O regresso dos DEEZ NUTS a Portugal foi marcado por uma longa espera, mas que acabou por valer muito a pena. Os australianos foram, como tantas outras, uma das bandas com tour remarcada devido ainda a resquícios da pandemia, numa produção da Amazing Events. É sabido que a banda de Melbourne é sempre muito bem recebida por cá, tendo brindado o público português com intensos concertos ao longo dos anos, e havendo inclusivamente uma proximidade entre alguns dos seus músicos e a comunidade nacional do hardcore punk. Esta passagem em Lisboa marcou então o regresso à Europa do grupo à Europa, mas também a estreia em Portugal de outras duas bandas, numa noite em que se assistiu a um pit absolutamente incendiário. Devido a conflitos de agenda, os KUBLAI KHAN não conseguiram estar presentes, mas juntaram-se aos australianos os norte-americanos THE ACACIA STRAIN, de Massachusetts, os UNITY TX, directamente do Texas com a sua fusão de hardcore e hip-hop, e ainda os BROTHERS TILL WE DIE, de Madrid, com o seu beatdown. Não sendo estreantes em terras lusas, estes últimos já tiveram oportunidades de partilhar palcos lá fora com bandas como Madball, Sick Of It All, Nasty ou Comeback Kid, e já tocaram no Resurrection Fest. Nesta ocasião, trataram de confirmar essas credenciais com uma excelente abertura de noite.
Por seu lado, os UNITY TX acabaram por soar como uma lufada de ar fresco. É difícil passarem por cá digressões com bandas com o tipo de sonoridade que tocam, e o público não os poderia ter recebido de uma forma melhor — de tal forma que o próprio vocalista não resistiu a ir para o pit de microfone em punho para se juntar à acção. Com os THE ACACIA STRAIN passámos rapidamente para uma abordagem mais próxima do deathcore, mas o público não se fez rogado e a banda mostrou-se positivamente surpreendida pela forma como foi recebida. Apesar de ter passado por inúmeras alterações ao longo os seus mais de vinte anos de existência, isso não se notou absolutamente nada, com o grupo a apresentar uma solidez enorme. Tiveram tempo para tocar dois temas que ainda não tinham sido tocados ao vivo — a saber, «Untended Graves» e «Flourishing» — e, como o vocalista é igualmente membro dos Cockpunch, uma banda straightedge, não faltou também um pequeno discurso motivacional. Quando os DEEZ NUTS entraram por fim em cena, o público foi surpreendido com a notícia de que a banda estava perdida em relação ao que fazer — diversos dos seus elementos estavam doentes, e o baixista não conseguiu sequer subir ao palco para tocar. Mesmo assim, não quiseram deixar ficar mal quem pagou bilhete para ir ver um concerto que já tinha sido adiado há mais de um ano, e fizeram o que lhes foi possível. Sem baixista e com um público que puxou e sugou a sua energia ao máximo até ao último segundo, acabou por ser uma ocasião ainda mais especial. Entre stagedives e singalongs em temas como «Band Of Brothers», também não faltou a esperada homenagem a SK (Sean Kennedy, antigo baixista da banda, falecido em 2021) em «Purgatory», que se revelou o momento mais emotivo de uma grande noite.