DEFTONES

DEFTONES: Recordam o álbum «Deftones», de 2003 [entrevista exclusiva]

Editado a 20 de Maio de 2003, o álbum homónimo dos DEFTONES faz hoje 21 anos.

Surgidos em cena com o «Adrenaline», de 1995, foi com o sucessor «Around The Fur», editado uns dois anos depois, que os DEFTONES se tornaram um caso de sucesso à escala global. Apesar de ambos serem LPs que lhes permitiram destacar-se desde cedo dos seus parceiros da época, foi só no ano 2000, com a edição do «White Pony», que a banda de Sacramento protagonizou o verdadeiro ponto de viragem na sua carreira, dando um salto de fé que lhe permitiu libertar-se de vez da tendência à beira da implosão à qual foram associados em início de carreira.

Sempre visionário, Chino Moreno percebeu que aquelas letras auto depreciativas que muitos dos seus contemporâneos estavam a tentar vender iam tornar-se obsoletas e, inspirado por uma abordagem mais aventureira à escrita de canções, criou personagens que guiavam o ouvinte através de temas e cenários entre o sensual e o misterioso, capazes de envolver quem tivesse a mente suficientemente aberta para embarcar naquela maravilhosa viagem.

Foi essa abordagem inovadora, a que se juntou um leque de influências muito além do rap/rock, que deu aos DEFTONES a vantagem necessária para fazerem um LP que definiu uma era e, consequentemente, para assegurarem uma longevidade a que grande parte dos ex-pares da banda californiana só poderiam almejar. Ao longo das últimas duas décadas, não só perseveraram face a todos os contratempos com que se foram cruzando pelo caminho – desses rótulos infelizes às tensões internas que, na ressaca do sucesso em larga escala, quase os consumiram.

Editado a 20 de Maio de 2003, o «Deftones» foi gravado precisamente quando estavam a um passo de desintegrar-se e, aproveitando a última paragem da banda californiana em Portugal, para um concerto incluído no SBSR, sentámo-nos com o vocalista Chino Moreno e com o baterista Abe Cunningham num camarim nas entranhas da gigantesca MEO Arena para analisar o output discográfico do quinteto e hoje recuperamos o que nos disseram acerca do álbum homónimo de 2003, que comemora já 21 anos de existência.

Chino: Esse é um disco que divide opiniões. Há quem o adore e quem o odeie. Não sei, se calhar as pessoas precisaram de tempo para o digerir, mas a verdade é que marca o início daquilo a que chamamos “os dias negros”… Não só dos Deftones, mas também das nossas vidas pessoais. Andávamos em digressão há demasiado tempo, havia cada vez mais gente enfiada no seu próprio mundinho das drogas, houve pessoal que se casou nessa altura…

Abe: Até ali não tinha havido pausas, estávamos tão dedicados à banda que não tínhamos tempo para mais nada e, às tantas, deixou de ser divertido.

Chino: Fazer um álbum, nessa altura, foi um autêntico fardo. Não é que não curtíssemos estar uns com os outros, mas estava ali uma brecha para respirarmos um pouco e a última coisa que queríamos era voltar para um estúdio. Estava tudo com a cabeça noutro lugar. E eu fui um dos principais culpados disso, sem dúvida. Acabámos por fazê-lo e acho que até acaba por ser um disco cool, mas agora – quando ouço algumas canções e, sobretudo, quando leio as letras – vejo-me remetido para aquela altura.

É negro, muito depressivo, e, hoje, já não me identifico porque sou um tipo mais feliz. No outro dia estávamos a ensaiar a «Deathblow», que é uma canção fantástica, mas já não me lembrava da letra e fui à internet pesquisá-la… [risos] Li tudo e fiquei sem saber se queria cantar aquilo outra vez. É um reflexo daquela época, isso ninguém nos tira.

Abe: Acho que todos gostávamos de ter feito alguma coisa de forma diferente nesse disco. Lembro-me que estava tão cansado quando gravámos a «Mona» que, no final, fiz um único take do fill de bateria, saltei do banco e fugi do estúdio sem querer saber como ia ficar. E acho que ficou inacabado! [risos] A sério, até o título do álbum…

Chino: Sim, o álbum não se chama «Deftones» porque achássemos que seria uma boa representação da banda, mas porque não queríamos sequer chatear-nos a pensar nisso.

Abe: O que, verdade seja dita, é terrível.