DEFTONES

DEFTONES: «Adrenaline», o tiro de partida para uma carreira sem igual

Em declarações exclusivas à LOUD!, Chino Moreno e Abe Cunningham recordam o disco de estreia dos DEFTONES, que foi editado há 29 anos.

Hoje, mais de duas décadas depois, é inegável que o nu-metal foi responsável pelo regresso da música alternativa mais pesada ao zeitgeist mainstream pela primeira vez em muito tempo. No entanto, também não é segredo que a maioria das pessoas que assistiram à explosão da tendência parecem concordar que o estilo, ancorado na latente combinação de angústia superficial e arrogância forçada, acabou por não envelhecer tão bem quanto seria desejável.

Dúvidas restassem, basta olhar para a maioria dos grupos que, apesar de terem conseguido sobreviver à erosão dos anos, hoje só podem sonhar com o estatuto comercial de que gozaram outrora. Viajemos no tempo, duas décadas no passado, directamente de volta a 2000 — altura em que, em termos de música pesada fora do underground, o malfadado nu-metal dominava as preferências de uma geração apostada em usar roupa tão larga quanto possível e bonés de basebol vermelhos ao contrário.

Recordemos uma época em que as guitarras de afinação bem grave deixaram de ser um exclusivo apenas da música extrema, em que a raiva e a angústia do grunge se massificaram, como se “aquela” dor tivesse sido socialmente aceite como uma estranha forma de entretenimento. Após alguns anos de incubação, a nova coqueluche da música feita com guitarras começava a aproximar-se perigosamente do pico.

Foi em 2000 que foram editados incontáveis álbuns seminais dessa época. Os Limp Bizkit lançaram o seu «Chocolate Starfish And The Hotdog Flavored Water», os Linkin Park entraram em cena com o «Hybrid Theory», os Papa Roach transformaram-se num fenómeno com o «Infest» e até os medianos Disturbed provocaram ondas com o «The Sickness». Convenhamos, desses todos, que continuam todos no activo, o que nos servem é apenas um pálido reflexo do que fizeram na altura. AH! Depois temos os DEFTONES, que lançaram o magnum opus «White Pony» também em 2000.

Cinco anos antes, os DEFTONES tinham dado os primeiros passos no mainstream com a edição do álbum de estreia, intitulado «Adrenaline», no dia 3 de Outubro de 1995. “Estávamos muito entusiasmados com a ideia de fazer o nosso primeiro álbum“, confessou-nos o baterista Abe Cunningham na última passagem da banda por Portugal. “Foi um processo muito louco – tínhamos assinado contrato com uma editora a sério e íamos para um estúdio a sério, trabalhar com um produtor a sério. As coisas começaram a tornar-se reais. É óbvio que já tínhamos feito maquetas ao longo dos anos, mas agora era mesmo a sério.

Quando gravámos o primeiro disco ainda éramos muito, mesmo muito novinhos… Para ser sincero, nunca tínhamos estado num estúdio ‘a sério’ e nem sequer tínhamos o disco 100% completo quando começámos a gravar“, recordou Chino Moreno num camarim enfiado nas entranhas da gigantesca Altice Arena. “Há uma coisa engraçada, nunca cheguei a escrever letras. [pausa] Nas demos que tínhamos feito antes, metia a voz e tinha uma ideia muito vaga do que eram as letras, por isso, quando começámos a gravar, só sabia o que queria fazer em termos das melodias…

Tinha palavras na cabeça, algumas frases, mas era apenas isso. A ideia inicial era pôr tudo direito antes de gravar as vozes, mas acabou por nunca acontecer. Portanto, 60% do disco tem letras e nos 40% que sobram é tudo improvisado, na hora… O que está no livreto são só rabiscos. Se forem ver bem, percebem que está tudo aberto à interpretação“, revelou o líder dos DEFTONES entre risos.

Exemplo de uma vitalidade criativa que parece ter escapado a muitos – quase todos? – os músicos que ganharam relevância na viragem do milénio, os DEFTONES são um dos poucos grupos associados ao nu-metal que conseguiram libertar-se do rótulo a que foram inicialmente colados e que, à força de trabalho e talento, conseguiram desenvolver uma identidade própria que ninguém lhes pode negar. Exactamente por isso, ao longo das décadas transformaram-se num dos nomes maiores da música de peso, apoiados numa carreira sólida e intocável.