DAWNRIDER: “O espectro em que nos movemos é o do doom tradicional, o mais puro possível” [entrevista]

Doomsters confessos, os algarvios DAWNRIDER, cavalgam um som massivo e recheado de riffs. O seu quarto álbum, «The Fourth Dawn», é apresentado hoje à noite no RCA Club, em Lisboa. Como convidados, actuam os FILII NIGRANTIUM INFERNALIUM naquilo que será muito mais que um simples concerto de apresentação. Do lado dos FNI, por exemplo, a LOUD! sabe que o Lex Thunder, dos TOXIKULL, irá subir ao palco como convidado. Já no campo dos DWANRIDER, pode esperar-se a escuta das malhas de um disco que vai certamente rolar bastante pelas estradas portuguesas. Neste novo trabalho, o primeiro a ser editado pela Alma Mater Books & Records, a formação da banda surge renovada, com Hugo Conim, nas guitarras desde 2004, J.P. Ventura, na bateria, Diogo Simões, nos teclados e Filipe Relêgo, na voz e baixo. A LOUD! entrevistou o grupo – ou, pelo menos, parte dele.

De 2014 até hoje, os DAWNRIDER mudaram substancialmente de formação e não estiveram muito activos até surgir este novo disco.
Hugo Conim: A banda nunca parou. No entanto, houve algumas mudanças.
J.P. Ventura:Eu entrei em 2014.
Hugo: O Diogo entrou a seguir, e o Filipe, o “Viking”, veio tocar baixo connosco em 2016. É malta que está na banda há bastante tempo e nunca parámos de tocar. A separação de tempo entre os dois discos, deveu-se a circunstâncias normais e este novo álbum já está gravado desde 2019. Acontece que, devido à pandemia, esteve dois anos parado, à espera de ser lançado.

Quando começou a ser preparado?
Filipe Relêgo: Fomos preparando as coisas, porque a formação é diferente. Havia muita coisa feita, mas com a saída de um dos membros tivemos de fazer coisas de novo, o que demorou um pouco mais. Como o Hugo diz, em 2019 estava já tudo gravado e masterizado. Estivemos sempre a trabalhar e com concertos, o que demorou mais foram mesmo as alterações na banda.
Hugo: Fizemos a captação no Verão de 2019, e depois terminámos a masterização em Dezembro desse ano. O disco tem cerca de dois anos.
J.P.: A masterização com o Tony Reed foi feita já em inícios de 2020.
Hugo: Já havia uma masterização, mas achámos que o Tony Reed podia levar o som e a produção do disco a outro nível – o que, de facto, aconteceu. Acho que foi uma grande aposta por parte da Alma Mater.

Em que momento surge a editora na equação?
Hugo: Num momento em que já tínhamos feito a captação. Não estava nem um pouco mais ou menos terminado. Fizemos uma primeira mistura e mandei-a ao Fernando para ouvir. Tudo aconteceu porque o meu amigo Tann, dos Ironsword, ouviu os temas e achou que íamos ser uma banda que ia ficar bem na editora. Ele foi a ponte entre mim e o Fernando.

O vosso som foi evoluindo.
Hugo: Os dois primeiros discos são muito mais rock e hard rock, com influências dos anos 70, do que estes últimos dois. Estes são discos com a influência dos anos 70, mas muito mais direcionados para o espectro do metal. Claro que não tocamos um doom pesado, fazemos algo mais tradicional. Neste disco até temos umas pitadas de NWOBHM. Temos rock no nosso doom, mas o espectro em que nos movemos é o do doom metal tradicional, o mais puro possível.

Como se desenvolve o trabalho de composição?
Filipe: Desenvolvemos o trabalho em conjunto. Há uma ideia que parte do Hugo ou de qualquer um de nós. Trabalhamos as coisas e, depois, vemos o que resulta melhor para a música. No que toca a letras, sou eu que as escrevo. Partilho-as com eles para perceber se gostam ou não, e se pode dar-se outro rumo. Vamos trabalhando, discutindo uns com os outros. Como uma família, temos uma parte disfuncional e é isso que torna também as coisas interessantes. Fazendo críticas construtivas e trazendo opiniões positivas, trabalhando para o todo e sem haver uma rigidez. Improvisamos muito e fazemos muitas jams. Gostamos de trabalhar em conjunto.

Este tipo de som cresce muito do entrosamento dos músicos nos ensaios.
Hugo:
Completamente. Os Dawnrider fazem música de feeling. Aí temos a componente do rock dos anos 70, em que trabalhamos muito o feeling do riff.

Funciona melhor a mudança para um vocalista que também é instrumentista, neste caso, baixista?
Hugo: É um som completamente diferente e gosto disso para não comparar com o passado. O Xico era um bom frontman, com outra abordagem. Agora, com o Filipe a tocar baixo e a cantar, a situação é completamente diferente. O próprio concerto é um bocado diferente, exactamente por causa disso. A postura de um vocalista que é músico é completamente diferente de teres um vocalista livre para fazer o que quiser. A imagem ao vivo fica um pouco diferente, apesar do som não ter mudadoo nada. Este disco é uma evolução natural do «Third Crusade». Entretanto, já temos o quinto álbum praticamente composto, porque como banda não parámos de ensaiar. E está na linha destes últimos dois.

Referes um quinto trabalho, e vais ter de fazer uma referência a um pentagrama, ou algo do género, já que os títulos têm vindo a ser analogias ao número do álbum. Como apareceu essa ideia?
Hugo: Com o «Alfa Chapter», o título surgiu, creio que, sugerido pelo Chico, e todos gostámos do nome em si. A partir do «Two» já foi propositado. O «Third Crusade» foi por seguimento do conceito,e este também. Para o quinto álbum temos músicas, mas ainda não há letras, nem pensámos nisso.

Este concerto de Lisboa o primeiro que fazem para apresentar o álbum.
Hugo: Sim; depois, a 30 de Abril, vamos tocar no Bafo de Baco, em Loulé, com uns amigos nossos, os Wolfcrown, que são espanhóis. Mas sim, o primeiro será este em Lisboa.

Em que se juntam aos Filii Nigrantium Infernalium. Posso encontrar argumentos para as duas bandas partilharem o palco, mas para os leigos até pode parecer um cartaz estranho.
Hugo: Eu não acho que seja. Para começar, são duas bandas bastantes diferentes, cada uma no seu mundo, dentro de espectros diferentes do underground. Depois somos todos amigos e a associação vem por aí. Ambos gostamos das bandas uns dos outros.

Que expectativas têm, agora com um selo como a Alma Mater por trás?
J.P.: Eles têm-se mexido bem, temos tido diversas entrevistas, o vídeo teve publicação internacional. Revelaram-se uma mais-valia.

Existe essa vontade de fazer algo fora de portas ou ficam só pela edição?
J.P.: Já houve convites para Espanha e era fixe ir até à Alemanha ou a Inglaterra.
Hugo: Nós gostamos de estrada e de tocar ao vivo também. Se nos convidarem, vamos. Anteriormente tive propostas para passar fronteiras, que não se concretizaram devido a elementos da banda e a circunstâncias de vida. Com a forma como a Alma Mater está a operar, com um trabalho brutal, acho que não vão faltar propostas para ir aqui e ali.