Há dezanove anos, despedimo-nos de DIMEBAG DARRELL, um dos mais carismáticos (e influentes) guitarristas de todos os tempos no espectro da música pesada.
O pior dia da minha vida — é assim que Rex Brown intitula o capítulo de Official Truth – The Inside Story Of Pantera em que descreve o 8 de Dezembro de 2004, dia em que morreu DIMEBAG DARRELL, e as horas que lhe sucederam. Hoje completam-se dezanove anos sobre uma das datas mais negras do heavy metal. Mais que a vaga de mortes de músicos que percorreu as primeiras décadas deste século, haverá sempre um antes e um depois da morte de DIMEBAG DARRELL, pela forma como aconteceu, pelo choque que causou e por todo um simbolismo a posteriori que lhe pode ser associado.
É muito difícil que alguém chegue a estas linhas sem conhecer o nome PANTERA. Nove álbuns, se bem que os de 80 sejam quase renegados, milhões de discos vendidos, um Grammy e um primeiro lugar no top de vendas norte-americano. Números que revelam bastante acerca de um grupo que surgiu em Arlington, no Texas, pelas mãos dos irmãos Abbott.
Darrell Lance Abbott, mais conhecido como DIMEBAG DARRELL, nasceu 20 de Agosto de 1966 e, com o seu irmão Vinnie, formou os PANTERA uns anos mais tarde. Os dois acabariam por juntar-se ao baixista Rex Brown, um antigo colega de turma de Vinnie, e a entrada de Phil Anselmo para o lugar de vocalista, em 1986, provocaria uma mudança profunda de estilo no grupo, reforçada pelo recrutamento do produtor Terry Date. Os cinco forjariam um estilo diferente à época, fusão entre thrash, hardcore e algum power metal de inspiração norte-americana, recheado de groove.
«Cowboys From Hell» e «Vulgar Display Of Power» são eternos clássicos, referências obrigatórias no metal. Mentalidades e o rápido crescimento do quarteto viriam a criar atritos que se agravaram com os excessos de Anselmo, culminando tudo com uma overdose deste. «Reinventing the Steel», de 2000, seria o último trabalho do quarteto, tornando-se a separação oficial em 2003.
Sempre envolvidos com música, os irmãos Abbott rapidamente formaram novo grupo, DAMAGEPLAN, sendo «New Found Power» o seu trabalho de estreia. Os tempos mudavam, os números também, e os irmãos habituados a grandes espaços, iniciaram, em 2004, uma digressão em pequenos clubes.
Ao mesmo tempo, Phil Anselmo não hesitava em dar entrevistas hostis, e em finais de Novembro, sai uma edição da Metal Hammer em que o vocalista se refere a DIMEBAG DARRELL com um “deserved to be beaten severely”. Nas palavras de Rex — que, na sua autobiografia, afirma ter escutado a entrevista original, as declarações foram manipuladas.
Infelizmente, foi esta a frase que ecoou pela internet e, poucos dias depois, um ex-marine de 25 anos, fã dos PANTERA, resolve assistir ao concerto dos DAMAGEPLAN no Alrosa Villa em Columbus, Ohio. Esta decisão acabou por dar origem a quatro mortos e três feridos. O assassino subiu ao palco logo no primeiro tema e começou a disparar, primeiro contra DIMEBAG DARRELL e, depois, contra as outras pessoas.
DIMEBAG DARRELL tinha 38 anos e era uma das grandes referências como guitarrista, admirado não só por fãs, mas por músicos. Ainda hoje permanece nas listas dos melhores e sem dúvida será o mais influente deste século. O modo como morreu, o choque que provocou e a personagem que era no dia-a-dia, fez com que o seu funeral se revelasse um encontro lendário de músicos.
Enterrado num caixão dos KISS, sua banda favorita, levou junto com ele uma das primeiras guitarras de Eddie Van Halen, músico presente nas cerimónias, que junto com Zakk Wylde, fez questão de discursar no funeral, segundo Rex, ambos visivelmente embriagados. Outros músicos se juntaram, incluindo o próprio Rex. Phil chegou a estar na cidade, mas familiares de Dimebag fizeram questão de impedir a sua presença no funeral. Segundo Rex Brown, “o funeral e os dias que lhe seguiram, foram dos mais emotivos da sua vida”.
Imensos grupos não passaram ao lado da tragédia, Zakk Wylde e os seus BLACK LABEL SOCIETY dedicaram «In This River» a Dimebag. M. Shadows, dos AVENGED SEVENFOLD, escreveu «Betrayed» inspirado no acontecimento, da mesma forma que os NICKELBACK fizeram de «Side Of A Bullet» um tributo.
Outros grupos dedicaram álbuns inteiros à memória do músico, como é o caso dos DISTURBED («Ten Thousand Fists»), CROWBAR («Lifesblood For The Downtrodden») ou STATIC-X («Start A War»). Os BRIDES OF DESTRUCTION escreveram «Dimes In Heaven», os TYPE O NEGATIVE escreveram «Halloween In Heaven» e os MACHINE HEAD escreveram «Aesthetics Of Hate». Estes são, apenas, alguns dos exemplos mais conhecidos.
Hoje, tal como há dezanove anos, ainda parece difícil perceber porque partiu tão cedo aquele músico desconhecido que, a 12 de Março de 1991, subiu ao palco do Dramático de Cascais, distribuiu algumas palhetas e, de seguida, assinou uma das melhores primeiras partes a que Portugal já pôde assistir.