou o intenso capítulo final que é «On The Hook» – dono de uma urgência a evocar o igualmente excelente «As The Palace Burns» e do tipo de carga emocional que lhes ouvimos (com a preciosa ajuda de Chino Moreno) na «Embers», do anterior «VII: Sturm Und Drang» – são verdadeiras pérolas de thrash metal técnico e poderoso, com aquela ginga que costuma irritar os sempre muito sensíveis haters dos Pantera.
Apesar do decréscimo no número de solos – apostam na qualidade em detrimento da quantidade – em relação a discos anteriores, as guitarras continuam a ser o maior trunfo dos Lamb Of God, até mesmo quando surge um ou outro riff aparentemente reciclado. Nada que os Slayer ou os Metallica, só para citar dois dos Big 4, não tenham feito tantas e tantas vezes. O que não falta, uma vez mais, são os convidados ilustres: Jamey Jasta injecta uma dose de raiva hardcore no monstro de groove que é «Poison Dream» e Chuck Billy assenta que nem uma luva no thrash punk veloz de «Routes». E se é verdade que os temas ganham uma personalidade distinta, fica a sensação de que o cada vez mais aventureiro Randy Blythe daria conta do recado sozinho, tal a confiança que exibe em registos berrados, cantados ou spoken-word, ao longo de todo o disco. Uma confiança extensível ao “novato” Art Cruz (ex-Prong e Wind Of Plagues), que, por incrível que pareça, consegue fazer esquecer por completo a ausência do mano Adler mais velho, sem cair no erro de tentar emular o estilo muito próprio do antecessor.
Como um todo, «Lamb Of God» é uma versão focada do experimental «Wrath», uma variante mais compacta do demasiadamente longo «Resolution», e um disco tão diverso como o antecessor «VII: Sturm Und Drang», conseguindo abster-se de tentar ser diferente só porque sim. Decorridos três quartos de hora, a mensagem torna-se clara: os Lamb Of God são uma banda madura, com uma identidade muito bem definida, e continuam tão genuínos e relevantes como sempre foram, sem precisarem de fazer quaisquer compromissos para se manterem no topo. Estão “lá” apenas e só porque merecem. Quem nunca os apreciou não será agora que vai passar a gostar, mas quem os tinha em boa conta, dificilmente encontrará motivos (válidos) para se poder queixar. [8.5]
Texto publicado originalmente na LOUD #231, que pode ser descarregada aqui.