DEFTONES: «White Pony», 21 ANOS DEPOIS

Hoje em dia, os DEFTONES já nem sequer precisavam de lançar mais qualquer álbum para termos a garantia que vão ficar para sempre na história da música. Ao longo das décadas, o grupo californiano hoje composto por Chino Moreno, Stephen Carpenter, Abe Cunningham, Frank Delgado e Sergio Vega construiu um fundo de catálogo de excepção, pontuado por diversos títulos incontornáveis para quem gosta de música pesada, mas também sonhadora e sensual. Vai daí, aproveitámos este momento de ânsia para celebrar – preparem-se psicologicamente – o seu clássico terceiro registo de longa-duração, «White Pony», que já cumpriu o marco dos primeiros vinte anos de existência.

Pedro C. Silva com José Miguel Rodrigues

Foi precisamente a um dia do início do Verão do ano 2000 que os Deftones lançaram o álbum que agora é considerado por muitos a pedra basilar da sua discografia. Sem dúvida que, com as sementes bem agressivas já lançadas no «Adrenaline», de 1995, e entretanto com algumas arestas polidas e novos elementos trazidos para o «Around The Fur», editado dois anos depois, foi nesse terceiro trabalho de estúdio que a banda mais se agarrou à sua veia experimental e se abriu a um novo mundo. Se nessa altura já eram tidos como uns dos líderes do infame movimento nu-metal, foi com este passo que se afastaram e partiram para um campeonato próprio. Nele demonstraram que, além daquele típico peso gingão entrosado por passagens mais dengosas, eram capazes de incorporar influências tão dispares como trip hop, dream pop e shoegaze, convertendo-as numa assinatura que já se esboçava e se tornou evidentemente própria.

A irreverência da juventude-revoltada-com-algo-a-provar queria sair pela janela e, na sua vez, surgiram (não as primeiras mas) das mais marcantes tentativas de explorar terreno inóspito: por exemplo, tanto não houve vergonha para a primeira música sem um único riff de guitarra distorcida («Teenager»), como as melodias vocais se tornaram mais predominantes, com nuances a piscar o olho à new wave ou até ao post punk. No entanto, e porque há que diferenciar esta ambição do que também se tornaria recorrente no estilo, este aparente suavizar não era sinónimo de amolecer, mas sim um amadurecimento que os colocaria além das suas próprias raízes. Assim, não é de estranhar que, depois do imenso sucesso comercial que já estavam a ter, tenham dado largas à imaginação – na realidade, esse foi precisamente um dos factores que lhes permitiu passar largos meses no estúdio a compor.

O «Around The Fur» tinha corrido muito bem em termos comerciais e, naquela altura, a indústria discográfica ainda estava de boa saúde, por isso tivemos um orçamento generoso para fazer o álbum”, revelou o baterista Abe Cunningham à LOUD!, na última incursão do grupo por solo nacional. “Teríamos sempre um orçamento decente, mas as coisas estavam a correr bem e isso levou a… Algumas distracções, sim.” Chino Moreno, a voz da banda, completa: “A verdade é que nos divertimos imenso. Não tínhamos uma ideia preconcebida do que queríamos fazer e, por isso, estávamos muito soltos em termos criativos. Acho que isso também contribuiu para que o processo se arrastasse, porque começámos a escrever sem uma direcção definida e isso nem sempre é produtivo. Felizmente, no nosso caso, até funcionou.” Não só funcionou como este é, até à data, o álbum dos Deftones que mais vendeu, alcançando a marca de disco de platina e, além da prolongada exposição mediática através dos seus singles («Change (In The House Of Flies)», «Back To School (Mini Maggit)» e «Digital Bath»), valeu-lhes ainda a única nomeação e consequente conquista de um Grammy por melhor performance metal com o tema «Elite».