Ainda muito novos, mas com mais de uma década de carreira nos ombros, os DEAD POET SOCIETY têm tido um percurso alucinante. Na sexta-feira, 16 de Fevereiro, estreiam-se em Portugal com um concerto no LAV – Lisboa ao Vivo e, em jeito de antecipação, estivemos à conversa com o grupo.
Os DEAD POET SOCIETY são uma daquelas bandas tão novinhas que nos deixam de queixo caído com o talento e a vontade de singrar que mostram. Do nada, apareceram com um álbum de estreia na Spinefarm em 2021, e apanham-nos de surpresa com uma abordagem ao rock pesado e aventureiro que nos faz lembrar a primeira vez que ouvimos os DREDG.
Tecnicamente astutos e sem colagens a rótulos demasiado óbvios, estes jovens norte-americanos são mais modernaços, mas misturam melodias orelhudas com riffs rock e, nas doses certas, embalam em compassos bem pesadões, mostrando uma capacidade enorme para encontrarem um ponto de equilíbrio perfeito entre o peso e a melodia pegajosa.
Depois de uma temporada de Verão muito bem-sucedida, que incluiu passagens por festivais tão badalados como o Welcome To Rockville e o Sonic Temple, os DEAD POET SOCIETY fizeram-se à estrada no início deste ano. Desta vez, a aplaudida banda de Los Angeles atravessou o Atlântico para um muito aguardado regresso ao velho continente e, pela primeira vez, faz uma paragem em Portugal, onde vai protagonizar um concerto único, agendado para o dia 16 de Fevereiro de 2024, no LAV – Lisboa Ao Vivo. Os bilhetes para o espectáculo estão disponíveis através da Ticketline.
Na bagagem, o quarteto formado por Jack Underkofler na voz e guitarra, Jack Collins na guitarra, Will Goodroad na bateria e Dylan Brenner no baixo traz a novidade «Fission», que sucede à aclamada estreia «-!-», mais conhecida como «The Exclamation Album», editada originalmente em 2021. Em conversa com o Goodroad, falámossobre o facto da banda formada em Boston – entretanto estabelecida em Los Angeles – já anda nestas andanças há mais de uma década e percebemos que «-!-» foi apenas o primeiro passo de um processo de crescimento sustentado.
Dois anos após a estreia já têm um novo álbum para promover.
É verdade! O dia começou agora, esta é a primeira entrevista de várias, por isso ainda estou fresco. E muito entusiasmado! [risos] Este disco é uma evolução muito boa do que temos vindo a fazer ao longo dos anos e gravámos um conjunto muito diverso de canções, por isso acredito que vai mostrar tudo aquilo que adoramos fazer – e do que somos capazes, também.
Cresceram imenso nos últimos tempos e 2019 foi um ano bastante importante para os Dead Poet Society. O que achas que por fim o click com as pessoas?
Acho que se resume, essencialmente, a duas coisas. Primeiro, lançámos um par de canções a que as pessoas reagiram muito bem e isso criou uma ligação forte da banda com o público e com algumas pessoas que nos ajudou imenso. Pessoal na indústria, que gostou do que ouviu, que se interessou por nós e percebeu o potencial.
Conseguimos um contacto com alguém que gere as playlists do Spotify, por exemplo, o que ajudou muito; depois, o vocalista dos Badflower, o Josh Katz, encontrou-nos através de um comentário que fizemos numa foto dele, adorou a «CoDA», e convidou-nos para fazermos uma tour com eles. Foi surreal, man. ‘Se queremos ir em digressão com os Badflower?! FUCK YEAH!’. [risos]
Estiveram no sítio certo à hora certa, portanto.
Eu gosto de pensar que pagámos as nossas dívidas e que é por isso que estamos aqui, mas acho que também tivemos alguma sorte, sem dúvida. O engraçado é que o nosso guitarrista já conhecia o baterista dos Badflower há uns dois anos, mesmo antes deles explodirem aqui nos Estados Unidos, por isso a ligação, de certa forma, já estava lá e isso ainda facilitou mais as coisas, porque eles dois já se conheciam.
A dimensão que têm não se compara à nossa, são muito mais populares e tocam para muito mais gente, por isso esses concertos foram cruciais para crescermos. Tocámos para muita gente que nem sabia que existíamos, conquistámos muitos ouvintes novos e, sem dúvida, isso criou um bom hype para o lançamento álbum. Além disso, divertimo-nos imenso, foram umas semanas mesmo muito bem passadas.
Os DEAD POET SOCIETY estão juntos há cerca de dez anos, correcto?
Mais! Comemorámos, entre aspas, o nosso 11.º aniversário no passado mês de Janeiro. O que é uma cena incrível, porque não sinto nada que tenha passado tanto tempo. É de loucos. Tipo, a sério?!
E porque é que esperaram oito anos para lançar o vosso álbum de estreia?
Acho que estivemos, essencialmente, à procura da nossa própria personalidade. Antes de gravarmos o «-!-», gravámos um par de EPs e depois, durante os últimos três ou quatro anos, começámos a lançar apenas singles, acho que lançámos uns seis ou sete no total.
E, nessa altura, tudo o que nos interessava era lançarmos conteúdo com a maior rapidez possível. Fazíamos dois por ano, e foi assim que nos fomos dando a conhecer, conseguimos afirmar o nosso nome e estabelecer uma base de seguidores, enquanto íamos definindo a identidade da banda.
Estavam bem cientes das movimentações do mercado, portanto.
Estamos atentos; porque, convenhamos, poucas são as bandas que conseguem ter algum impacto significativo logo com o primeiro álbum se não tiverem feito algum trabalho antes e nós queríamos ter a certeza que estávamos bem preparados, que as ideias estavam todas no sítio e as conseguíamos concretizar. Queríamos, por tudo, ter a certeza que faríamos algo de que nos pudéssemos orgulhar. Há cerca de quatro anos, começámos a sentir a necessidade de começar a pensar num disco e focámo-nos nisso.
E o que nos podes dizer sobre o novo álbum, «Fission»?
É engraçado, porque este foi bem diferente. A verdade é que nunca tínhamos tido que trabalhar com prazos rígidos e cenas assim. [risos]
Pois, desta vez não tiveram o luxo de ter oito anos para escrever um disco!
Sem dúvida. Ainda estávamos em digressão, em 2023, quando a editora nos contactou e disse que, passo a citar, “adorava ouvir umas três ou quatro canções novas”. A nossa primeira reacção foi – “MERDA!”. [risos]
Estamos num quarto de hotel sabe-se lá onde, eu ainda estou a lidar com uns problemas da noite anterior, estamos ressacados… Enfim, sabes como é. Eventualmente, os dois Jack enfiaram-se num quarto e escreveram a «Black And Gold», começou tudo a partir daí. Uns dias depois, escrevemos mais uma canção e foi interessante criar esse músculo, essa necessidade de sermos produtivos mesmo quando estamos em digressão.
Os DEAD POET SOCIETY a rabalhar sobre pressão, certo?
Isso mesmo. E nós somos mesmo muito obsessivos em relação ao que gostamos e ao que não gostamos, sabes? Somos muito perfeccionistas. Quando não tens um mês inteiro para trabalhar num tema, as coisas podem tornar-se bem intensas. Diria que uma grande maioria do disco foi criada do zero nestes últimos tempos. No entanto, o Jack também tem um arquivo enorme de ideias que foi acumulando ao longo dos anos, são horas e horas de material, que também nos inspiraram.
O som que exploram continua a ser o que tinham definido inicialmente para os Dead Poet Society ou o conceito sonoro foi evoluindo desde o momento em que se juntaram até agora?
Bem, eu acho que estamos sempre a tentar evoluir e crescer como compositores. Esse é o nosso objectivo principal, tornarmo-nos melhores a fazer o que fazemos. Portanto, acho natural que o som tenha mudado com a passagem dos anos.
Nós nunca escrevemos com um género ou com um tipo de som específico em mente, limitamo-nos a compor e, para ser sincero, acreditamos que a canção nos vai ditar o caminho que deve seguir. Tentamos nunca criar limitações para nós próprios, tentamos esquecer os parâmetros… E isso faz com que não haja momentos em que nos questionamos se o que estamos a fazer soa ou não como é suposto soar no contexto dos Dead Poet Society.
Acho que podemos descrever os DEAD POET SOCIETY como uma banda de rock, certo?
Correcto, sim.
Apesar disso, tentam sempre evitar os clichés do género e procuram alternativas ao paradigma, com apontamentos que, provavelmente, muita gente não esperaria de uma banda de rock.
Bem, antes de mais… Obrigado! Depois dás-me o teu endereço do PayPal. [risos] Não, a sério… Esses sempre foram aos meus “artistas” favoritos! Fossem realizadores de cinema, músicos ou pintores, skaters ou o que quer que fosse que me fascinasse em dado momento. Sempre tive essa tendência para gostar de pessoal que se tornava famoso por fazer uma coisa e, de um momento para o outro, mudava radicalmente. Adoro isso! Sempre adorei.
E vocês não impõem limites quando estão a criar, é isso?
Sim. Se uma canção for mais calma, tudo bem – é mais calma. Se for mais pop ou se for mais pesada, está tudo bem também. Essa, abordagem, por si própria acaba quase sempre por sugerir uma evolução. Dito isto, acho que, apesar de soarem muito distintos entre si, todos os temas deste álbum acabam por funcionar perfeitamente em conjunto, por isso deve haver algum fio condutor que eu, talvez por estar tão próximo do material, não consigo identificar.
Falaste no facto de não haver regras estanques para criarem as vossas canções, o que acaba por dar-vos uma liberdade enorme em termos criativos. Era isso que queriam para a banda?
Sinceramente? Acho que não. Não havia um plano, as coisas acabaram por acontecer assim. Logo no início, quando começámos a escrever juntos, o click foi quase imediato. Só sabíamos que todos queríamos compor canções e estar numa banda, além disso… Não sei.
Tivemos uma química brutal desde o primeiro momento em que entrámos numa sala de ensaio e pegámos nos instrumentos pela primeira vez, isso é certo, mas depois o resto aconteceu quase por instinto. Além disso, estávamos todos focados neste projecto de corpo e alma, estávamos apostados em fazer as coisas acontecerem, o que também foi decisivo. Em onze anos de banda, tivemos apenas uma mudança de formação, o que acho que diz bastante da nossa dedicação.