Veterano do metal e do punk, DANZIG expressa frustração com a indústria e incerteza quanto ao seu futuro criativo.

Num momento de rara franqueza, Glenn Danzig — figura lendária do punk e do heavy metal — deixou no ar uma declaração que pode marcar o fim de uma era: “Não sei se alguma vez voltarei a gravar música nova”. A revelação surgiu durante uma entrevista ao programa de rádio Full Metal Jackie, onde o vocalista falou não só do regresso de DANZIG aos palcos, como também das profundas mudanças na indústria musical e do seu próprio desencanto com o atual panorama.

A conversa teve como pano de fundo a curta digressão que DANZIG fez recentemente na Costa Oeste dos Estados Unidos, com passagem por cidades que a banda não visita há anos. Acompanhado por nomes de peso como DOWN, ABBATH e CRO-MAGS, o músico deixa claro que esta série de seis datas é uma excepção e não o prenúncio de um regresso em força aos palcos. “Eu não gosto muito de andar em digressão”, confessou. “Não me importo de fazer um ou outro concerto isolado, mas andar por aí numa carrinha ou num autocarro… já disse isto antes: não é algo que me entusiasme.”

Glenn Danzig referiu ainda os desafios logísticos que têm vindo a marcar as suas últimas actuações, entre os quais se contam o cancelamento de um espectáculo em Phoenix devido à escassez de autocarros disponíveis, o que obrigou a um reajuste em toda a rota da digressão. “Vamos compensar esse concerto de Phoenix. E muitos fãs têm-nos perguntado por que não vamos ao Noroeste ou a São Francisco. Por isso estamos a tentar corrigir isso agora. E depois será tudo por um bom tempo.”

Mais do que simples nostalgia, a visão de DANZIG sobre o passado reflecte bem o contraste brutal com a realidade actual das tours. “Tudo está bastante mais caro. Em 2022 ou 2023, quando fizemos apenas alguns concertos, o preço dos autocarros e da gasolina disparou. E agora está ainda pior. Penso que está a tornar-se cada vez mais difícil para as bandas irem em digressão.” Para bandas emergentes, a situação é ainda mais dura. “Eles têm de andar em digressão numa carrinha — como nós fazíamos nos primeiros tempos dos SAMHAIN e dos MISFITS. Era tudo o que conseguíamos pagar.”

No enanto, é na questão da criação musical que o tom se torna mais sombrio. Questionado sobre se há planos para novas gravações, a resposta foi directa: “Não.” E não se ficou por aí. Glenn explicou que nem sequer está focado em tocar ao vivo, quanto mais gravar. “Fiz seis concertos. Se isso é digressão, então o que fazíamos antes devia ser uma mega digressão. Íamos para a estrada durante três, quatro, cinco, seis meses.”

Além disso, músico apontou ainda o grande declínio das vendas de formatos físicos e a proliferação de downloads ilegais como razões fundamentais para o seu afastamento do estúdio. “A verdade é que tudo mudou dramaticamente. As pessoas já não compram discos. Só querem fazer downloads gratuito. Por isso, não há grande incentivo para gravar música nova — a não ser que esteja no estúdio e me apeteça oferecer algo gratuitamente a toda a gente. Mas não sei se isso é um bom modelo de negócio.”

Ainda assim, Glenn continua a compor — embora não necessariamente para DANZIG. “Sim, claro que continuo a escrever. Mas escrevo muitas coisas diferentes.” Apesar disso, a perspectiva de um novo disco da banda parece remota. “Não vejo a indústria musical a mudar. Por isso, não sei se voltarei a gravar, pelo menos coisas dos DANZIG. Talvez um dia. Mas neste momento, não sei.” Infelizmente, a incerteza de Glenn Danzig ecoa como um presságio sobre o futuro do rock e do metal à medida que estas figuras icónicas do peso enfrentam uma indústria em mutação acelerada.