DESTRUCTION

DESTRUCTION @ VAGOS METAL FEST: Fúria thrash e alerta político [entrevista]

Os DESTRUCTION chegam a Vagos com uma mensagem contundente: Schmier não poupa críticas a Elon Musk e à manipulação digital.

A edição de 2025 do VAGOS METAL FEST arranca esta hoje, quinta-feira, na Quinta do Ega com uma das actuações mais aguardadas do cartaz: os lendários DESTRUCTION, figura maior do thrash europeu e voz activa contra o retrocesso político e social do mundo contemporâneo. Poucos dias antes de aterrarem em Portugal, Marcel “Schmier” Schirmer, o baixista e vocalista da banda germânica, lançou duras críticas ao magnata Elon Musk, alertou para o regresso dos extremismos e lamentou o fracasso global em aprender com os erros do passado.

O discurso é tão incendiário quanto o novo álbum da banda, «Birth of Malice», lançado a 7 de Março —, que promete dominar o alinhamento da noite de abertura em Vagos. “É uma loucura. Nunca aprendemos com a história“, desabafou Schmier, num tom em tudo coerente com a carreira de quase 45 anos da sua banda, conhecida pela postura crítica e combativa. O músico reagia ao apoio público dado por Elon Musk ao partido de extrema-direita alemão AfD, sob investigação por ligações a movimentos neonazis.

“Primeiro de tudo, quem é ele para dizer a um país em quem votar quando estava no governo de outro. É desrespeitoso”, afirmou, visivelmente incomodado com a ingerência do bilionário. “Como alemães, nós sabemos que este partido é um partido de direita. A Alemanha tem muitos problemas, claro. Temos muitos imigrantes. […] Isso vai causar problemas e tirar os nazis das suas tocas”, disse ele em declarações ao site norte-americano Blabbermouth.

Estas palavras adquirem especial peso no contexto português, onde o VAGOS METAL FEST sempre se afirmou como um espaço de liberdade, diversidade e resistência cultural. Os DESTRUCTION, enquanto cabeças de cartaz do primeiro dia, trazem consigo não só décadas de riffs fulminantes, mas também um posicionamento que rejeita o conformismo e denuncia os perigos do revisionismo histórico. A entrevista revela ainda a dimensão global das preocupações de Schmier, que também apontou o dedo à fragilidade da democracia norte-americana.

“Os problemas da América agora não são culpa do Joe Biden ou do Donald Trump. São culpa de governos anteriores e políticas mais antigas”. Essa visão alargada do caos político, social e ambiental que assola o mundo serve de pano de fundo para as letras de «Birth Of Malice», um álbum que, segundo o próprio, é o reflexo de um planeta à beira do abismo: guerras iminentes, manipulação digital em larga escala e uma desinformação crescente que ameaça a sanidade coletiva.

Aliás, o tema «Cyber Warfare», incluído no novo disco, nasceu de um episódio concreto de ataque digital contra a própria banda: “Tivemos um ataque de bots quando a guerra russa começou com a Ucrânia. […] Milhares e milhares de bots atacaram o nosso Facebook.” Durante três dias, a banda esteve a apagar e bloquear comentários manipulados por contas falsas, num fenómeno que o líder dos DESTRUCTION classifica como um exemplo claro de guerra psicológica moderna: “Foi aí que surgiu a «Cyber Warfare». […] É absurdo como tantas pessoas podem ser manipuladas tão facilmente.”

No entanto, não é apenas o conteúdo lírico que tem captado atenções. Em palco, os DESTRUCTION continuam a provar que são um dos nomes mais devastadores do thrash europeu. Com uma formação sólida e uma energia que não cede à passagem do tempo, a banda promete um concerto memorável em Vagos — com um alinhamento que deverá equilibrar clássicos como «Curse The Gods», «Mad Butcher» e «The Antichrist», com o material novo de «Birth Of Malice».

A actuação insere-se num momento de intensa actividade para os germânicos, que continuam a girar o mundo com a mesma agressividade que os tornou lendários no início dos anos 80, ao lado de nomes como KREATOR, SODOM e TANKARD. Para Schmier, o metal continua a ser uma plataforma para resistir — não apenas ao tempo, mas à ignorância e ao medo. “Coloquem no poder pessoas que tenham algo a dizer. Pessoas que sejam inteligentes, que tenham estudado, que sejam cientistas. […] Pessoas que estejam lá por nós, os seres humanos”, apelou, numa frase que parece resumir não só a filosofia do novo LP como o espírito de combate que alimenta os melhores momentos do metal extremo.