A trajectória de mais de quatro décadas de Mustaine com os MEGADETH chega ao capítulo final, mas não sem memórias marcantes e ecos de um passado que mudou o metal para sempre.
O anúncio feito ontem, quinta-feira, dia 14 de Agosto, no site oficial dos MEGADETH confirmou aquilo que muitos fãs temiam e, ao mesmo tempo, aguardavam com ansiedade: a banda vai embarcar numa digressão mundial de despedida, acompanhada do lançamento de um 17.º e último álbum de estúdio, ainda sem título ou data de edição revelados.
O comunicado, assinado pelo próprio Dave Mustaine, mistura emoção, gratidão e um piscar de olho à sua história nos METALLICA, grupo do qual foi expulso no início da década de 80, mas que acabou por ser um catalisador para a fundação do seu próprio legado. No fecho da mensagem, Mustaine escreve: “Fizemos muitos amigos ao longo dos anos e espero ver todos vocês na digressão mundial de despedida. Não fiquem zangados, não fiquem tristes, fiquem felizes por todos nós, venham comemorar comigo nos próximos anos.
Fizemos algo juntos que é verdadeiramente maravilhoso e que, provavelmente, nunca mais acontecerá. Começámos um estilo musical, começámos uma revolução, mudámos o mundo da guitarra e como ela é tocada, e mudámos o mundo. As bandas em que toquei influenciaram o mundo. Amo-vos a todos por isso. Obrigado por tudo.”
A frase “as bandas em que toquei influenciaram o mundo” tem sido interpretada por muitos como uma subtil referência aos METALLICA, onde Dave Mustaine esteve antes de fundar os MEGADETH. Embora seja sabido que a relação entre as duas bandas sempre foi marcada por anos de tensões, rivalidades e reconciliações pontuais, a ligação histórica é inegável. Durante a passagem pelos METALLICA, Mustaine contribuiu para a composição de seis músicas que viriam a ser editadas nos clássicos «Kill ’Em All», de 1983, e «Ride The Lightning», de 1984, já após ter sido afastado devido a conflitos internos e problemas relacionados com álcool e drogas.
O anúncio da despedida encerra um ciclo iniciado em 1983, quando Mustaine lançou o primeiro álbum dos MEGADETH, «Killing Is My Business… And Business Is Good!», abrindo caminho para um percurso que marcaria profundamente a evolução do thrash. Discos como «Peace Sells… But Who’s Buying?», «Rust in Peace» e «Countdown to Extinction» não só se tornaram clássicos absolutos, como também ajudaram a definir padrões técnicos e criativos para o género.
Ao longo de mais de quatro décadas, os MEGADETH conquistaram vários Grammys, venderam milhões de discos e tocaram para multidões em todos os continentes, mantendo-se como um dos quatro grandes nomes do thrash ao lado dos METALLICA, SLAYER e ANTHRAX. A relação de Dave Mustaine com os fãs sempre foi directa e, muitas vezes, emocionalmente carregada — algo que transparece nas suas palavras de despedida, mais conciliatórias do que nostálgicas.
Apesar do peso da notícia, a despedida não será imediata. Mustaine deixou claro que a digressão será extensa, percorrendo o mundo nos próximos anos, o que permitirá que diferentes gerações de fãs possam celebrar o seu legado ao vivo. O novo álbum, cuja data e detalhes ainda não foram divulgados, promete ser o derradeiro capítulo de uma carreira marcada por técnica apurada, composições icónicas e uma personalidade irreverente.
Se, nos primórdios, a separação do METALLICA foi vista como uma queda abrupta, hoje em dia é difícil não reconhecer que esse episódio acabou por originar dois dos maiores pilares da história do metal. E agora, com a cortina a começar a fechar-se sobre os MEGADETH, a história de Dave Mustaine parece prestes a ganhar o seu epílogo — com dignidade, reconhecimento e, talvez, reconciliação.















